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As histórias e os personagens reais que estão por trás do ... - Época

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CULTURA<br />

CINEMA<br />

BRASIL REAL<br />

Todas as fot<strong>os</strong> desta parede<br />

de uma Casa de Milagres,<br />

em Juazeiro <strong>do</strong> Norte (CE),<br />

são de pessoas <strong>que</strong> aparecem<br />

em Central <strong>do</strong> Brasil len<strong>do</strong><br />

cartas ou viven<strong>do</strong> situações<br />

verdadeiras. Em locais<br />

como esse, <strong>os</strong> nordestin<strong>os</strong><br />

agradecem graças alcançadas<br />

<strong>As</strong> <strong>histórias</strong> e <strong>os</strong> <strong>personagens</strong> <strong>reais</strong> <strong>que</strong> <strong>estão</strong> <strong>por</strong> <strong>trás</strong> <strong>do</strong> filme mais premia<strong>do</strong> da história <strong>do</strong> cinema nacional<br />

M enina,<br />

POR FÁBIO ALTMAN (TEXTO)<br />

E PAULA PRANDINI (FOTOS)<br />

“<br />

ganham<strong>os</strong> mais uma!” O<br />

telefone tocou na casa da comerciante<br />

Socorro Nobre, em Itabuna, na<br />

Bahia, em todas as 28 vezes em <strong>que</strong> Central<br />

<strong>do</strong> Brasil levou um prêmio. Do outro<br />

la<strong>do</strong> da linha estava o diretor, Walter<br />

Salles. Na semana passada a ligação<br />

veio de L<strong>os</strong> Angeles para o celular de<br />

Socorro, alcançada em Tiradentes (MG)<br />

– Central ganhara outra láurea, o Globo<br />

de Ouro de melhor filme estrangeiro. No<br />

próximo dia 9, tu<strong>do</strong> indica <strong>que</strong> ele será<br />

uma das cinco produções selecionadas<br />

para o Oscar. Socorro Nobre é o primeiro<br />

r<strong>os</strong>to a aparecer em Central <strong>do</strong><br />

Brasil. Ela dita uma carta para a escreve<strong>do</strong>ra<br />

Dora (Fernanda Montenegro).<br />

“Foi uma homenagem a Socorro”, diz<br />

Walter Salles. Dora é a própria Socorro.<br />

Em 1986, ela foi acusada e condenada<br />

como cúmplice no assassinato <strong>do</strong> próprio<br />

irmão, morto a tir<strong>os</strong> <strong>por</strong> um amante<br />

dela. Socorro passou sete de seus 46<br />

an<strong>os</strong> na cadeia, em Ilhéus, Itabuna e Salva<strong>do</strong>r.<br />

Ali ela ajudava as detentas analfabetas<br />

a escrever cartas. Em 1993, leu<br />

uma re<strong>por</strong>tagem numa revista sobre o<br />

escultor polonês radica<strong>do</strong> no Brasil<br />

s<br />

O FILME Fernanda Montenegro (Dora) e<br />

Vinícius de Oliveira (J<strong>os</strong>ué) viajam pelo país<br />

77


Rio de<br />

Janeiro<br />

CULTURA<br />

ARCOVERDE,<br />

PERNAMBUCO<br />

Em Central <strong>do</strong> Brasil, o<br />

pedinte J<strong>os</strong>é Ferreira da<br />

Silva senta-se diante de<br />

Dora (Fernanda<br />

Montenegro) em busca<br />

<strong>do</strong> filho sumi<strong>do</strong> havia<br />

quatro an<strong>os</strong>. João<br />

Ferreira viu o filme no<br />

Pará e foi a<strong>trás</strong> <strong>do</strong> pai<br />

até achá-lo no sertão<br />

RJ<br />

SÃO BENTO DO UNA,<br />

PERNAMBUCO<br />

No filme, Ciço lê uma carta<br />

para J<strong>os</strong>efa Maria. Na semana<br />

passada, o jardineiro<br />

reencontrou a ex-mulher e o<br />

filho, depois de <strong>do</strong>is an<strong>os</strong><br />

A trupe de Central <strong>do</strong> Brasil<br />

percorreu 12 mil km n<strong>os</strong><br />

estad<strong>os</strong> de Rio de Janeiro,<br />

Bahia, Pernambuco e Ceará<br />

Frans Krajcberg. Enviou a ele uma carta.<br />

Trocaram intensa correspondência.<br />

Uma dessas missivas caiu nas mã<strong>os</strong> de<br />

Walter Salles. O diretor decidiu transformar<br />

a história num <strong>do</strong>cumentário – Socorro<br />

Nobre, de 1995.<br />

Era o relato de como algumas linhas<br />

de uma escreve<strong>do</strong>ra podem mudar uma<br />

vida. Foi a gênese de Central <strong>do</strong> Brasil.<br />

“Minha carta criou asas. Uma simples<br />

carta teve o valor de um bilhete premia<strong>do</strong><br />

na Mega-Sena. Fico até assustada em<br />

perceber tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> essa carta fez. Ela<br />

abriu minhas <strong>por</strong>tas, salvou minha vida<br />

– o Walter diz <strong>que</strong> mu<strong>do</strong>u a vida dele<br />

também.” A trajetória de Socorro Nobre,<br />

hoje em liberdade condicional, e a<br />

de Dora de Fernanda Montenegro lembram<br />

um trecho de Grande Sertão: Veredas,<br />

de Guimarães R<strong>os</strong>a: “Mire veja:<br />

o mais im<strong>por</strong>tante e bonito, <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

é isto: <strong>que</strong> as pessoas não <strong>estão</strong> sempre<br />

iguais, ainda não foram terminadas – mas<br />

<strong>que</strong> elas vão sempre mudan<strong>do</strong>”.<br />

Socorro é apenas uma das <strong>personagens</strong><br />

<strong>reais</strong> a passear em Central. Uma<br />

das grandes qualidades <strong>do</strong> filme, e talvez<br />

essa seja a sua mágica, é a mistura<br />

da ficção com o real. Não se sabe,<br />

ao assistir-lhe, <strong>que</strong>m interpreta e <strong>que</strong>m<br />

leva a si mesmo à tela. Esse efeito resulta<br />

<strong>do</strong> magistral trabalho de pesquisa e<br />

direção de arte liderad<strong>os</strong> <strong>por</strong> Walter Salles<br />

e pel<strong>os</strong> artistas plástic<strong>os</strong> Carla Caffé<br />

e Cassio Amarante. A seguir, ÉPOCA<br />

m<strong>os</strong>tra algumas <strong>histórias</strong> verdadeiras<br />

<strong>por</strong> <strong>trás</strong> de Central <strong>do</strong> Brasil. É um país<br />

tão emocionante como o filme – mas<br />

também mais dramático e sofri<strong>do</strong>.<br />

O CAVALINHO DE MADEIRA<br />

A perna es<strong>que</strong>rda ensaia um passo<br />

à frente. A direita curva-se ligeiramente.<br />

O corpo inteiro, num movimento harmoni<strong>os</strong>o,<br />

abaixa-se como um louva-àdeus<br />

<strong>que</strong> prepara o pulo. O de<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r<br />

pousa no botão da Olympus Pen,<br />

Vitória da<br />

Conquista<br />

BA<br />

faz-se silêncio e click! O balé <strong>do</strong> fotógrafo<br />

João Brás da Silva, mais até <strong>que</strong> a<br />

graça folclórica de sua barraca de instantâne<strong>os</strong>,<br />

fez o diretor, Walter Salles,<br />

desistir de um ator, já no set de filmagem<br />

em Cruzeiro <strong>do</strong> Nordeste, a 277<br />

quilômetr<strong>os</strong> de Recife, para colocá-lo em<br />

quadro numa cena-chave de Central <strong>do</strong><br />

Brasil. A abaixadinha para o retrato não<br />

é coisa <strong>que</strong> se aprenda em escola de teatro.<br />

É resulta<strong>do</strong> de 62 an<strong>os</strong> de vida e 38<br />

dedicad<strong>os</strong> à fotografia. No início, eram<br />

<strong>os</strong> retrat<strong>os</strong> de lambe-lambe revelad<strong>os</strong><br />

com a mão no saco escuro. Depois vieram<br />

<strong>os</strong> monócul<strong>os</strong> colorid<strong>os</strong>. Hoje, as fot<strong>os</strong><br />

saem de um laboratório “one hour”<br />

no centro de Juazeiro <strong>do</strong> Norte. Só a<br />

abaixadinha não se modernizou. “G<strong>os</strong>to<br />

de fotografia <strong>por</strong><strong>que</strong>, se você tá liso,<br />

sem dinheiro, 1 hora depois já tem<br />

alguma coisa”, diz João Brás. Ele cobra<br />

R$ 3 <strong>por</strong> foto. Nas festas religi<strong>os</strong>as, chega<br />

a tirar 150 retrat<strong>os</strong> <strong>por</strong> dia. João Brás<br />

prepara-se nesta semana para levar sua<br />

tenda, a “Foto São João”, para o morro<br />

onde está a estátua branca de 25 metr<strong>os</strong><br />

de altura <strong>do</strong> Padre Cícero, em Juazeiro<br />

<strong>do</strong> Norte. É bom negócio: durante<br />

<strong>do</strong>is dias, a procissão de romeir<strong>os</strong> e<br />

rezadeiras da festa de N<strong>os</strong>sa Senhora<br />

das Candeias prenuncia dias de muito<br />

trabalho para o fotógrafo.<br />

João teve 21 filh<strong>os</strong> – mas apenas quatro<br />

ainda vivem. Uma delas acompanha<br />

o relato <strong>do</strong> pai e começa a soluçar. Por<br />

<strong>que</strong> o chororô? “Tô com saudades <strong>do</strong><br />

Pretinho.” Pretinho é o cavalinho de madeira<br />

compra<strong>do</strong> pelo Museu de Fortaleza<br />

depois <strong>do</strong> filme. Os museólog<strong>os</strong> levaram<br />

também a quase centenária câmera<br />

lambe-lambe. Pagaram R$ 1 mil <strong>por</strong><br />

tu<strong>do</strong>. Com o dinheiro, João retocou em<br />

azul-claro a pintura da casa em <strong>que</strong> mora<br />

com a família, na periferia da cidade.<br />

Torrou até o último centavo. No ano passa<strong>do</strong>,<br />

Central <strong>do</strong> Brasil esteve em cartaz<br />

no cinema <strong>do</strong> shopping. “Não deu pra<br />

ir <strong>por</strong><strong>que</strong> justamente na<strong>que</strong>la sema-<br />

Cachoeirinha<br />

Milagres<br />

Sanharó<br />

Arcoverde<br />

PE<br />

Juazeiro <strong>do</strong> Norte<br />

Cruzeiro <strong>do</strong> Nordeste<br />

Ilustrações: Carta Caffé e Cassio Amarante ÉPOCA 1 79<br />

O 78 ÉPOCA 1 DE FEVEREIRO, 1999<br />

O DE FEVEREIRO, 1999<br />

s<br />

CRUZEIRO DO NORDESTE,<br />

PERNAMBUCO<br />

Em plena seca, Arnal<strong>do</strong> da Silva,<br />

autor d<strong>os</strong> painéis vist<strong>os</strong> na cena <strong>do</strong><br />

bar, só pinta paisagens com água<br />

CENTRAL DO BRASIL,<br />

RIO DE JANEIRO<br />

Vinicius conheceu Fred d<strong>os</strong><br />

Sant<strong>os</strong> durante as filmagens,<br />

em Cruzeiro <strong>do</strong> Nordeste.<br />

Ficaram amig<strong>os</strong>. Em janeiro,<br />

Fred passou 15 dias no Rio<br />

com o astro mirim<br />

Aracatiaçu<br />

CE


CULTURA<br />

80<br />

na não tínham<strong>os</strong> dinheiro”, diz ele. O<br />

fotógrafo tem curi<strong>os</strong>idade de se ver no<br />

filme, mas imagens a 24 quadr<strong>os</strong> <strong>por</strong> segun<strong>do</strong><br />

nunca o atraíram. O <strong>que</strong> ele g<strong>os</strong>ta<br />

mesmo é de fotografia, de imagem parada.<br />

Ele e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> Ciç<strong>os</strong> das estradas<br />

<strong>que</strong> levam <strong>os</strong> romeir<strong>os</strong> até a Juazeiro <strong>do</strong><br />

Norte <strong>do</strong> Padre Cícero. Uma das facetas<br />

mais impressionantes da religi<strong>os</strong>idade<br />

<strong>do</strong> sertão nordestino é o apego à imagem<br />

– vem daí a proliferação de retrat<strong>os</strong><br />

de família nas paredes caiadas das<br />

residências e das Casas de Milagres.<br />

CARTAS QUE FALAM<br />

João Brás pega um álbum de fot<strong>os</strong> e<br />

diz, aperrea<strong>do</strong>: “Olha, não vieram buscar”.<br />

São retrat<strong>os</strong> feit<strong>os</strong> em Cruzeiro <strong>do</strong><br />

Nordeste durante <strong>os</strong> 15 dias em <strong>que</strong> ele<br />

acompanhou as filmagens de Central<br />

<strong>do</strong> Brasil. Numa das fotografias, Fernanda<br />

Montenegro aparece ao la<strong>do</strong> de<br />

Ciço. “Quer levar para dar a ele? São<br />

R$ 3.” E <strong>por</strong> R$ 3, além <strong>do</strong> selo, o retra-<br />

Os objet<strong>os</strong> <strong>que</strong> narram o cotidiano <strong>do</strong> sertão<br />

Monóculo<br />

n Num olho só, as fot<strong>os</strong><br />

<strong>do</strong> passeio no par<strong>que</strong><br />

a<strong>os</strong> <strong>do</strong>ming<strong>os</strong> e das<br />

festas religi<strong>os</strong>as<br />

Ônibus da Itapemirim<br />

n Brin<strong>que</strong><strong>do</strong> construí<strong>do</strong> com<br />

rest<strong>os</strong> de lata de cerveja<br />

to chegará às mã<strong>os</strong> de Ciço em Arcoverde,<br />

já no sertão pernambucano (a<br />

carta com a foto foi p<strong>os</strong>tada pela produção<br />

de ÉPOCA na sexta-feira passada).<br />

Ciço é Cícero Souza, 28 an<strong>os</strong>, jardineiro<br />

e construtor de brin<strong>que</strong>d<strong>os</strong> de madeira.<br />

Desemprega<strong>do</strong>. Ele aparece no filme<br />

len<strong>do</strong> uma carta para Dora:<br />

“J<strong>os</strong>efa Maria da Silva, lá em São Bento<br />

<strong>do</strong> Una”.<br />

J<strong>os</strong>efa é a ex-mulher de Ciço. Os <strong>do</strong>is<br />

se casaram quan<strong>do</strong> ela tinha 12 an<strong>os</strong> e<br />

ele, 18. Tiveram um filho (Wenderson<br />

Douglas), hoje com 7 an<strong>os</strong>. Viveram quase<br />

um ano escondid<strong>os</strong> <strong>por</strong><strong>que</strong> o pai da<br />

moça prometera dar uma coça em Ciço.<br />

Sobreviveram ao pai, mas não às brigas.<br />

“Desg<strong>os</strong>tei dele”, diz J<strong>os</strong>efa. Ela hoje<br />

mora num bairro periférico de São Bento<br />

<strong>do</strong> Una chama<strong>do</strong> Ira<strong>que</strong> – o apeli<strong>do</strong><br />

foi da<strong>do</strong> durante a Guerra <strong>do</strong> Golfo. Há<br />

<strong>do</strong>is an<strong>os</strong> eles não se viam. ÉPOCA localizou<br />

Ciço e o levou para reencontrar J<strong>os</strong>efa.<br />

Ele vai de casa em casa perguntan<strong>do</strong><br />

pela ex-mulher. Os vizinh<strong>os</strong> es-<br />

Flit<br />

CACHOEIRINHA,<br />

BAHIA<br />

O roceiro Arisval<strong>do</strong> da<br />

Silva ganhou R$ 500<br />

pelo aluguel de sua casa<br />

durante três dias para<br />

a filmagem de uma<br />

cena-chave de Central<br />

<strong>do</strong> Brasil<br />

n O principal mata<strong>do</strong>r<br />

de muriçocas <strong>do</strong><br />

Nordeste. É ao<br />

mesmo tempo a<br />

bomba e o líqui<strong>do</strong>.<br />

MILAGRES,<br />

BAHIA<br />

Por um triz,<br />

o artesão<br />

Edval<strong>do</strong> Lima<br />

d<strong>os</strong> Sant<strong>os</strong> não<br />

fez o papel<br />

de J<strong>os</strong>ué<br />

“Planto, planto<br />

canso de plantar<br />

mas planto saben<strong>do</strong><br />

<strong>que</strong> nada nascerá<br />

Apesar de tu<strong>do</strong><br />

acho <strong>que</strong> o sertão<br />

é melhor <strong>que</strong> Paris<br />

pois é a minha terra<br />

e nunca é tarde<br />

para ser feliz”<br />

poema de Edval<strong>do</strong> Lima<br />

d<strong>os</strong> Sant<strong>os</strong>, 16 an<strong>os</strong><br />

Padim Ciço<br />

n <strong>As</strong> imagens <strong>do</strong><br />

padre Cícero<br />

Romão, o<br />

padroeiro de<br />

Juazeiro <strong>do</strong><br />

Norte, zelam<br />

pel<strong>os</strong> lares de<br />

Pernambuco<br />

e Ceará<br />

ÉPOCA 1 O DE FEVEREIRO, 1999<br />

Pente de plástico<br />

n O de<strong>do</strong> médio controla<br />

o pentear de cabel<strong>os</strong>. Só<br />

existe em cores vivas:<br />

amarelo, azul e vermelho<br />

ÉPOCA 1 O DE FEVEREIRO, 1999<br />

SANHARÓ,<br />

PERNAMBUCO<br />

Antonio<br />

Marc<strong>os</strong> ganhou<br />

uma ponta no<br />

filme <strong>por</strong> seu<br />

talento como<br />

repentista<br />

“Eu sei <strong>que</strong> o FHC<br />

ganhou a reeleição<br />

Eu sei <strong>que</strong> n<strong>os</strong><br />

quatro an<strong>os</strong><br />

não teve<br />

competição<br />

E o trabalho<br />

<strong>do</strong> Fernan<strong>do</strong><br />

é enganar a nação”<br />

repente de Antonio<br />

Marc<strong>os</strong> Ferreira,<br />

15 an<strong>os</strong><br />

piam com desconfiança. Ele se debruça<br />

na janela da casa de tijolo aparente. J<strong>os</strong>efa<br />

ri nerv<strong>os</strong>a e entra corren<strong>do</strong> no quarto<br />

onde <strong>do</strong>rmem cinco pessoas. “Não<br />

<strong>que</strong>ro saber de você, você vai levar o menino.”<br />

Ele pretende apenas ver a criança.<br />

“Quan<strong>do</strong> me pediram para ditar uma<br />

carta, no filme, pensei logo no meu filho<br />

e disse o nome da J<strong>os</strong>efa.”<br />

Salles iniciou o filme com uma frase <strong>do</strong><br />

cineasta Abbas Kiar<strong>os</strong>tami na cabeça:<br />

“Faça filmes sobre cartas e não sobre o<br />

correio”. Elas pontuam a narrativa.<br />

Um homem: “Já faz quatro an<strong>os</strong> <strong>que</strong><br />

ele saiu”.<br />

Dora: “E não tem notícias, é isso?”<br />

O homem: “Não tem notícias”.<br />

J<strong>os</strong>é Ferreira da Silva, 74 an<strong>os</strong>, pai de<br />

14 filh<strong>os</strong>, desemprega<strong>do</strong>, ex-carrega<strong>do</strong>r<br />

de caminhões, é pedinte nas ruas de Arcoverde,<br />

a cidade grande (60 mil habitantes)<br />

mais próxima de Cruzeiro.<br />

Analfabeto (nunca estu<strong>do</strong>u), ele se sen-<br />

Crush<br />

n O refrigerante<br />

laranja está<br />

desaparecen<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> sul <strong>do</strong> país.<br />

É engarrafa<strong>do</strong><br />

em Juazeiro<br />

<strong>do</strong> Norte<br />

Cigarro a retalho<br />

n Enrola<strong>do</strong> à mão, com<br />

fumo local, é vendi<strong>do</strong><br />

<strong>por</strong> unidade – e não <strong>por</strong><br />

maço ou carteira<br />

ARCOVERDE,<br />

PERNAMBUCO<br />

O fervor da rezadeira Severina<br />

Lopes da Silva (de vermelho)<br />

garantiu a ela um lugar de<br />

desta<strong>que</strong> na cena da romaria<br />

noturna para N<strong>os</strong>sa Senhora das<br />

Candeias. Severina levou suas<br />

colegas de missa para o filme<br />

ta à frente de Fernanda Montenegro e<br />

começa o dita<strong>do</strong>. Na semana passada,<br />

aboleta<strong>do</strong> com a família diante <strong>do</strong> muro<br />

branco de Cruzeiro <strong>do</strong> Nordeste onde<br />

foi instalada a mesinha de Dora, ele<br />

ainda acredita <strong>que</strong> estava diante de uma<br />

escreve<strong>do</strong>ra. “Foi ali, ali mesmo, <strong>que</strong> eu<br />

mandei a carta.” Seu Zé pensava no<br />

filho João, de 18 an<strong>os</strong>. Há quatro ele deixou<br />

Pernambuco e foi morar em Castanhal<br />

<strong>do</strong> Pará. <strong>As</strong>sistiu a Central <strong>do</strong> Brasil<br />

no único cinema da cidade, reconheceu<br />

o pai e tomou um ônibus para visitá-lo.<br />

Passaram junt<strong>os</strong> o fim de 1998.<br />

A carta de Zé chegou ao filho <strong>por</strong> meio<br />

<strong>do</strong> filme (as cartas ditadas <strong>por</strong> <strong>personagens</strong><br />

<strong>reais</strong> cortad<strong>os</strong> da montagem final<br />

foram colocadas no correio).<br />

NEVE NO SERTÃO<br />

O sertão pernambucano vive uma das<br />

piores secas deste século. Há três an<strong>os</strong><br />

não cai água na caatinga. <strong>As</strong> primeiras<br />

chuvas da semana passada foram<br />

s<br />

Bálsamo<br />

n Não há mal<br />

<strong>que</strong> permaneça<br />

com um elixir<br />

abençoa<strong>do</strong>.<br />

Pode tratar<br />

desde uma bela<br />

<strong>do</strong>r de dente<br />

até fra<strong>que</strong>za<br />

d<strong>os</strong> nerv<strong>os</strong><br />

81


CULTURA<br />

JUAZEIRO DO NORTE,<br />

CEARÁ<br />

Um ator chegou a ser escolhi<strong>do</strong><br />

para interpretar o fotógrafo. Ao<br />

ver João Brás em ação,Walter<br />

Salles não hesitou em escalá-lo<br />

para viver seu próprio papel<br />

ITABUNA, BAHIA<br />

A ex-presidiária Socorro Nobre, <strong>que</strong><br />

inspirou a personagem Dora, se tornou uma<br />

espécie de amuleto da sorte <strong>do</strong> filme<br />

efêmeras – deixaram a paisagem verde<br />

mas o chão continua ressequi<strong>do</strong>. A<br />

seca está no trabalho e na pele de Arnal<strong>do</strong><br />

da Silva, o “pintor de letras”. Lá<br />

vai ele, na rua principal de Cruzeiro <strong>do</strong><br />

Nordeste, levantan<strong>do</strong> poeira a bor<strong>do</strong> de<br />

sua bicicleta Monark Superturbo azul.<br />

Na parte traseira há uma caixa de madeira<br />

em <strong>que</strong> se lê, numa das laterais:<br />

“Jesus é Paz”. Na outra: “pintor”. São<br />

de autoria de Arnal<strong>do</strong> as paisagens pintadas<br />

no bar em <strong>que</strong> o caminhoneiro, interpreta<strong>do</strong><br />

<strong>por</strong> Othon Bast<strong>os</strong>, toma cerveja<br />

com Dora. Um elemento é comum<br />

em todas as pinturas de Arnal<strong>do</strong>: a água.<br />

São lag<strong>os</strong>, cachoeiras, ri<strong>os</strong>. Há até pic<strong>os</strong><br />

cobert<strong>os</strong> de neve. Em pleno sertão, ele<br />

pinta o idílio, aquilo <strong>que</strong> as rezadeiras<br />

pedem mas nunca aparece. “Acho <strong>que</strong><br />

as pessoas têm prazer em ver água. Aqui<br />

é tão seco...”, diz. E de onde nascem<br />

as imagens se ele mal vê água? “Olho<br />

nas folhinhas de calendário.”<br />

Arnal<strong>do</strong> começou a pintar a<strong>os</strong> 12 an<strong>os</strong><br />

de idade – na época, carregava a mala<br />

Num texto distribuí<strong>do</strong> à equipe de produção antes das filmagens, Walter Salles<br />

citou algumas referências cinematográficas de seu trabalho<br />

Atuação de pe<strong>que</strong>n<strong>os</strong> atores:<br />

n O Balão Branco (Jafar<br />

Panahi) – 1995<br />

n Onde É a Casa <strong>do</strong> Meu<br />

Amigo<br />

(Abbas Kiar<strong>os</strong>tami) – 1987<br />

n Salaam Bombay! (Mira<br />

Nair) – 1988<br />

de um outro pintor. Por causa da pintura<br />

e das frases de caminhão (hoje elas<br />

são proibidas) ele aprendeu a escrever.<br />

Um caminhoneiro vin<strong>do</strong> de Teresina<br />

com destino final em Garanhuns pára<br />

seu Mercedes 1516 e pede a Arnal<strong>do</strong><br />

uma pintura na bateria. Em 15 minut<strong>os</strong><br />

(R$ 3), surge o desenho – um lago com<br />

uma canoa e gaivotas – e uma frase:<br />

“Me dá água <strong>que</strong> eu te <strong>do</strong>u luz”. A parada<br />

de beira de estrada cujas paredes<br />

foram pintadas <strong>por</strong> Arnal<strong>do</strong> se chamava<br />

Restaurante Cruzeiro. Agora, é Restaurante<br />

Central. Os 700 mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

povoa<strong>do</strong> já começaram um movimento<br />

para também rebatizar a cidadezinha<br />

como Central <strong>do</strong> Brasil.<br />

O MILAGRE DE MILAGRES<br />

Nova York? Paris? Vixe... Milagres, no<br />

interior da Bahia, a 247 quilômetr<strong>os</strong> de<br />

Salva<strong>do</strong>r, serviu de cenário para seis filmes<br />

– entre eles O Dragão da Maldade<br />

contra o Santo Guerreiro, de Glauber<br />

Cenas de multidão:<br />

n A História de Qiu<br />

Jiu (Zhang<br />

Yimou) – 1992<br />

n Salaam Bombay<br />

(Mira Nair) – 1988<br />

Seca e religião:<br />

n A Linha Geral<br />

(Einsenstein)<br />

– 1929<br />

82 ÉPOCA 1 O DE FEVEREIRO, 1999<br />

Rocha, e Os Fuzis, de Ruy Guerra. Deve<br />

ser a cidade, em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, com<br />

maior número de produções cinematográficas<br />

per capita. A 20 quilômetr<strong>os</strong> da<br />

cidade, à margem da BR-116, está a casa<br />

<strong>por</strong> <strong>trás</strong> da <strong>por</strong>teira em <strong>que</strong> J<strong>os</strong>ué e<br />

Dora buscam o pai <strong>do</strong> menino. No casebre<br />

moram há seis an<strong>os</strong> o roceiro Arisval<strong>do</strong>,<br />

27 an<strong>os</strong>, sua mulher, Elizete, de<br />

26, e as duas filhas – Maiana, de 5, e<br />

Maiara, de 3. A casa não tem luz elétrica.<br />

O aparelho de som é movi<strong>do</strong> a pilha.<br />

O fogão é a lenha. Não há geladeira.<br />

Elizete e Arisval<strong>do</strong> nunca foram ao<br />

cinema. Lembram as filmagens de há<br />

<strong>do</strong>is an<strong>os</strong>. “Veio aqui a Zazá.” Zazá era<br />

o nome da personagem de Fernanda<br />

Montenegro numa novela da TV Globo.<br />

Numa das cenas tomadas na casa da<br />

BR-116, um menino da mesma idade de<br />

J<strong>os</strong>ué trava com ele um duelo de olhares<br />

e avisa a mãe <strong>que</strong> alguém a procura.<br />

O menino foi interpreta<strong>do</strong> <strong>por</strong> Edval<strong>do</strong><br />

Lima d<strong>os</strong> Sant<strong>os</strong>, hoje com 16 an<strong>os</strong>.<br />

Depois de conhecê-lo numa das viagens<br />

de pré-produção, Walter Salles chegou<br />

a cogitá-lo como J<strong>os</strong>ué. O roteiro pedia<br />

<strong>que</strong> o menino dissesse assim: “Mãe,<br />

o garoto aí”. Edval<strong>do</strong> perguntou a Walter<br />

Salles se poderia mudar alguma coisa.<br />

“Esse mãe não está muito bom, aqui<br />

a gente tem uma forma mais carinh<strong>os</strong>a<br />

de dizer – mãinha.” Walter aquiesceu.<br />

No filme, ficou como <strong>que</strong>ria Edval<strong>do</strong>:<br />

“Mãinha, o garoto aí”. Edval<strong>do</strong> também<br />

nunca foi ao cinema (viu Central<br />

em vídeo) e hoje trabalha montan<strong>do</strong> peças<br />

de artesanato. Entrega seus trabalh<strong>os</strong><br />

a um comerciante <strong>que</strong> dá a ele R$<br />

60 <strong>por</strong> mês. Sonha em estudar direito.<br />

Viu pela primeira vez o mar quan<strong>do</strong> foi<br />

a Salva<strong>do</strong>r para <strong>os</strong> testes de câmera de<br />

Central <strong>do</strong> Brasil. Nunca mais se es<strong>que</strong>ceu<br />

<strong>do</strong> <strong>que</strong> fez diante das Panaflex de<br />

Walter Salles. “Tenho tanta saudade deles<br />

tod<strong>os</strong> <strong>que</strong> prefiro até nem pensar.”<br />

Central <strong>do</strong> Brasil deixou marcas profundas<br />

no Brasil real. n<br />

Fotografia:<br />

n Antes da Chuva (Milcho Manchevski) – 1994<br />

n Mabor<strong>os</strong>i no Hikari (Hirokazu Koreeda) – 1995<br />

n Frida (Paul Leduc) – 1984<br />

ÉPOCA 1 O DE FEVEREIRO, 1999<br />

O dia em <strong>que</strong> o cinema brasileiro foi coroa<strong>do</strong> em Hollywood<br />

Arthur Cohn,<br />

Fernanda,<br />

Vinicius<br />

e Walter<br />

festejam<br />

o Globo<br />

de Ouro<br />

“Vou me preparar para o casamento”,<br />

brincou Fernanda Montenegro quan<strong>do</strong> chegou<br />

a hora de subir ao quarto <strong>do</strong> luxu<strong>os</strong>o<br />

Beverly Hills Hotel e se arrumar para a festa<br />

de entrega <strong>do</strong> Globo de Ouro. Foram 2<br />

horas de preparativ<strong>os</strong>, entre fazer o cabelo<br />

e a maquiagem. Tu<strong>do</strong> muito discreto, ao<br />

g<strong>os</strong>to dela. A sobriedade da atriz contrastava<br />

com <strong>os</strong> modelit<strong>os</strong> escandal<strong>os</strong><strong>os</strong> típic<strong>os</strong><br />

de Hollywood. “Eu aqui me sinto uma ET,<br />

de outra galáxia”, ela repetia. “<strong>As</strong> pessoas<br />

falam comigo e dizem <strong>que</strong> eu não p<strong>os</strong>so ser<br />

a<strong>que</strong>la mulher <strong>do</strong> filme. A Dora era mesmo<br />

muito detonada. Eles devem achar <strong>que</strong><br />

a atriz foi apanhada na rua.”<br />

A toda hora algum americano desconheci<strong>do</strong><br />

abordava Fernanda. Eles lhe agradeciam,<br />

emocionad<strong>os</strong>, pelo filme. Apresentavam<br />

<strong>os</strong> filh<strong>os</strong>. No jantar <strong>que</strong> antecedeu a<br />

entrega <strong>do</strong> Globo de Ouro, várias atrizes<br />

vieram falar com ela. Duas, em particular<br />

– Meryl Streep, concorren<strong>do</strong> com Fernanda<br />

ao prêmio de melhor atriz, e Kathy Bates<br />

–, vêm <strong>do</strong> teatro, como a brasileira. “É<br />

engraça<strong>do</strong>, elas vêm assim, de igual para<br />

igual. Som<strong>os</strong> de uma mesma família”, diz.<br />

Fernanda não vê a hora de concluir o trabalho<br />

em torno de Central e “cuidar da vida”.<br />

E <strong>os</strong> convites de Hollywood? Ela recebeu<br />

<strong>do</strong>is roteir<strong>os</strong> de filmes american<strong>os</strong>, mas<br />

não teve tempo de ler. A atriz pensa em<br />

retomar <strong>os</strong> workshops de dramaturgia com<br />

jovens, <strong>que</strong> fez em 1998, no Brasil. E o Oscar?<br />

“Ainda é uma abstração. A gente ainda<br />

não sabe se vai lá pagar o mico ou não.”<br />

Êxo<strong>do</strong>, estrada:<br />

Último passo rumo ao Oscar<br />

n Lamerica (Gianni Amelio) – 1994<br />

A equipe de Central já passou <strong>por</strong> tant<strong>os</strong><br />

festivais (e prêmi<strong>os</strong>) <strong>que</strong> tira de letra o<br />

Globo de Ouro. Estão imunes ao clima de<br />

“já ganhou” (até <strong>por</strong><strong>que</strong> já ganharam) e encaram<br />

tu<strong>do</strong> com muita tranqüilidade. Até<br />

a comemoração da vitória é calma, sem<br />

a<strong>que</strong>la atracação de comemoração de gol.<br />

Um d<strong>os</strong> mais tranqüil<strong>os</strong> é o jovem Vinicius<br />

de Oliveira, o engraxate escolhi<strong>do</strong> <strong>por</strong><br />

Salles para o papel de J<strong>os</strong>ué. Vini, como é<br />

chama<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> colegas, tinha 9 an<strong>os</strong> quan<strong>do</strong><br />

fez o filme. Hoje tem 12. É um rapaz cala<strong>do</strong>,<br />

observa<strong>do</strong>r, muito diferente <strong>do</strong> menino<br />

emotivo e extroverti<strong>do</strong> <strong>que</strong> ele representa<br />

no filme. Depois de se tornar ator, Vinicius<br />

se apaixonou pela capoeira. “Ele faz<br />

muito bem”, diz Salles. De todas as cidades<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>que</strong> conheceu (Nova York, L<strong>os</strong><br />

Angeles, Berlim, Veneza etc.) para promover<br />

o filme, qual é a favorita de Vinicius?<br />

Paris. Mas ele foi à França não pelo filme,<br />

mas para as gravações d<strong>os</strong> 500 an<strong>os</strong> <strong>do</strong> Descobrimento,<br />

da Rede Globo, na Copa. “Foi<br />

<strong>por</strong> isso <strong>que</strong> ele g<strong>os</strong>tou”, brinca Salles. “Por<br />

causa da Copa.” Aliás Salles confessa: “O<br />

cinema não me faz sofrer. Eu sofro pelo futebol”.<br />

Torcer pelo Botafogo é muito mais<br />

duro <strong>do</strong> <strong>que</strong> competir pelo Oscar.<br />

Vinicius está com uma marca de batom<br />

vermelho na bochecha. Levou muit<strong>os</strong> beij<strong>os</strong><br />

de atrizes fam<strong>os</strong>as. “A Sharon Stone também?”<br />

“Não”, diz, decepciona<strong>do</strong>. “Essa era<br />

a <strong>que</strong> ele mais <strong>que</strong>ria”, ri Fernanda. “Mas<br />

só apareceram outras, mais velhas.” A melhor<br />

frase da noite, quan<strong>do</strong> tod<strong>os</strong> já <strong>estão</strong><br />

voltan<strong>do</strong> ao hotel, cansad<strong>os</strong> de comemorar<br />

a vitória de Central <strong>do</strong> Brasil, é de Fernanda<br />

para Vinicius: “Olha, menino, não<br />

pensa <strong>que</strong> é isso a vida inteira”, diz, como<br />

se Dora estivesse falan<strong>do</strong> com J<strong>os</strong>ué. “A gente<br />

não ganha sempre, não. A vida é difícil.”<br />

Jorge Pontual, de L<strong>os</strong> Angeles<br />

Cores, Nordeste:<br />

n O Dragão da Maldade Contra o Santo<br />

Guerreiro (Glauber Rocha) – 1968<br />

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