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Elementos sobre História e Arqueologia - Câmara Municipal de ...

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

http://www.cmalcacerdosal.pt/PT/Actualida<strong>de</strong>/Publicacoes/Paginas/EstudosdoGabinete<strong>de</strong><strong>Arqueologia</strong>.aspx<br />

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Ficha Técnica<br />

TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Tema do Segundo Volume - TORRÃO DO ALENTEJO: <strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong>.<br />

Colecção Digital – <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer do Sal, nº 2 (II Parte)<br />

(Para facilitar a consulta em PDF, o livro foi dividido em 3 Partes, seguindo <strong>de</strong> perto a estrutura inicial)<br />

Coor<strong>de</strong>nação – Vereação do Pelouro da Cultura<br />

Concepção: Gabinete <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> para apoio da Feira Anual do Torrão.<br />

Capa, Grafismo e Desenhos – Dos autores<br />

Cartografia elaborada pelos autores <strong>sobre</strong> bases digitais do Google Earth 2008 e do Earth Explorer<br />

5.0, da Motherplanet.com<br />

Fotografias – António Rafael Carvalho e Mário Perna<br />

Edição on-line – Município <strong>de</strong> Alcácer do Sal, com colaboração da Junta <strong>de</strong> Freguesia do Torrão<br />

Freguesia do Torrão; Município <strong>de</strong> Alcácer do Sal, Agosto <strong>de</strong> 2008<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

http://www.cmalcacerdosal.pt/PT/Actualida<strong>de</strong>/Publicacoes/Paginas/EstudosdoGabinete<strong>de</strong><strong>Arqueologia</strong>.aspx<br />

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Índice<br />

II Parte – <strong>Arqueologia</strong> 4<br />

João Carlos Faria (†) e Marisol Aires Ferreira<br />

Descoberta <strong>de</strong> Duas Sepulturas Romanas na Vila do Torrão 5<br />

A. Catarina Cabrita, António Rafael Carvalho e Fernando Gomes<br />

Contributo para o estudo das Cerâmicas Baixo Medievais/Mo<strong>de</strong>rnas do Torrão: O Largo Bernardim<br />

Ribeiro 12<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

http://www.cmalcacerdosal.pt/PT/Actualida<strong>de</strong>/Publicacoes/Paginas/EstudosdoGabinete<strong>de</strong><strong>Arqueologia</strong>.aspx<br />

1<br />

1 Publicado na revista, Movimento cultural Ano III – Nº 5, Dezembro <strong>de</strong> 1988, p. 29-35.<br />

Precocemente <strong>de</strong>saparecido, João Carlos Faria era o Vereador do Pelouro da Cultura do Município <strong>de</strong> Alcácer do Sal. Actualmente,<br />

Marisol Aires Ferreira é Arqueóloga no Município <strong>de</strong> Alcácer do Sal<br />

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

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<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

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<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

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<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

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<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

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<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

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<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

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1. Introdução<br />

TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

As peças objecto <strong>de</strong>ste estudo foram recolhidas por um <strong>de</strong> nós (Fernando Gomes), nos anos 80<br />

do século passado, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um silo encontrado <strong>de</strong> forma causal no <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> obras camarárias no<br />

Largo Bernardim Ribeiro, no centro da actual vila do Torrão.<br />

Foi efectuado um estudo <strong>de</strong>talhado, apresentado no <strong>de</strong>curso do I Encontro <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong><br />

Urbana que <strong>de</strong>correu em Setúbal, em 1985, mas por razões que <strong>de</strong>sconhecemos o trabalho não foi<br />

publicado nas Actas entretanto publicadas em 1986.<br />

Pelo interesse que tem, tratando-se do primeiro estudo <strong>de</strong> cerâmicas tardo medievais da vila do<br />

Torrão e porque se trata <strong>de</strong> um contexto fechado, achamos oportuno dar a conhecer este conjunto<br />

documental, que tem permanecido inédito e que se encontra nos reservados do Museu <strong>Municipal</strong> Pedro<br />

Nunes.<br />

Ele <strong>de</strong>ve ser entendido como uma introdução ao estudo das cerâmicas medievais <strong>de</strong> uma vila que<br />

em meados do século XV/XVI era se<strong>de</strong> <strong>de</strong> município e que tinha a sua autonomia plena em relação a<br />

Alcácer.<br />

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<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Localização do Torrão no Município <strong>de</strong> Alcácer e na região do Médio Sado.<br />

2. O Torrão no Final da Ida<strong>de</strong> Média: Enquadramento Geral<br />

A <strong>História</strong> do Torrão, como antigo concelho Medieval do Alentejo Litoral, confun<strong>de</strong>-se com a<br />

<strong>História</strong> da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago e com o avanço e consolidação da conquista portuguesa em direcção ao<br />

Reino do Algarve.<br />

Após a sua inserção em território português, após 1218 2 , o castelo do Torrão e a sua Musalla,<br />

serão provavelmente transformados numa importante base militar dos Espatários para a vigilância da<br />

fronteira com o território muçulmano.<br />

O castelo <strong>de</strong> Beja, com a sua torre <strong>de</strong> menagem é visível do Torrão.<br />

Apesar <strong>de</strong>sta visibilida<strong>de</strong>, se tomarmos como certa que Beja terá sido conquistada em 1234,<br />

chegamos à conclusão que o Torrão terá sido um castelo da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong> “dupla fronteira” 3<br />

nesta região do Médio Sado durante pelo menos 16 anos.<br />

2 Em data <strong>de</strong>sconhecida e não fixada em documentação para memória futura!<br />

3 Realçamos o papel <strong>de</strong> “dupla fronteira” do Torrão, sob jurisdição da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago, porque <strong>de</strong>sta praça forte, os Espatários<br />

conseguiam dominar o território envolvente, não só frente ao muçulmanos instalados em Beja, como servia para impedir a expansão<br />

da jurisdição da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Avis para o Alentejo Litoral. Talvez aqui resida a razão para a urgente conquista do hisn Turrus após a<br />

conquista <strong>de</strong> Alcácer em 1217. Estava em causa a manutenção da coesão territorial alcacerense que os Espatários queriam herdar do<br />

po<strong>de</strong>r Wazirí, frente a pressões do lado português instalados em Évora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1165, provavelmente relacionados com a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

Avis.<br />

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<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Terá sido um tempo <strong>de</strong> guerra <strong>de</strong> “baixa intensida<strong>de</strong>”, em que o comércio entre os beligerantes<br />

seria fomentado 4 , <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> regras muito apertadas.<br />

Nestes 16 anos, a linha <strong>de</strong>fensiva islâmica, imediatamente localizada a sul, terá sido estruturada<br />

<strong>de</strong> forma a respon<strong>de</strong>r aos anseios da população muçulmana, numa fase em que o Império Magrebino dos<br />

Almóadas é uma superstrutura estatal estranha ao quotidiano e rejeitado pelas elites que se formaram após<br />

1217. 5<br />

4 A questão do comércio entre beligerantes na fronteira Nazari/Castelhana encontra-se bem documentada em estudos recentes dados<br />

a conhecer por colegas do país vizinho. O tema em Portugal tem sido escassamente explorado, contudo é <strong>de</strong> admitir que terão<br />

existindo acordos, cuja natureza <strong>de</strong>sconhecemos, entre povoações e castelos <strong>de</strong> fronteira. Bastante paradigmático <strong>de</strong>sta situação é a<br />

ajuda que um mercador cristão, que comerciava com os muçulmanos do Garb, resolve prestar à Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago e que se<br />

encontra <strong>de</strong>scrito na Crónica Portuguesa que relata a conquista do Algarve. Parece-nos interessante transcrever esta parte da referida<br />

Crónica, porque permite-nos antever como seriam as práticas <strong>de</strong> comércio em zona <strong>de</strong> fronteira (Crónica Portuguesa da “Conquista<br />

do Algarve” segundo Fernando Venâncio Peixoto da Fonseca, 1988, p. 82-83)<br />

“ [Script.416 A] …. (após a conquista do castelo <strong>de</strong> Aljustrel em 1234, pelo Mestre da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago, D. Paio Peres Correia<br />

(Sic) …” Ganhou majs este Mestre aos Mourros auzultrel(ll) que he no Campo <strong>de</strong> Oujque e estando neste lugar ouue conselho<br />

com (os) seus cavaleyros <strong>de</strong> que maneyra podia(õ) jr ao Reyno do Algarue mas todos em hum acordo por recearem a gran<strong>de</strong><br />

pasajem da será (lho estrovavaõ) e o Mestre tendo (em) vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> jr la todauja veyo a falar com hum mercador que andaua<br />

ven<strong>de</strong>ndo suas mercadarjas amtre os Mouros e os Christãos (a qu)e chamauom Garcia Rodrigues …”<br />

5 As Or<strong>de</strong>ns Militares tinham consciência da crise politica em que tinha caído o Garb al-Andalus. Segundo a Crónica da Conquista<br />

do Algarve (Ob. Cit., p. 82), uma das justificações para a conquista do sul <strong>de</strong> Portugal, residia no facto das elites muçulmanas<br />

estarem em constante guerra entre si. (Sic)<br />

“…a vonta<strong>de</strong> que tinha <strong>de</strong> conqujstar aquela terra (que era) por seriço <strong>de</strong> Deos e que o leixaua <strong>de</strong> fazer porque não sayba todo<br />

ho Reyno do Algarue e os Reys que avya e como erom em gram<strong>de</strong> <strong>de</strong>svayro (hus com outros)…”<br />

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Se tomarmos à letra as palavras da Crónica da Conquista do Algarve, o panorama apresentado<br />

em 1234, mostra-nos uma <strong>de</strong>sintegração politica do Califado Almóada a uma escala cada vez mais local,<br />

que com início após a <strong>de</strong>rrota almóada <strong>de</strong> 1212, na batalha <strong>de</strong> Navas <strong>de</strong> Tolosa, foi-se acentuado com o<br />

passar do tempo.<br />

Como já afirmamos noutro estudo, após 1212, os Banu Waziri instalados em Alcácer,<br />

nominalmente prestavam obediência ao Califa Almóada, mas na prática actuam com total autonomia<br />

politica. Curiosamente as fontes cristãs coevas da conquista, tratam o governador alcacerense como rei<br />

mouro.<br />

Face ao novo quadro politico após 1217, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos a hipótese <strong>de</strong> o Torrão, <strong>de</strong>vido ao seu papel<br />

<strong>de</strong> base militar, que aliado à mais “valia sagrada” <strong>de</strong>rivado da existência <strong>de</strong> uma musalla, ter-se-á<br />

tornado politicamente autónomo, tanto em relação ao reino <strong>de</strong> Portugal, como em relação ao po<strong>de</strong>r<br />

politico muçulmano instalado em Beja.<br />

É provável que logo em 1218, a componente militar da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago, procure conquistar o<br />

Torrão. Nenhum documento chegou até nós que relate a sua conquista. Sabemos que terá existido uma<br />

Crónica Espatária <strong>sobre</strong> a vida e feitos do Mestre D. Paio Peres Correia, sendo admissível que mais<br />

documentação <strong>de</strong>sta natureza existisse, contudo nada <strong>sobre</strong>viveu até ao presente.<br />

Entretanto a sul do eixo português <strong>de</strong> Alcácer, Torrão e Évora, ter-se-á formado com início na<br />

costa Atlântica, uma linha <strong>de</strong>fensiva muçulmana, que incluía provavelmente o castelo <strong>de</strong> O<strong>de</strong>mira e os<br />

castelos <strong>de</strong> Messejana, Aljustrel, Beja e Moura.<br />

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Durante 16 anos, ter-se-á mantido esta fronteira. Esse estado <strong>de</strong> coisas só se irá alterar, quando<br />

na década <strong>de</strong> 30 do século XIII, a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago fica impaciente ao verificar que o rei D. Sancho II e<br />

algumas Or<strong>de</strong>ns militares suas directas rivais retomam as conquistas em direcção ao vale do Guadiana e<br />

para sul.<br />

Querendo manter o seu domínio no Alentejo, os Espatários retomam a iniciativa militar, num<br />

percurso que culminará com a conquista do Algarve e <strong>de</strong>struição da última soberania muçulmana<br />

autónoma, com a conquista do castelo <strong>de</strong> Aljezur em 1249.<br />

Parece-nos sintomático, que seja nesse ano <strong>de</strong> 1249, que o Torrão é referido pela primeira vez<br />

nas fontes portuguesas.<br />

Parece-nos que a necessária reorganização interna do espaço conquistado pela Or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1217, estará estado em letargia, como que a aguardar a conclusão das operações militares no Algarve.<br />

Por outro lado, esta fase militar coincidiu igualmente com uma guerra civil entre os partidários<br />

do rei D. Sancho II e do seu irmão, que com o apoio do Papa virá a ser D. Afonso III.<br />

Até que ponto esta luta interna no reino <strong>de</strong> Portugal afectou o Torrão?<br />

Inicialmente a retoma da conquista Espatária para sul em direcção ao castelo <strong>de</strong> Aljustrel,<br />

efectuou-se num quadro legal em que governava o rei D. Sancho II.<br />

Na década <strong>de</strong> 40 <strong>de</strong> Duzentos, o po<strong>de</strong>r régio sofre uma grave erosão <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> e o país<br />

divi<strong>de</strong>-se em duas facções.<br />

A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong>cidiu manter as antigas lealda<strong>de</strong>s e as orientações vindas <strong>de</strong> Castela, não<br />

lhe restando alternativa senão apoiar D. Sancho II.<br />

Quando a luta começou a pen<strong>de</strong>r mais para o seu irmão D. Afonso, a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago viu-se<br />

perante um dilema: - Será que iria ser penalizada por D. Afonso III?<br />

Caso a Or<strong>de</strong>m fosse sujeita a pesada pena régia, parece-nos natural que o Torrão sairia da<br />

jurisdição da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago e a sua <strong>História</strong> futura seria outra.<br />

O conflito pela posse do Algarve, digladiados entre D. Afonso III e o her<strong>de</strong>iro da Taifa <strong>de</strong><br />

Niebla 6 , o rei Alfonso X <strong>de</strong> Castela, vieram absorver muita atenção e recursos por parte do soberano<br />

português. Parece-nos que seria contraproducente criar novos conflitos com uma Or<strong>de</strong>m Militar <strong>de</strong><br />

obediência duvidosa, mas profundamente instalada em espaço português.<br />

Após a inclusão do reino do Algarve em espaço português, cedido pelo rei Castelhano ao seu<br />

neto D. Dinis, a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago vê confirmada a sua posse, no vasto território Alentejano e Algarvio,<br />

construídos por direito <strong>de</strong> conquista.<br />

A constituição <strong>de</strong> um termo autónomo para o Torrão, por iniciativa da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago, em<br />

data in<strong>de</strong>terminada, mas seguramente após 1249, nascerá num momento em que não existe dúvidas <strong>sobre</strong><br />

a jurisdição dos Espatários nesta parcela do Médio Sado.<br />

6 O soberano da Taifa <strong>de</strong> Niebla assome-se após 1235 como emir do Garb. Teoricamente consi<strong>de</strong>rava como seu, todo o território<br />

muçulmano, que ia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> O<strong>de</strong>mira até Niebla. A realida<strong>de</strong> seria outra e o seu reino teria menor expressão territorial. Quando se dá o<br />

avanço português para o vale do Guadiana, o soberano <strong>de</strong> Niebla “sente-se atacado” e solicita apoio militar ao soberano castelhano<br />

que vê com bons olhos o projecto. Quando este último anexa o reino <strong>de</strong> Niebla, reclama como seu, o território Algarvio entretanto<br />

conquistado pelos portugueses, nascendo assim o diferendo entre os dois reinos cristãos.<br />

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Limites prováveis do Município do Torrão no Século XVI.<br />

A amarelo, a <strong>de</strong>limitação actual da Freguesia do Torrão.<br />

A azul, a proposta apresentada, elaborada com base em documentação coeva.<br />

Nos séculos seguintes, os elementos disponíveis <strong>sobre</strong> o Torrão, não nos falam <strong>de</strong> uma <strong>História</strong><br />

<strong>de</strong> Conflitos Militares, mas repousam antes em nomes <strong>de</strong> pessoas e nos direitos que elas reedificam para<br />

si.<br />

Fazer a <strong>História</strong> Local após o século XIII, é na realida<strong>de</strong>, apresentar a “visão” da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

Santiago, porque a restante documentação ainda não foi trabalhada <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada.<br />

O Torrão vai manter-se como concelho nesta região do Médio Sado até meados do século XIX.<br />

Por <strong>de</strong>terminação régia será relegado para a condição <strong>de</strong> freguesia do concelho do Alvito. Pouco<br />

<strong>de</strong>pois, por questões <strong>de</strong> natureza eleitoral do ciclo <strong>de</strong> Alcácer, será integrado neste ultimo município,<br />

situação que mantêm actualmente.<br />

Não temos elementos cartográficos que <strong>de</strong>limitem as fronteiras do município do Torrão,<br />

contudo, pela leitura da documentação que chegou até ao presente, po<strong>de</strong>mos concluir que o Termo<br />

Torranense estendia-se para sul, acompanhando o amplo horizonte que po<strong>de</strong>mos actualmente vislumbrar<br />

no sítio dos Castelos.<br />

O comércio estabelecia-se por meio <strong>de</strong> acordos com os concelhos vizinhos.<br />

Mais uma vez, estamos perante uma vila que se consolida como ponto <strong>de</strong> apoio ao caminho que<br />

vinha <strong>de</strong> Beja e que se dirigia para Alcácer e Évora.<br />

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<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Listagem <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong>s ligadas ao Torrão, comenda da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago, no tempo<br />

do Mestrado <strong>de</strong> D. Jorge. 7<br />

Aires Rodrigues – Juiz da Confraria <strong>de</strong> nossa Senhora da igreja <strong>de</strong> santa Maria <strong>de</strong> Torrão, em 8 <strong>de</strong><br />

Novembro <strong>de</strong> 1510.<br />

Álvaro Falcão – Administrador da capela <strong>de</strong> João Falcão na igreja <strong>de</strong> Santa MARIA DE Torrão., aparece<br />

referido por ocasião da visita á comenda <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1510.<br />

Álvaro <strong>de</strong> Mendonça – Cavaleiro, encontra-se registado no Livro <strong>de</strong> Matrícula da Or<strong>de</strong>m a 17 <strong>de</strong><br />

Fevereiro <strong>de</strong> 1494. Foi comendador <strong>de</strong> Torrão até 10 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1517, quando a mesma passa para as<br />

mãos <strong>de</strong> D. João <strong>de</strong> Lencastre.<br />

Álvaro Mergulhão – Morador em Torrão, cavaleiro, nomeado almoxarife da dita vila em 13 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong><br />

1524, substituindo no cargo Vasco Figueira.<br />

António Pinto – Morador em Torrão, recebe nomeação para o cargo <strong>de</strong> procurador do número da<br />

localida<strong>de</strong>, pela Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago.<br />

Bastião Pinto – Natural <strong>de</strong> Torrão, recebe carta <strong>de</strong> hábito para clérigo da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago, a 10 <strong>de</strong><br />

Março <strong>de</strong> 1540.<br />

Belchior Peres – Morador em Torrão, clérigo <strong>de</strong> missa, a 31 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1542 recebe carta <strong>de</strong> hábito, da<br />

Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago. Encontra-se registado no Livro <strong>de</strong> Matrícula da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago, como freire<br />

clérigo, a 20 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong>sse ano. Mais tar<strong>de</strong>, a 20 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1545 recebe a capelania da matriz <strong>de</strong><br />

Torrão, por morte <strong>de</strong> Pedro Anes Aparício.<br />

Brás da Silva – escu<strong>de</strong>iro, foi renovado no cargo <strong>de</strong> escrivão da almotaçaria <strong>de</strong> Torrão por mais três anos<br />

e em Janeiro do ano seguinte, foi nomeado escrivão dos órfãos por igual período <strong>de</strong> tempo, mantendo-se<br />

ainda em 27 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1534, altura em que recebeu visitação. A 4 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1527, foi nomeado<br />

escrivão das águas <strong>de</strong> Torrão e Ferreira.<br />

Brás Gomes – Morador em Torrão, é nomeado tabelião do judicial da referida localida<strong>de</strong>, a 15 <strong>de</strong><br />

Novembro <strong>de</strong> 1548, o que acontece por renuncia <strong>de</strong> João Matoso.<br />

7 Segundo, Pimenta, 2001. As Or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> Avis e <strong>de</strong> Santiago na Baixa Ida<strong>de</strong> Média: Governo <strong>de</strong> D. Jorge, p. 300-353.<br />

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Diogo Rodrigues – Capelão e cantor do Mestre, recebe uma mercê <strong>de</strong> 4 moios <strong>de</strong> trigo a 12 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong><br />

1516. Pouco <strong>de</strong>pois, a 18 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1518 foi nomeado prior da igreja <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Torrão,<br />

pedindo confirmação a D. Afonso, bispo <strong>de</strong> Évora. Viria também a ser juiz dos dízimos <strong>de</strong> Torrão e prior<br />

<strong>de</strong> Almada, a 24 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1524, renunciando a este ultimo priorado a 6 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1527,<br />

sendo substituído por Bartolomeu Fernan<strong>de</strong>s.<br />

Estêvão “Gaa<strong>de</strong>s” – Capelão da ermida <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Torrão, esteve presente por ocasião da visita á<br />

comenda <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1510.<br />

Fernão Cardim – Cavaleiro, recebe carta <strong>de</strong> hábito da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago, a 15 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1537. É<br />

provável que assoma o cargo <strong>de</strong> almoxarife e recebedor da fabrica <strong>de</strong> Torrão, pela Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago na<br />

visita efectuada a 27 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1534 e <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1544.<br />

Fernão Pinto – recebe nomeação <strong>de</strong> vedor das águas em Torrão e em Ferreira, pela Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago,<br />

em 4 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1527.<br />

Francisco do Pó – Morador em Torrão, clérigo <strong>de</strong> missa, recebe carta <strong>de</strong> hábito, da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago, a<br />

24 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1533. Aparece na comenda, com funções na igreja do Torrão, autorizadas pelo então<br />

Prior da Matriz, no início <strong>de</strong> 1534.<br />

Gaspar Nunes – Nomeado ermitão da ermida <strong>de</strong> Santa Maria em Torrão, em carta <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong><br />

1521<br />

Gonçalo Pires – Escrivão dos órfãos, contador das custas, inquiridor, distribuidor e tabelião das notas <strong>de</strong><br />

Torrão, pela Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago, em 6 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1510.<br />

3. As Cerâmicas: Metodologia.<br />

Os materiais seleccionados para este estudo preten<strong>de</strong>m reflectir um pouco <strong>sobre</strong> a riqueza<br />

arqueológica existente na área em questão e o contributo que a <strong>Arqueologia</strong> Medieval po<strong>de</strong> dar para o<br />

estudo do Torrão.<br />

O objectivo último será sempre a divulgação do património para que este seja verda<strong>de</strong>iramente<br />

valorizado e compreendido, como fonte documental, como passaporte para o acesso ao nosso passado<br />

colectivo.<br />

De facto para nós tem tanto valor um edifício, uma igreja, uma porta manuelina ou um simples<br />

fragmento <strong>de</strong> cerâmica.<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Uma vez seleccionados os materiais, proce<strong>de</strong>u-se ao <strong>de</strong>senho bem como à posterior tintagem dos<br />

mesmos. As peças foram ainda fotografadas.<br />

O estudo das peças passou então pela análise morfológica e tipológica <strong>de</strong> cada uma. Tal permite<br />

<strong>de</strong>finir e caracterizar possíveis origens para os fabricos. Os critérios utilizados para análise correspon<strong>de</strong>m<br />

aos <strong>de</strong>finidos na ficha para <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> cerâmicas <strong>de</strong> Vipasca.<br />

Para a <strong>de</strong>scrição das pastas bem como da coloração das superfícies (interna e externa) foi<br />

utilizada a Munsell Soil Color Chart.<br />

Preten<strong>de</strong>u-se assim estabelecer possíveis origens para os vários fabricos presentes neste<br />

conjunto, localizar eventuais centros produtores e por fim enquadrar os materiais em balizas cronológicas<br />

válidas.<br />

Os materiais apresentam-se segundo um critério tipológico, isto é procurando agrupar formas,<br />

bem como <strong>de</strong> acordo com o local <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provêm.<br />

Infelizmente não foi possível equacioná-los correctamente no espaço, numa leitura estratigráfica,<br />

porque se tratou <strong>de</strong> uma recolha efectuada por um <strong>de</strong> nós (F.G.) no <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> uma obra.<br />

Mediante a bibliografia consultada procurou-se ainda compreen<strong>de</strong>r eventuais paralelos tanto<br />

formais como cronológicos, padrões <strong>de</strong>corativos e o seu enquadramento histórico-cultural. Tudo para que<br />

seja possível a visão abrangente das peças em análise.<br />

Torrão; Largo Bernardim Ribeiro<br />

O conjunto <strong>de</strong> peças recolhidas no Largo Bernardim Ribeiro, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um silo, insere-se num<br />

contexto cronológico Baixo Medieval/mo<strong>de</strong>rno.<br />

Testos.<br />

As primeiras quatro peças são testos, mobiliário <strong>de</strong> cozinha utilizado como tampa para outros<br />

recipientes.<br />

Correspon<strong>de</strong>m a fabricos <strong>de</strong> cerâmica comum, com cozeduras em ambiente oxidante realizadas a<br />

torno rápido, <strong>de</strong> origem local/regional. Todos os exemplares apresentam perfil completo. Sendo peças<br />

sujeitas a reconstituição torna-se impossível uma correcta <strong>de</strong>scrição das suas pastas.<br />

Tem termos globais tratam-se <strong>de</strong> produções comuns nos contextos Tardo Medievais portugueses,<br />

<strong>de</strong> sul a norte, nomeadamente em Alcácer do sal, Palmela, Sesimbra, Setúbal, Lisboa, etc.<br />

O primeiro testo revela fundo raso, bordo em barbela com lábio amendoado com um ligeiro<br />

ressalto e pega central em forma <strong>de</strong> pitorra. Note-se que o bordo em barbela <strong>de</strong>sapareceria <strong>de</strong>pois do<br />

século XV. A superfície externa é alisada e a interna áspera, ambas <strong>de</strong> cor laranja baço.<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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21


TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

É a tampa <strong>de</strong> maiores dimensões <strong>de</strong>ste conjunto com um Ø <strong>de</strong> 6 cm <strong>de</strong> fundo e 15.2 cm <strong>de</strong><br />

bordo, tendo como altura máxima 3.2 cm.<br />

O segundo testo <strong>de</strong>tém um fundo raso, bordo extrovertido, lábio boleado, e pega central também<br />

seguindo o mesmo mo<strong>de</strong>lo que a peça anterior. A sua superfície é <strong>de</strong> cor laranja baça, sendo a externa<br />

áspera tendo a interna sido sujeita a algum alisamento.<br />

A pasta é <strong>de</strong> textura semi-compacta em tom laranja (5YR 7/6). Tem um Ø <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> 4.4 cm,<br />

espessura média <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 0.8 cm e altura máxima <strong>de</strong> 2.4 cm.<br />

O próximo exemplar apresenta um fundo raso, bordo extrovertido e lábio boleado, novamente<br />

uma pega central. Ambas as superfícies são <strong>de</strong> cor cinzento acastanhado (5YR 6/1), a externa revela-se<br />

mais áspera, com menos cuidado que a interna. Como Ø <strong>de</strong> fundo tem 4.1 cm, 0.5 cm <strong>de</strong> espessura média<br />

<strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s e uma altura máxima <strong>de</strong> 2.9 cm.<br />

O quarto e último testo tem um fundo raso, bordo extrovertido, lábio boleado e pega central<br />

conseguida <strong>de</strong> modo muito tosco. Ambas as superfícies são <strong>de</strong> cor laranja baço, algo ru<strong>de</strong>s. A pasta <strong>de</strong>sta<br />

peça é <strong>de</strong> textura arenosa, cor laranja baço (5YR 7/4). Detém um Ø <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> 5.6 cm, espessura média<br />

<strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 0.8 cm como a peça anterior e uma altura máxima um pouco menor <strong>de</strong> 2.1 cm.<br />

Note-se que nenhum <strong>de</strong>stes testos <strong>de</strong>tém uma concepção a nível <strong>de</strong> forma muito regular, bem<br />

como que as pegas centrais em forma <strong>de</strong> pitorra, presentes nos quatro exemplares são uma característica<br />

que estaria em uso pelo menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIII, <strong>de</strong>saparecendo no século XV.<br />

Tigelas<br />

nº 1 nº 2<br />

nº 3 nº 4<br />

Seguem-se as tigelas; as três primeiras correspon<strong>de</strong>m a fabricos <strong>de</strong> cerâmica comum, produções<br />

<strong>de</strong> origem local/regional. São peças realizadas a torno rápido, com cozeduras oxidantes. Apresentam<br />

perfil completo, tendo sido sujeitas a reconstituições parciais.<br />

Tratam-se <strong>de</strong> formas com uma representação geográfica idêntica á <strong>de</strong>scrita para os testos.<br />

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5 cm<br />

22


TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

nº 5 nº 6<br />

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nº 7<br />

A tigela nº 5 (T-PBR 47) <strong>de</strong>tém um fundo raso, pare<strong>de</strong> semi-esférica com bordo recto e lábio<br />

boleado. As superfícies são <strong>de</strong> tom laranja baço, sendo a exterior <strong>de</strong> tendência mais áspera por oposição à<br />

interior alisada. No que se refere a dimensões o Ø <strong>de</strong> fundo é <strong>de</strong> 6.6 cm e <strong>de</strong> bordo <strong>de</strong> 18 cm. A espessura<br />

média <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s é <strong>de</strong> 0.4 cm, variando a altura entre os 6 e os 6.6 cm.<br />

O nº 6 (T.PBR 38) também é <strong>de</strong> fundo raso, com pare<strong>de</strong>s semi-esféricas e um ligeiro ressalto<br />

antes do bordo sendo este algo extrovertido seguindo a orientação do corpo da tigela, <strong>de</strong> lábio boleado.<br />

Ambas as superfícies são alisadas <strong>de</strong> tom laranja. Como Ø <strong>de</strong> fundo tem 10.5 cm e 18 cm bordo. A<br />

espessura média <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s é <strong>de</strong> 0.4 cm, tendo <strong>de</strong> altura 6 cm.<br />

A tigela nº 7 (T.PBR 39), igualmente <strong>de</strong> fundo raso, apresenta pare<strong>de</strong>s semi-esféricas com um<br />

ligeiro ressalto antes do bordo extrovertido que segue a orientação do corpo da tigela, tendo <strong>de</strong>pois um<br />

perfil <strong>de</strong> lábio direito. As superfícies variam entre o laranja e o laranja baço, sendo a exterior mais áspera<br />

que a interior, mais cuidada, com algum alisamento. As dimensões <strong>de</strong> Ø do fundo são <strong>de</strong> 10.3 cm tendo<br />

18 cm Ø <strong>de</strong> bordo e uma altura variando entre os 6 e os 6.5 cm. A espessura média <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s é <strong>de</strong> 0.5<br />

cm.<br />

5cm<br />

23


TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

A peça nº 8 (T.PBR 40) correspon<strong>de</strong> a uma gran<strong>de</strong> tigela, <strong>de</strong> perfil completo, sujeita a<br />

reconstituição. Trata-se <strong>de</strong> um fabrico em cerâmica comum a torno rápido <strong>de</strong> produção local/regional. O<br />

fundo é raso, as pare<strong>de</strong>s bastante abertas <strong>de</strong> perfil semi-esférico com um bordo <strong>de</strong> perfil recto e um<br />

pequeno sulco a <strong>de</strong>marcar o lábio direito. As superfícies são <strong>de</strong> cor laranja baça, apresentando a interior<br />

uma ténue aguada. Como Ø <strong>de</strong> fundo tem 8.8 cm e 27 cm <strong>de</strong> bordo. A espessura média <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s é <strong>de</strong><br />

0.6 cm, tendo <strong>de</strong> altura 6 a 8 cm.<br />

Taça (Produção exógena).<br />

nº 8<br />

A taça nº 9 (MMPN 5603) apresenta um perfil completo, tendo também sido sujeita a um<br />

processo <strong>de</strong> reconstituição.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> taça <strong>de</strong> origem exógena, <strong>de</strong> meados do século XV.<br />

A nível morfológico <strong>de</strong>tém um fundo em pé anelar, pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> perfil semi-esférico com uma<br />

acentuada inclinação, bem como um sulco a <strong>de</strong>limitar claramente o bordo algo extrovertido quase recto<br />

<strong>de</strong> lábio boleado. A superfície externa, alisada, apresenta um espesso engobe <strong>de</strong> tom cinza (7.5 YR 8/2),<br />

salpicado por gotas <strong>de</strong> esmalte ver<strong>de</strong>. A superfície interna encontra-se totalmente coberta por esmalte<br />

ver<strong>de</strong>, mostrando reflexo metálico. Como dimensões assinala-se o Ø <strong>de</strong> fundo com 6.9 cm e 26.5 cm <strong>de</strong><br />

bordo.<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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5cm<br />

24


TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

A espessura média <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s é <strong>de</strong> 0.6 cm, variando a altura entre os 7.8 e os 8.3 cm.<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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nº 9<br />

5 cm<br />

25


Paralelos e Atribuição Cultural.<br />

TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Até muito recentemente, pensávamos que estaríamos em presença <strong>de</strong> uma produção, algo atípica,<br />

esmaltada a ver<strong>de</strong> proveniente das oficinas <strong>de</strong> Sevilha.<br />

Sabe-se actualmente que Sevilha no reino <strong>de</strong> Castela e as oficinas da região Valenciana, inserida<br />

na Coroa <strong>de</strong> Aragão, exportaram em gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s para Portugal, em concorrência directa com as<br />

produções Nazarís do reino <strong>de</strong> Granada.<br />

Mais recentemente, num trabalho <strong>sobre</strong> as cerâmicas do “Mercado Velho” <strong>de</strong> Palmela, <strong>de</strong>mos a<br />

conhecer as primeiras cerâmicas do Reino <strong>de</strong> Fez/Merinidas 8 exumadas em Portugal, em contexto<br />

arqueológico.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois, i<strong>de</strong>ntificamos algumas cerâmicas Merinidas em Alcácer do Sal, que contamos dar<br />

conhecimento futuramente.<br />

Em síntese, ao contrário do que po<strong>de</strong>ríamos pensar, chegaram ao reino <strong>de</strong> Portugal, em contexto<br />

cristão Tardo Medieval e anterior à conquista <strong>de</strong> Ceuta, um conjunto <strong>de</strong> produções cerâmicas, <strong>de</strong> centros<br />

que as fontes não mencionam. Correspon<strong>de</strong>m certamente a escassas quantida<strong>de</strong>s, quase sem expressão<br />

arqueológica.<br />

Uma questão interessante que as cerâmicas Merinidas encontradas em Alcácer (Século XIII) e<br />

Palmela (Século XIV) levantam, é a sua ocorrência em duas vilas sob jurisdição da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago.<br />

Esta questão terá que ser <strong>de</strong>senvolvida noutro estudo, contudo é importante assinalar que o<br />

primeiro contacto e conflito que a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago terá tido com o po<strong>de</strong>r Merinida, ocorreu no <strong>de</strong>curso<br />

da 2ª Fase da Conquista do Algarve, com a conquista dos últimos enclaves islâmicos, que após 1240/45 se<br />

terão <strong>de</strong>sligado da suserania da Taifa <strong>de</strong> Niebla, optado por solicitar apoio militar aos Banu Marín, que<br />

entretanto continuavam em Marrocos, a sua guerra <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste contra os resquícios do Califado almóada.<br />

A peça exumada no Torrão levanta algumas questões ainda mal resolvidas!<br />

Em termos <strong>de</strong> acabamento final, este tipo <strong>de</strong> esmalte ver<strong>de</strong> é comum nas produções tardo<br />

medievais dos reinos Peninsulares, contudo a associação <strong>de</strong> esmalte, na superfície interna, com a<br />

utilização <strong>de</strong> um espesso engobe na superfície externa, aparece quase sempre nas produções da região<br />

Valenciana e Nazaris.<br />

Se a este tipo específico <strong>de</strong> tratamento final da peça, aliarmos a forma <strong>de</strong>sta taça, <strong>de</strong> formato<br />

levemente “fusiforme”, verificamos que os melhores paralelos tipológicos, se encontram nas produções<br />

do reino <strong>de</strong> Granada.<br />

Os dados disponíveis permitem então supor que estaremos em presença <strong>de</strong> uma produção<br />

muçulmana Nazari, <strong>de</strong> finais do século XV.<br />

Po<strong>de</strong>mos citar também, os exemplares encontrados na Rua Augusto Cardoso 9 e as do Mercado<br />

velho <strong>de</strong> Palmela. 10<br />

8 Anteriores à conquista <strong>de</strong> Ceuta pelos Portugueses em 1415.<br />

9 Fernan<strong>de</strong>s e carvalho, 1993, <strong>Arqueologia</strong> em Palmela 1988/92. Catálogo da Exposição, p. 79 (fig.213) e p.80.<br />

10 Carvalho, 2005. Mercado Velho <strong>de</strong> Palmela.<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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Prato<br />

TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Centros Produtores <strong>de</strong> cerâmica, que abasteciam o Torrão, em finais da Ida<strong>de</strong> Média/Inícios do Período Mo<strong>de</strong>rno.<br />

(Mapa adaptado <strong>de</strong> António R. Carvalho, 2005/07, Intervenção Arqueológica no Mercado Velho: Musa nº 2, p. 79)<br />

nº 10<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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5 cm<br />

27


TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

O exemplar seguinte é um prato, (nº 10) <strong>de</strong> perfil completo. Foi sujeito a reconstituição parcial.<br />

Realizado em ambiente oxidante, correspon<strong>de</strong> a uma produção <strong>de</strong> origem local/regional. O fundo<br />

é raso, com um bordo em barbela, extrovertido com uma ligeira inflexão, e lábio boleado semi-circular.<br />

Ambas as superfícies são alisadas <strong>de</strong> tom laranja baço. A pasta é <strong>de</strong> textura algo arenosa, <strong>de</strong> cor laranja<br />

baço (5YR 7/4). O Ø <strong>de</strong> bordo é <strong>de</strong> 19.5 cm, tendo uma espessura média <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 0.8 cm. A altura é<br />

<strong>de</strong> 2.4 cm.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma forma muito interessante, tendo em conta a cronologia proposta (Séculos<br />

XV/XVI). Em termos formais, apresenta as características encontradas em peças similares, exumadas em<br />

contextos coevos junto ao litoral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Lisboa, Sesimbra, Setúbal, Palmela e Alcácer.<br />

Enquanto nestas povoações do litoral, os pratos apresentam sempre o pé é sempre em anel e<br />

raramente em ônfalo, no exemplo do Torrão a base não apresenta nenhuma <strong>de</strong>stas características<br />

tipológicas.<br />

O exemplo do Torrão, aparentemente único neste contexto cronológicos para a área em estudo,<br />

parece indicar um outro centro <strong>de</strong> produção, provavelmente ligado ao Alentejo Central.<br />

Por razões ainda <strong>de</strong>sconhecidas, esta característica do pé em anel, irá <strong>de</strong>saparecer em finais do<br />

século XVI.<br />

Um bom exemplo <strong>de</strong>sta tendência po<strong>de</strong>mos verificar na área urbana <strong>de</strong> Palmela. 11 (Fernan<strong>de</strong>s e<br />

Carvalho.<br />

Utilizando pastas diferentes e tamanho variado, apresentam contudo os elementos tipológicos<br />

comuns a esta “série tipológica”.<br />

Excluindo o prato típico do século XV/XVI (Fig. 84), as restantes peças foram exumadas em<br />

contextos <strong>de</strong> finais do século XVI, ganhando expressão no século XVI (em numero e varieda<strong>de</strong>s<br />

tipológicas).<br />

Em termos <strong>de</strong> distribuição geográfica, esta forma encontra-se bem representada na área urbana<br />

<strong>de</strong> Palmela e no espaço rural (Convento <strong>de</strong> S. Francisco <strong>de</strong> Alferrar)<br />

11 Fernan<strong>de</strong>s e Carvalho, 1998, Conjuntos Cerâmicos Pós-Medievais <strong>de</strong> Palmela, páginas 223 e 244 (Fig.84, 85, 86, 87, 88 e 89)<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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28


Pote<br />

TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Forma tipológica com boa representação em Portugal, <strong>de</strong> norte a sul, aparecendo nos locais atrás<br />

referidos.<br />

O nº 11 (T.PBR 63) pertence a um pequeno pote, <strong>de</strong> perfil completo. De cozedura oxidante,<br />

<strong>de</strong>verá ser a nível <strong>de</strong> fabrico <strong>de</strong> origem regional. O fundo é plano, com um bordo recto <strong>de</strong> lábio boleado,<br />

bem diferenciado do bojo <strong>de</strong> carácter ovói<strong>de</strong>, tendo ainda uma asa lateral <strong>de</strong> perfil vertical. As superfícies<br />

são <strong>de</strong> cor laranja baço, tendo a externa sido mais alisada, sendo a interna (não tão visível) mais áspera.<br />

Denotam-se as marcas <strong>de</strong> contacto com o fogo, possivelmente fruto do seu uso enquanto<br />

recipiente para aquecimento <strong>de</strong> líquidos. O Ø <strong>de</strong> fundo é <strong>de</strong> 5.3 cm e <strong>de</strong> bordo <strong>de</strong> 6.2 cm. A espessura<br />

média <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s tem 0.5 cm e uma altura que varia entre os 8 a 8.4 cm, dado ser uma peça algo irregular.<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

nº 11<br />

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5 cm<br />

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TORRÃO DO ALENTEJO<br />

<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />

Bibliografia<br />

Carvalho, A Rafael, 2004.Intervenção Arqueológica no “Mercado Velho <strong>de</strong> Palmela”: Primeiros<br />

resultados. Al Madan, série II, nº 13, A<strong>de</strong>nda Electrónica.<br />

Carvalho, A Rafael, 2007.Intervenção Arqueológica no Mercado Velho: Novos Contributos para o<br />

Conhecimento do quotidiano em Palmela, no final da Ida<strong>de</strong> Média. Musa nº 2, 2005/07, p. 74-82.<br />

Fernan<strong>de</strong>s, I. Cristina e Carvalho, A Rafael, 1993. <strong>Arqueologia</strong> em Palmela 1988/92: Catálogo da<br />

exposição. Ed. C M Palmela.<br />

Fernan<strong>de</strong>s, I. Cristina e Carvalho, A Rafael, 1998. Conjuntos Cerâmicos Pós-Medievais <strong>de</strong> Palmela.<br />

Actas das 2ªs Jornadas <strong>de</strong> Cerâmica Medieval e Pós-Medieval, p. 211-255, Ton<strong>de</strong>la.<br />

FONSECA, F. Venâncio Peixoto da, (1988). “CRÓNICA DA CONQUISTA DO ALGARVE”. Boletim<br />

<strong>de</strong> Trabalhos Históricos. Arquivo Alfredo pimenta, p. 81-109.<br />

PIMENTA, Maria Cristina Gomes, 2001. As Or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> Avis e Santiago na Baixa Ida<strong>de</strong> Média: O<br />

Governo <strong>de</strong> D. Jorge. Colecção Or<strong>de</strong>ns Militares nº 1. Separata do nº 5 da Revista Militarium Ordium<br />

Anacleta.<br />

Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (II Parte)<br />

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