leituras literárias - ProJovem Urbano
leituras literárias - ProJovem Urbano
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LEITURAS LITERÁRIAS<br />
Oficina 5
Presidente da República<br />
Luiz Inácio Lula da Silva<br />
Vice-Presidente da República<br />
José Alencar Gomes da Silva<br />
Secretaria-Geral da Presidência da República<br />
Luiz Soares Dulci<br />
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome<br />
Patrus Ananias<br />
Ministério da Educação<br />
Fernando Haddad<br />
Ministério do Trabalho e Emprego<br />
Carlos Lupi<br />
Secretaria-Geral da Presidência da República<br />
Ministro de Estado Chefe Luiz Soares Dulci<br />
Secretaria-Executiva<br />
Secretário-Executivo Antonio Roberto Lambertucci<br />
Secretaria Nacional de Juventude<br />
Secretário Luiz Roberto de Souza Cury<br />
Coordenação Nacional do Programa Nacional<br />
de Inclusão de Jovens – <strong>ProJovem</strong> <strong>Urbano</strong><br />
Coordenadora Nacional Maria José Vieira Féres
Presidência da República<br />
Secretaria-Geral<br />
Secretaria Nacional de Juventude<br />
Coordenação Nacional do <strong>ProJovem</strong> <strong>Urbano</strong><br />
LEITURAS LITERÁRIAS<br />
Programa Nacional de Inclusão de Jovens<br />
Brasília, DF<br />
2008
Copyright © 2008<br />
Permitida a reprodução sem fins lucrativos, parcial ou total, por qualquer meio, se citada a fonte<br />
e o sítio da Internet onde pode ser encontrado o original (www.projovemurbano.gov.br).<br />
Coleção <strong>ProJovem</strong> <strong>Urbano</strong><br />
Elaboração e Organização<br />
Equipe Técnica<br />
Coordenação Nacional do <strong>ProJovem</strong> <strong>Urbano</strong> – Assessoria Pedagógica<br />
Cláudia Veloso Torres Guimarães<br />
Luana Pimenta de Andrada<br />
Leila Taeko Jin Brandão<br />
Jazon Macêdo<br />
Organização<br />
Cláudia Veloso Torres Guimarães<br />
Eleuza Maria Rodrigues Barboza<br />
Fabiana Carneiro Martins Coelho<br />
Maria Umbelina Caiafa Salgado<br />
Luana Pimenta de Andrada<br />
Leila Taeko Jin Brandão<br />
Autores – Língua Portuguesa<br />
Sandra Maria Andrade del-Gaudio<br />
Terezinha Maria Barroso Santos<br />
Revisão<br />
Leandro Bertoletti Jardim<br />
Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica<br />
Luiza Sarrapio
1<br />
1<br />
LEITURAS LITERÁRIAS<br />
Oficina 5<br />
LEITURAS LITERÁRIAS<br />
LENDAS – UMA FORMA DE EXPLICAR O<br />
MUNDO (parte I)<br />
Antecipando sentidos dos textos<br />
Lendo os textos<br />
Texto I<br />
Abaixo você vai ler uma lenda de origem grega,<br />
que foi recontada por uma escritora brasileira chamada<br />
Ana Maria Machado. A lenda se chama A tapeçaria<br />
de Aracne.<br />
Segundo a lenda grega, Aracne era uma jovem tecelã que<br />
vivia na Lídia, em uma região da Ásia Menor. Seu trabalho<br />
era tão perfeito que, em toda região, Aracne ganhou fama<br />
de ser a melhor na arte de fiar e tecer a lã.<br />
A tapeçaria de Aracne<br />
Há três mil anos, não havia explicações<br />
científicas para grande parte dos<br />
fenômenos da natureza ou para os<br />
acontecimentos históricos. Para buscar<br />
um significado para os fatos políticos,<br />
econômicos e sociais, os gregos<br />
criaram uma série de histórias, de origem<br />
imaginativa, que eram transmitidas,<br />
principalmente, por meio da literatura<br />
oral.<br />
Lenda grega recontada por Ana Maria Machado<br />
Há muito tempo, na Grécia Antiga, contavam que Palas, a deusa da sabedoria<br />
(que mais tarde os romanos chamariam de Minerva), ensinava<br />
todos os segredos de fiação e tecelagem a uma moça chamada Aracne.<br />
Aracne era de origem humilde, mas se tornou tão habilidosa com fios e<br />
tramas, que até as ninfas dos bosques e dos rios vinham vê-la trabalhar.<br />
Não só porque os tecidos que fazia eram incomparáveis, mas até porque<br />
a graça de seus movimentos tinha a beleza de uma arte; desde<br />
quando puxava os chumaços de lã ou de cânhamo, até quando fazia<br />
novelos e meadas. E, principalmente depois, quando a linha macia e<br />
longa se convertia em belos panos num tear, ou era ricamente bordada<br />
em desenho divinos. Divinos, sim. Pois todos os que viam o trabalho de Aracne, logo concluíam<br />
que ela aprendera seu ofício com Palas, e cobriam a deusa de louvores.<br />
Ora, quanto mais atenção atraía, mais Aracne se ofendia com os elogios a Palas e negava<br />
qualquer mérito à deusa. Até que certo dia acabou exclamando:<br />
– Sou muito melhor tecelã que Palas! Se ela viesse competir comigo, todos iam ver isso.<br />
E, se me vencesse, poderia fazer comigo o que quisesse. Antes de aceitar o desafio, a deusa<br />
se disfarçou e veio visitar Aracne, sob a forma de uma velha, aconselhando-a a respeitar a<br />
experiência e a sabedoria dos anciãos e a reconhecer a superioridade dos deuses:<br />
– Se você se arrepender de suas palavras, e pedir perdão, tenho certeza de que Palas a<br />
perdoará – disse.
– Você está é de miolo mole, sua velha! Quer dar conselho? Vá procurar suas netas. Eu me<br />
defendo sozinha. Palas tem medo de mim. Se não tivesse, já teria vindo me enterrar.<br />
A velha deixou cair o disfarce e se revelou em todo o seu esplendor:<br />
– Pois Palas veio, sua tonta!<br />
As ninfas e todas as mulheres se prostraram diante da deusa, mas Aracne manteve seu<br />
desafio. Sem perder tempo, cada uma das duas foi para um canto do enorme salão, com seus<br />
novelos, meadas, fios e seu tear.<br />
Durante muito tempo, uma belíssima tapeçaria foi surgindo em cada tear. Palas fez questão<br />
de ilustrar em seu bordado todas as histórias de mortais que tinham desafiado os deuses<br />
e os terríveis preços que tiveram de pagar por isso. Aracne, por outro lado, mostrou em sua<br />
tapeçaria os inúmeros crimes que os deuses já tinham cometido, recriados com exatidão e<br />
minúcia de detalhes. Cada uma, ao final, rematou seu trabalho com preciosa moldura tecida.<br />
Ninguém se surpreendeu com a perfeição da obra de Palas. Mas quem ficou surpresa foi<br />
a deusa, pois por mais que procurasse o mínimo defeito na obra de Aracne, não conseguia<br />
encontrar uma única falha. Com raiva, bateu várias vezes com seu bastão na testa da tecelã.<br />
Não suportando a dor, Aracne passou um fio no pescoço para se enforcar. Mas Palas teve<br />
pena e a segurou suspensa no ar, dizendo:<br />
– Você tem má índole e é vaidosa, mas tenho que respeitar sua arte. Não admito que morra.<br />
Porém, você e seus descendentes viverão sem-pre assim, suspensos o tempo todo.<br />
E, ao partir, borrifou-lhe uma poção, que fez o cabelo da moça cair, a cabeça e o corpo<br />
encolherem, os dedos crescerem, e a transformou, para sempre, numa aranha, condenada a<br />
fabricar fio e teia, até o final dos tempos. Sempre com perfeição incomparável.<br />
1. A lenda que você leu pode ser dividida em três grandes partes:<br />
1ª parte – A autora apresenta o cenário geral onde se passa a história, descreve a personagem<br />
Aracne, sua habilidade para tecer, a admiração que todos tinham pelo seu trabalho<br />
e como ela era vaidosa.<br />
2ª parte – A autora apresenta a seqüência de ações decorrentes do fato de Aracne não<br />
reconhecer a superioridade da deusa Palas.<br />
3ª parte – A autora apresenta o desfecho da história.<br />
Localize essas partes, completando o quadro abaixo:<br />
A 1ª parte começa em: ____________________________________________ e termina<br />
em: ________________________________________________.<br />
A 2ª parte começa em: ____________________________________________ e termina<br />
em: ________________________________________________.<br />
A 3ª parte começa em: _______________________________________________ e termina<br />
em: ________________________________________________.<br />
2. Foque na 2ª e 3ª partes, para colocar em ordem os fatos na narrativa:<br />
( ) A competição.<br />
( ) Atenas revela-se.<br />
( ) O que Aracne tece.<br />
( ) O que Atena tece.<br />
( ) Desfecho da história.<br />
2<br />
OFICINA 5
3. Para que uma história seja reconhecida como uma lenda ela deve apre-sentar algumas<br />
características:<br />
1. envolver personagens humanos e sobrenaturais;<br />
2. explicar algum fenômeno do mundo ou o surgimento de algo;<br />
3. ser uma história fantasiosa, fictícia.<br />
Numere o quadro abaixo de acordo com os itens acima:<br />
Lenda: A tapeçaria de Aracne<br />
Os fatos narrados são impossíveis de acontecer no mundo real.<br />
A lenda explica a existência da aranha.<br />
Um personagem é uma deusa: Palas, e a outra, Aracne, é humana.<br />
4. Vimos que, por intermédio das lendas, um povo busca explicar fenômenos da natureza, a<br />
existência de seres ou coisas que habitam o seu mundo, ou seja, diante do inexplicável, o<br />
homem inventa uma história. O que a lenda de Aracne pretende explicar?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
5. A lenda se desenvolve em torno da disputa entre Aracne e Palas sobre quem é a melhor<br />
tecelã. Por esse motivo, informações sobre tecelagem são muito presentes na lenda de<br />
Aracne. Identifique palavras ou expressões ligadas à idéia de tecelagem.<br />
6. Em Ciências, aprendemos que as aranhas fazem parte da classe dos aracnídeos. De onde<br />
vem esse nome?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
7. A imagem que ilustra a lenda faz referência à Aracne. Como o pintor representa a figura<br />
da personagem da lenda?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
3<br />
LEITURAS LITERÁRIAS
2<br />
LENDAS – UMA FORMA DE EXPLICAR O<br />
MUNDO (parte II)<br />
Antecipando sentidos dos textos<br />
1. Alguns sentimentos humanos são representados na lenda de Aracne. Quais? Quem os<br />
tem? Por quê? Complete o quadro abaixo:<br />
vaidade<br />
admiração<br />
pena<br />
Qual sentimento? Quem os tem? Por quê?<br />
Palas, porque não havia nenhum defeito no trabalho de Aracne.<br />
Palas, porque Aracne não reconheceu a superioridade da deusa.<br />
Refletindo sobre a língua<br />
1. Leia o resumo da lenda abaixo e depois responda.<br />
Palas era a deusa da sabedoria. Palas vivia na antiga Grécia. Um dia, Palas<br />
resolveu ensinar os segredos da fiação e tecelagem a uma moça chamada Aracne.<br />
Aracne era de origem humilde, mas Aracne se tornou tão habilidosa quanto<br />
Palas. As ninfas dos bosques e dos rios vinham ver Aracne trabalhar e ficavam<br />
encantadas com a beleza dos trabalhos de Aracne. A fama de Aracne foi tanta,<br />
que Aracne passou a se sentir mais importante do que Palas. Furiosa com a<br />
atitude de Aracne, Palas resolveu passar uma lição em Aracne, transformando<br />
Aracne e os descendentes de Aracne em aranhas.<br />
a) Você acha que o autor do resumo cometeu algum erro na hora de escrevê-lo? Qual?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
b) Reescreva o resumo, fazendo as alterações necessárias para resolver o problema que<br />
você encontrou:<br />
4<br />
OFICINA 5
Texto II<br />
O texto que você vai ler é uma versão moderna do gênero lenda, chamada de lenda urba-<br />
na. Antes disso, informe-se sobre esse gênero, lendo a definição, adaptada da enciclopédia<br />
digital Wikipédia, no quadro a seguir:<br />
Lenda urbana<br />
Lendas urbanas, mitos urbanos ou lendas contemporâneas<br />
Lendas urbanas, mitos urbanos ou lendas contemporâneas são pequenas histórias<br />
de caráter fabuloso ou sensacionalista amplamente divulgadas de forma oral, através<br />
de e-mails ou da imprensa, e que constituem um tipo de folclore moderno. São freqüentemente<br />
narradas como sendo fatos acontecidos a um “amigo de um amigo” ou<br />
de conhecimento público.<br />
Muitas delas já são bastante antigas, tendo sofrido apenas pequenas alterações ao<br />
longo dos anos. Muitas foram traduzidas e incorporadas de outras culturas. É o caso<br />
de, por exemplo, a história da loira do banheiro, lenda urbana brasileira que fala sobre<br />
o fantasma de uma garota jovem de pele muito branca e cabelos loiros, que costuma<br />
ser avistada em banheiros, local onde teria se suicidado ou, em outras versões, sido<br />
assassinada.<br />
Outras dessas histórias têm origem mais recente, como as que dão conta de homens<br />
seduzidos e drogados em espaços de diversão notur-na que, ao acordarem no<br />
dia seguinte, descobrem que tiveram um de seus rins cirurgicamente extraído por uma<br />
quadrilha especializada na venda de órgãos humanos para transplante.<br />
Muitas lendas urbanas são, em sua origem, baseadas em fatos reais (ou preocupações<br />
legítimas), mas, geralmente, acabam distorcidas ao longo do tempo.<br />
Suas características principais seriam:<br />
• são narrativas (geralmente pequenas histórias, porém bem estruturadas);<br />
• apresentam sempre testemunhas e provas supostamente existentes;<br />
• quem as conta geralmente as ouviu de alguém e, quando a pessoa repassa a história,<br />
costuma confirmá-la, como se tivesse sido vivida por ela mesma.<br />
Lenda urbana<br />
A loira do banheiro<br />
“Esta lenda é muito conhecida, qualquer um já deve ter ouvido falar nela nos corredores<br />
de uma escola. Ela é muito comentada, mas tam-bém incerta, existem muitas<br />
versões para ela. Uma delas diz que uma menina loira muito bonita vivia matando aula<br />
na escola, ficando dentro do banheiro, fumando, fazendo hora, enfim. Então, um dia,<br />
durante essas escapadas, ela caiu, bateu com a cabeça e morreu. Desde esse dia, os<br />
banheiros femininos de escolas são assombrados pelo espírito de uma loira que aparece,<br />
quando se entra sozinho. Outros dizem que essa loira aparece com o rosto cheio de<br />
cicatrizes e fere as garotas; ou aparece com algodão no nariz, pedindo para que tirem.<br />
Também há a crença de que, se você chamar a loira, tantas vezes, em frente ao espelho,<br />
ela vai aparecer. É uma história complicada, mas é uma das lendas bem antigas que<br />
fazem parte da vida de qualquer estudante”.<br />
5<br />
LEITURAS LITERÁRIAS<br />
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.<br />
1. Para que uma história seja reconhecida como uma lenda urbana, ela deve apresentar algumas<br />
características:<br />
1. ser uma narrativa pequena, bem estruturada;<br />
2. apresentar sempre testemunhas e provas de que a história realmente aconteceu;<br />
3. ser uma história ouvida e confirmada por várias pessoas.
Numere o quadro abaixo de acordo com os itens acima:<br />
Lenda: Lenda Urbana<br />
A narrativa é curta, de fácil entendimento, porque o fato narrado é<br />
compreendido sem problemas.<br />
A lenda faz parte da vida de qualquer estudante, que jura ter passado<br />
pela experiência de ter visto a loira.<br />
Vários estudantes contam a história da loira por terem ouvido dizer.<br />
A lenda diz que a loira pode aparecer de várias maneiras para as pessoas no banheiro. Complete<br />
o quadro com as versões do texto:<br />
1ª versão<br />
2ª versão<br />
3ª versão<br />
4ª versão<br />
Versões para o aparecimento da loira<br />
Produzindo textos<br />
Certamente, você conhece algumas lendas urbanas. Conte algumas para seus colegas<br />
de sala. Em seguida, com base na Atividade 1, escreva uma LENDA URBANA que o tenha<br />
impressionado.<br />
6<br />
OFICINA 5
3<br />
Lendo o texto<br />
APÓLOGO – OUTRA FORMA DE SIMBOLIZAR<br />
O MUNDO (parte I)<br />
Texto I<br />
O texto abaixo pertence ao gênero apólogo. Nele, é narrada uma discussão entre dois<br />
personagens. O autor deste texto é Machado de Assis.<br />
Apólogo é uma narrativa curta, que se parece com a fábula. No apólogo,<br />
como na fábula, na conclusão do texto, há uma lição de moral, que<br />
tem uma finalidade educativa. O que diferencia esses gêneros é que, no<br />
apólogo, os personagens são seres inanimados – objetos – e, na fábula,<br />
são animais. Os objetos são mostrados com características e comportamentos<br />
humanos.<br />
Um apólogo<br />
Machado de Assis<br />
ERA UMA VEZ uma agulha, que disse a um novelo de linha:<br />
A – Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma<br />
cousa neste mundo?<br />
L – Deixe-me, senhora.<br />
A – Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável?<br />
Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.<br />
L – Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que<br />
lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e<br />
deixe a dos outros.<br />
A – Mas você é orgulhosa.<br />
L – Decerto que sou.<br />
A – Mas por quê?<br />
L – É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose,<br />
senão eu?<br />
A – Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu,<br />
e muito eu?<br />
L – Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição<br />
aos babados...<br />
A – Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxan-do por você, que vem<br />
atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...<br />
L – Também os batedores vão adiante do imperador:<br />
A – Você é imperador?<br />
L – Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai<br />
só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obs-curo e ínfimo. Eu é que prendo, ligo,<br />
ajunto...<br />
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto<br />
se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás<br />
dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha<br />
7<br />
LEITURAS LITERÁRIAS
na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que<br />
era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana – para<br />
dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:<br />
A – Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta<br />
costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles,<br />
furando abaixo e acima...<br />
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por<br />
ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A<br />
agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo<br />
silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic plic-plic da agulha no pano.<br />
Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no<br />
outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.<br />
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava<br />
a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E quando compunha o<br />
vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando,<br />
acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:<br />
L – Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do<br />
vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você<br />
volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.<br />
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência,<br />
murmurou à pobre agulha:<br />
– Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto<br />
aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.<br />
Onde me espetam, fico.<br />
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:<br />
– Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!<br />
Construindo sentidos para o texto<br />
Obra completa. V. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, pp. 554-556.<br />
1. Responda:<br />
a) O texto lido pertence ao gênero apólogo. Nele não há animais como personagens. Quais<br />
são os dois personagens principais do apólogo?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
b) O apólogo é uma narrativa. Nas narrativas, aparece a figura daquele que conta a história –<br />
o narrador. Retire do texto algumas passagens em que o narrador aparece.<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
c) No texto, o narrador é um homem ou uma mulher?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
d) Marque a resposta certa:<br />
Pelas passagens destacadas na resposta b, o narrador escreve na _______________________<br />
(1ª pessoa do singular/1ª pessoa do plural/3ª pessoa do singular).<br />
8<br />
OFICINA 5
2. Marque, no texto, as falas da agulha (A) e da linha (L).<br />
3. Que personagem iniciou a discussão?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
4. Que personagem “teve mais falas”?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
5. Quem teve a “última palavra” na discussão?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
Produzindo textos<br />
Preparar a leitura dramatizada do texto: um aluno atuará como o nar-rador e três outros<br />
alunos lerão as falas da agulha, da linha e do alfinete. Ler o texto para os colegas, após a<br />
preparação em aula.<br />
9<br />
LEITURAS LITERÁRIAS
4<br />
APÓLOGO – OUTRA FORMA DE SIMBOLIZAR<br />
O MUNDO (parte II)<br />
Construindo sentidos para o texto<br />
1. Releia, abaixo, algumas passagens do texto. Converse com seu colega a respeito de seus<br />
possíveis significados. Recorram ao dicionário para com-preensão dos sentidos, caso<br />
seja necessário:<br />
a) “Por que você está com esse ar, toda cheia de si...”<br />
__________________________________________________________________________________<br />
b) “(...) os vestidos e enfeites de nossa ama...”<br />
__________________________________________________________________________________<br />
c) “Também os batedores vão diante do imperador”.<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
d) “(...) uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela”.<br />
__________________________________________________________________________________<br />
e) “(...) a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe...”<br />
__________________________________________________________________________________<br />
2. Agulha e linha enumeraram argumentos, para comprovarem que uma era mais importante<br />
do que a outra. Que argumentos cada uma usou?<br />
Linha<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
Agulha<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
___________________________________________________________________________<br />
3. Onde se passam as ações da história?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
10<br />
OFICINA 5
4. Quando começou a discussão entre a agulha e a linha?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
5. Como as fábulas, os apólogos também desejam ensinar algo aos leitores e fazem isso por<br />
meio da moral, que aparece na conclusão do texto.<br />
a) Quem apresenta a moral da história?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
b) Qual é a moral desta história?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
c) O alfinete complementa a moral do apólogo, ensinando à agulha outra “lição”. Qual?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
_________________________________________________________________________________<br />
6. Quem venceu a discussão: a agulha ou a linha?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
7. 7. Releia:<br />
“Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:<br />
– Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!”<br />
Nesse diálogo, o narrador conversa com uma pessoa sobre o apólogo. O que quer dizer a<br />
expressão “professor de melancolia”?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
__________________________________________________________________________________<br />
Refletindo sobre os usos da língua<br />
1. Quantos parágrafos há no texto?<br />
__________________________________________________________________________________<br />
2. Releia:<br />
“É boa! Porque coSo. Então os vestidos e enfeites de nossa ama,<br />
quem é que os coSe, senão eu?”<br />
Coso e cose são formas do verbo COSER. Coser significa: ______________. Agora leia:<br />
É boa! Porque coZo. Então os pratos sofisticados dos almoços de<br />
nossa ama, quem é que os coZe, senão eu?<br />
Cozo e coze são formas do verbo COZER. Cozer significa: ______________.<br />
11<br />
LEITURAS LITERÁRIAS
Marque a resposta certa para fazer a conclusão:<br />
Os pares de verbos coso/cozo e cose/coze têm som ____________ (igual/diferente), grafia<br />
________________ (igual/diferente) e sentido _______________ (igual/diferente). Essas palavras<br />
também são chamadas de HOMÔNIMAS.<br />
Produzindo textos<br />
Você aprendeu, neste encontro, as características de um apólogo. Relembre-as:<br />
• narrativa curta, parecida com a fábula;<br />
• moral no final da narrativa;<br />
• os personagens são seres inanimados – objetos;<br />
• os objetos são mostrados com características e comportamentos humanos.<br />
Pensando nos pares de objetos relacionados abaixo, escolha um par para escrever um apólogo<br />
juntamente com seu colega:<br />
Caneta e papel<br />
Vinho e água<br />
Caneta e lápis<br />
Carro e moto e outros.<br />
12<br />
OFICINA 5
SUGESTÃO DE BIBLIOGRAFIA PARA O PROFESSOR<br />
ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no<br />
caminho. São Paulo: Parábola, 2007.<br />
______________. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003.<br />
DIONÍSIO, Angela Paiva et alii. Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Editora Lucerna,<br />
2007.<br />
KLEIMAN, Angela. Oficina de Leitura teoria & prática. Campinas/SP: Pontes, 2007.<br />
KOCH, Ingedore Villaça e ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. São<br />
Paulo: Contexto, 2007.<br />
LIBERATO, Yara e FULGÊNCIO, Lúcia. É possível facilitar a leitura: um guia para escrever<br />
claro. São Paulo: Contexto, 2007.<br />
SIMÕES, Darcília. Considerações sobre a fala e a escrita – Fonologia em nova chave. São<br />
Paulo: Parábola, 2006.<br />
13<br />
LEITURAS LITERÁRIAS