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FORA DOS TRILHOS - Estado do Paraná

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Requião vistoria início da construção da Ferroeste<br />

Trabalha<strong>do</strong>res fixan<strong>do</strong> trilhos Solda<strong>do</strong>s carregan<strong>do</strong> trilhos<br />

8<br />

Trabalha<strong>do</strong>res e solda<strong>do</strong>s que construíram a ferrovia num dia de confraternização<br />

Perfuração <strong>do</strong> túnel de Nova Laranjeiras<br />

José Carlos Senden, presidente da Ferroeste durante a construção<br />

FERROESTE<br />

<strong>FORA</strong> <strong>DOS</strong> <strong>TRILHOS</strong><br />

Ferrovia que custou<br />

quase R$ 1bilhão<br />

foi leiloada por<br />

RS 25 milhões<br />

Leia também:<br />

O leilão no qual<br />

o ex-governa<strong>do</strong>r<br />

Jaime Lerner<br />

“Torrou” a Ferroeste.<br />

Pág. 2<br />

Os compromissos que<br />

a Ferropar não<br />

cumpre desde 1997.<br />

Pág. 3<br />

A história da última e<br />

mais barata ferrovia<br />

construída no país.<br />

Págs. 4 e 5<br />

O que o governo<br />

pensa da Ferroeste.<br />

Pág. 7<br />

Edição Especial


“<br />

L<br />

Aconstrução de<br />

uma ferrovia<br />

que ligasse o<br />

Oeste <strong>do</strong> <strong>Paraná</strong> aos<br />

portos de Paranaguá<br />

era um sonho que, por<br />

mais de cem anos,<br />

desafiou várias gerações<br />

de paranaenses.<br />

Desde que surgiu o traça<strong>do</strong> oficial da linha de<br />

ferro, em 1883, os paranaenses lutavam para<br />

construí-la.<br />

Mas foi só entre 1991 e<br />

1994, durante o primeiro mandato de<br />

Roberto Requião no Governo <strong>do</strong><br />

<strong>Esta<strong>do</strong></strong>, e com o trabalho conjunto de<br />

centenas de paranaenses com <strong>do</strong>is<br />

batalhões <strong>do</strong> Exército brasileiro, que<br />

finalmente a empreitada deixou de<br />

ser um sonho. Nascia ali a Estrada de<br />

Ferro <strong>Paraná</strong> Oeste S/A (Ferroeste) e<br />

seus 248 quilômetros entre Cascavel<br />

e Guarapuava, entre os celeiros <strong>do</strong><br />

Oeste e os estaleiros de Paranaguá.<br />

amento que essa obra, que custou tanto aos<br />

cofres <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong> e que foi tão significativa,<br />

tenha si<strong>do</strong> praticamente <strong>do</strong>ada para a<br />

iniciativa privada. Fico mais indigna<strong>do</strong> ainda<br />

quan<strong>do</strong> o presidente da Ferropar diz que vai me<br />

fazer mudar de opinião. Será que ele queria me<br />

corromper? Fazer o tipo de negócio que eles<br />

fizeram no governo passa<strong>do</strong>? Não pode ter si<strong>do</strong><br />

inútil o trabalho patriótico <strong>do</strong> nosso Exército, com<br />

jornadas de 24 horas de trabalho, e o monumental<br />

A ferrovia custou perto de US$ 340<br />

milhões, o equivalente a quase R$ 1 bilhão em<br />

valores atuais, e foi paga totalmente com<br />

recursos <strong>do</strong>s paranaenses, o que exigiu um<br />

enorme esforço <strong>do</strong> Governo <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong> na época<br />

e foi considera<strong>do</strong> um marco para a história<br />

ferroviária brasileira.<br />

Em 1996, enquanto os agricultores e<br />

empresários <strong>do</strong> Oeste ainda comemoravam a<br />

conquista, o ex-governa<strong>do</strong>r Jaime Lerner<br />

resolveu “torrar” a ferrovia e entregá-la para que<br />

fosse explorada pela iniciativa<br />

privada.<br />

Em 1996 o ex-<br />

Foi um golpe cruel contra<br />

governa<strong>do</strong>r<br />

os agricultores. O leilão organiza<strong>do</strong><br />

Jaime Lerner<br />

pelo governo Lerner para vender o<br />

resolveu “torrar”<br />

direito de exploração da Ferroeste<br />

a ferrovia e<br />

foi um desastre, para se dizer o<br />

entregá-la para<br />

mínimo.<br />

que fosse<br />

O leilão foi realiza<strong>do</strong> no<br />

explorada pela<br />

dia 10 de dezembro de 1996, três<br />

iniciativa<br />

dias antes <strong>do</strong> Governo Federal<br />

privada.<br />

leiloar os 6,5 mil quilômetros de<br />

ferrovias no Sul <strong>do</strong> país. Por isso,<br />

apenas a Ferrovia <strong>do</strong> <strong>Paraná</strong> S/A (Ferropar), se<br />

2<br />

PALAVRA DO<br />

GOVERNADOR<br />

esforço econômico realiza<strong>do</strong> na minha primeira<br />

gestão. Já determinei à Ferroeste que inicie o<br />

processo administrativo para que Governo <strong>do</strong><br />

<strong>Esta<strong>do</strong></strong> possa reassumir a ferrovia. A Ferropar<br />

teve sete anos para começar a pagar pela<br />

exploração e não cumpriu nenhuma cláusula <strong>do</strong><br />

contrato. Vou fazer a Ferroeste voltar para os<br />

trilhos.”<br />

Roberto Requião<br />

Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>Paraná</strong>.<br />

O LEILÃO DE UM SONHO<br />

Lerner entregou, por uma bagatela, a ferrovia que levou mais de um século<br />

para ser construída pelos paranaenses.<br />

interessou pelo negócio.<br />

A Ferropar ganhou o direito de explorar<br />

a ferrovia por 30 anos pela bagatela de R$ 25,6<br />

milhões (o preço mínimo <strong>do</strong> leilão), que, depois<br />

de três anos de carência, passaria a pagar em<br />

suaves prestações trimestrais de pouco mais de<br />

R$ 1 milhão. Apesar disso, até hoje só pagou 26%<br />

<strong>do</strong> valor das prestações e não cumpriu os demais<br />

compromissos <strong>do</strong> edital de licitação e <strong>do</strong> contrato.<br />

Ferropar e integrantes <strong>do</strong> governo Lerner batem o martelo<br />

OS COMPROMISSOS<br />

QUE A FERROPAR<br />

NUNCA RESPEITOU<br />

No dia 15 de janeiro passa<strong>do</strong>, a Ferropar<br />

pagou apenas R$ 553 mil da parcela trimestral de<br />

R$ 3,2 milhões que deveria pagar ao Governo <strong>do</strong><br />

<strong>Esta<strong>do</strong></strong> pela exploração econômica da Ferroeste e<br />

<strong>do</strong> terminal de Cascavel.<br />

A parcela era a primeira que a Ferropar<br />

deveria pagar integralmente ao Governo desde<br />

1) Em dezembro de 1996, a Ferropar venceu o leilão<br />

da Ferroeste. Como único interessa<strong>do</strong>, ofereceu o<br />

lance mínimo: R$ 25,6 milhões.<br />

2) O consórcio pagou R$ 1,284 milhão (5% <strong>do</strong><br />

lance) à vista e ganhou três anos de carência para se<br />

capitalizar e começar a pagar o valor restante, que<br />

foi parcela<strong>do</strong> em 108 parcelas trimestrais de pouco<br />

mais de R$ 1 milhão, inician<strong>do</strong> em 15/01/2000 e<br />

terminan<strong>do</strong> em 15/10/2026<br />

3) Em 31 de março de 2000, a Ferropar avisa que<br />

não honraria as prestações. O ex-governa<strong>do</strong>r Jaime<br />

Lerner autorizou a Empresa a deixar de pagar 74%<br />

<strong>do</strong> valor das parcelas por 4 anos. Em valores atuais,<br />

a Ferropar deixou de pagar R$ 26 milhões.<br />

4) A partir de 2004, a Ferropar deveria começar a<br />

pagar o valor integral das parcelas trimestrais e<br />

também iniciar o ressarcimento ao Governo <strong>do</strong>s R$<br />

26 milhões diferi<strong>do</strong>s pelo ex-governa<strong>do</strong>r Jaime<br />

Lerner. Por isso, a parcela vencida em 15 de janeiro de 2004<br />

totalizava R$ 3,2 milhões.<br />

5) Embora a Ferropar devesse ter investi<strong>do</strong> R$ 126 milhões<br />

na ferrovia entre 1997 e 2003, investiu apenas 3,6 milhões,<br />

não adquiriu nenhuma locomotiva e nenhum vagão e não<br />

cumpriu as metas de transporte.<br />

6) Em 2003, por exemplo, a meta era<br />

transportar 3,1 milhões de toneladas, mas<br />

só chegou a 1,1 milhão. De 1997 a 2003,<br />

a meta era de 16,7 milhões de toneladas,<br />

mas não atingiu 6,6 milhões. Ou seja, por<br />

não possuir frota, a Ferropar deixou de<br />

transportar mais de 10 milhões de<br />

toneladas no perío<strong>do</strong>.<br />

7) Consideran<strong>do</strong>-se que um caminhão<br />

padrão comporta 25 toneladas, foram<br />

necessárias mais de 400 mil viagens para<br />

transportar o volume que a Ferropar<br />

deixou de carregar.<br />

Locomotiva de 2,5 mil HPs de potência<br />

que a Ferropar deveria ter adquiri<strong>do</strong>.<br />

1996, quan<strong>do</strong> venceu o leilão e, 1997, quan<strong>do</strong><br />

passou a explorar a Ferroeste. O contrato tem<br />

validade por 30 anos.<br />

Esse foi mais um <strong>do</strong>s compromissos<br />

assumi<strong>do</strong>s e não cumpri<strong>do</strong>s pela Ferropar. Saiba<br />

detalhes <strong>do</strong>s outros compromissos não respeita<strong>do</strong>s<br />

pela empresa:<br />

Ferropar investiu apenas R$ 3,6 milhões na ferrovia entre 1997 e 2003<br />

8) Assim, a inoperância da Ferropar obrigou os<br />

agricultores a escoar sua produção por caminhões,<br />

pagan<strong>do</strong> frete mais caro e diminuin<strong>do</strong> seus lucros,<br />

enquanto o <strong>Paraná</strong> sofreu com o desgaste da sua malha<br />

ro<strong>do</strong>viária e com as imensas filas de caminhões na BR-277<br />

e no Porto.<br />

3<br />

Locomotiva com metade da potência<br />

usada pelo consórcio.<br />

9) A Ferropar deveria adquirir, até 2003, 56<br />

locomotivas de 2,5 mil HPs de potência e 673 vagões<br />

com capacidade de 60 toneladas cada, mas não<br />

adquiriu nenhuma locomotiva e nenhum vagão. Os<br />

seus sócios montaram uma outra empresa,<br />

Transferro, que alugou à Ferropar a frota hoje<br />

disponível: apenas 17 locomotivas, com metade da<br />

potência exigida, e 250 vagões, de somente 45<br />

toneladas.<br />

10) No curioso contrato entre a Ferropar e a<br />

Transferro, o valor <strong>do</strong> aluguel <strong>do</strong>s equipamentos está<br />

acima <strong>do</strong> valor de merca<strong>do</strong> e a mesma pessoa assina<br />

como diretor-presidente de ambas as empresas.<br />

11) Em 1998, por não haver adquiri<strong>do</strong> a frota<br />

necessária, a Ferropar foi obrigada a contar com a<br />

frota da ALL e aceitá-la como sócia, com 25% das<br />

ações.<br />

12) Em 2003, o governa<strong>do</strong>r Roberto Requião<br />

assume o Governo <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong> pela segunda vez e<br />

determina a execução <strong>do</strong> contrato. A Ferroeste identifica a<br />

inadimplência da Ferropar e inicia processo administrativo<br />

para a extinção <strong>do</strong> contrato por caducidade.<br />

13) Requião determina também, que a Ferroeste fiscalize o<br />

frete, cobra<strong>do</strong> pela Ferropar a partir <strong>do</strong> frete ro<strong>do</strong>viário,<br />

mesmo ten<strong>do</strong> a ferrovia um custo muito menor que o <strong>do</strong>s<br />

caminhões. A Ferroeste consegue reduzir<br />

o frete em 30%.<br />

14) No dia 15 de janeiro de 2004 venceu a<br />

primeira parcela que a Ferropar deveria<br />

quitar integralmente depois <strong>do</strong><br />

diferimento de quase 76% entre 2000 e<br />

2003. A Empresa não paga. Requião<br />

determina que a Ferroeste decrete a<br />

caducidade <strong>do</strong> contrato e retome o<br />

controle da ferrovia.<br />

15) Um dia depois, a Justiça de Santa<br />

Catarina determina a apreensão de 15<br />

locomotivas e 203 vagões aluga<strong>do</strong>s da<br />

Transferro. Motivo: falta de pagamento.


AEstrada de<br />

Ferro <strong>Paraná</strong><br />

Oeste S/A<br />

(Ferroeste) começou a<br />

se tonar um desafio para os paranaenses em<br />

1883, quan<strong>do</strong> o ministro Alves de Araújo<br />

lançou o Programa Ferroviário Nacional.<br />

Ali estava o traça<strong>do</strong> da ferrovia de 248<br />

quilômetros que ligaria os celeiros <strong>do</strong> rico<br />

Oeste paranaense aos estaleiros <strong>do</strong> Porto de<br />

Paranaguá. E também o esboço <strong>do</strong>s 171<br />

quilômetros entre Cascavel e Guaíra.<br />

UMA PARCERIA DE AMOR PELO BRASIL<br />

A história da última e mais barata ferrovia já construída no país<br />

A construção da ferrovia foi<br />

discutida durante vários governos, de<br />

Requião durante assinatura <strong>do</strong> convênio com militares (1991-94)<br />

Lupion a José Richa. Mas foi durante o<br />

primeiro mandato de Roberto Requião no<br />

Governo <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong> (entre 1991 e 94),<br />

precisamente no dia 15 de março de 1991,<br />

portanto mais de cem anos após o<br />

Programa Ferroviário Nacional e depois<br />

de muita saliva gasta em incontáveis<br />

reuniões, que o sonho finalmente foi<br />

concretiza<strong>do</strong>.<br />

E pela primeira vez ouviu-se o<br />

apito da locomotiva que, a partir de então,<br />

serpentearia de Guarapuava até Cascavel,<br />

rangen<strong>do</strong> entre municípios de Cantagalo,<br />

Laranjeiras <strong>do</strong> Sul, Nova Laranjeiras,<br />

Guaraniaçu e Ibema.<br />

A Ferroeste custou quase US$ 340<br />

milhões, o equivalente a R$ 1 bilhão em<br />

valores atuais, foi construída totalmente<br />

com recursos <strong>do</strong>s paranaenses e contou<br />

com a mão-de-obra de <strong>do</strong>is batalhões <strong>do</strong><br />

Exército brasileiro: os ferroviários de<br />

Lages (SC) e de Araguari (MG).<br />

4<br />

América Latina Logística Ferroeste Linha Projetada em 1883<br />

Exército vai pavimentar 133 Km da Estrada <strong>do</strong> Cerne (2003)<br />

A parceria entre o governo e o<br />

exército possibilitou uma drástica<br />

redução nos custos da obra. Estu<strong>do</strong>s<br />

encomenda<strong>do</strong>s na época à Canadian<br />

Pacific Consulting Service (CPCS)<br />

estimavam um custo de US$ 476 milhões.<br />

“Considero a Ferroeste a maior<br />

obra já realizada pelo Exército desde a<br />

década de 70”, afirmou, em novembro<br />

passa<strong>do</strong>, o general Ítalo Avena, diretor <strong>do</strong><br />

Departamento de Obras de Cooperação,<br />

durante a assinatura <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> convênio<br />

entre o Governo <strong>do</strong> <strong>Paraná</strong> e o Exército.<br />

Desta vez, os militares vão<br />

pavimentar os 133 quilômetros da PR-<br />

090, a Estrada <strong>do</strong> Cerne, entre Curitiba e<br />

Piraí <strong>do</strong> Sul. “Já tivemos com o<br />

governa<strong>do</strong>r Roberto Requião uma<br />

parceria que posso afirmar ter si<strong>do</strong> muito<br />

boa, porque a obra foi considerada a mais<br />

barata já construída no país. Hoje temos<br />

outra oportunidade de um encontro de<br />

vontades, que atenderá aos interesses <strong>do</strong><br />

Construção <strong>do</strong> túnel de 390 metros em Nova Laranjeiras Ferrovia corta muralha de pedras em Nova Laranjeiras<br />

5<br />

<strong>Esta<strong>do</strong></strong> e, ao mesmo tempo, dará<br />

oportunidade de treinamento aos nossos<br />

homens”, garantiu Savena.<br />

A Ferroeste nasceu com propósitos<br />

claros: baratear os custos da exportação da<br />

produção paranaense e acelerar o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong>, princi-<br />

palmente da agricultura, reduzin<strong>do</strong> o valor<br />

<strong>do</strong>s fretes de insumos agrícolas, adubos e<br />

calcário corretivo para os agricultores <strong>do</strong><br />

Oeste. Em prol de sua construção também<br />

trabalharam empresários, agricultores,<br />

políticos e grandes cooperativas de to<strong>do</strong> o<br />

<strong>Paraná</strong>.


Opresidente <strong>do</strong><br />

Conselho de<br />

Usuários da<br />

Ferroeste, o empresário<br />

agroindustrial<br />

Alcides Cavalca<br />

Neto, conta que os<br />

agricultores <strong>do</strong> Oeste<br />

sempre sonharam<br />

com uma ferrovia que<br />

pudesse escoar a<br />

produção até o porto<br />

de Paranaguá com um<br />

custo menor que o<br />

transporte ro<strong>do</strong>viário.<br />

“Acompanhamos com ansiedade a<br />

construção da Ferroeste no primeiro mandato <strong>do</strong><br />

governa<strong>do</strong>r Roberto Requião. Nossa expectativa<br />

era de exportar a produção logo na safra de 1995,<br />

depois que a construção da ferrovia foi finalizada.<br />

Mas não foi o que aconteceu. Isso porque a<br />

ferrovia ficou ‘a<strong>do</strong>rmecida’ durante to<strong>do</strong> o<br />

primeiro mandato <strong>do</strong> Jaime Lerner. Como não<br />

havia locomotivas e vagões, não transportamos<br />

nada. Ela só começou a funcionar três anos depois,<br />

e mesmo assim de forma precária. A ferrovia tem<br />

muito mais para oferecer”, afirma Cavalca.<br />

Segun<strong>do</strong> ele, que é presidente <strong>do</strong><br />

Moinho Iguaçu e em 2002 exportou cerca de 95 mil<br />

O QUE OS USUÁRIOS<br />

PENSAM DA FERROPAR<br />

toneladas de milho e soja, só a área de 120<br />

quilômetros ao re<strong>do</strong>r da ferrovia produz 6<br />

milhões de toneladas para exportação. Isso já<br />

desconta<strong>do</strong> o volume que é compra<strong>do</strong> pelas<br />

indústrias da região.<br />

“Se transportássemos 70% dessa<br />

produção através da ferrovia já estaria ótimo.<br />

Isso evitaria as filas de caminhões na BR e no<br />

porto e tornaria a produção <strong>do</strong> nosso <strong>Esta<strong>do</strong></strong><br />

ainda mais competitiva no merca<strong>do</strong> externo,<br />

porque o frete ferroviário é mais barato que o<br />

ro<strong>do</strong>viário. Produção para ser transportada<br />

existe e a Ferropar sabe disso”, explica Cavalca.<br />

O empresário acredita que o<br />

desgaste das ro<strong>do</strong>vias seria menor com a<br />

ampliação da utilização <strong>do</strong> transporte<br />

ferroviário e, com isso, o governo pouparia<br />

recursos em manutenção. “Precisamos fazer a<br />

ferrovia funcionar, seja com a administração<br />

pública ou da iniciativa privada. O que não<br />

podemos permitir é que o povo <strong>do</strong> <strong>Paraná</strong> tenha<br />

investi<strong>do</strong> tanto numa ferrovia que agora não<br />

funciona ”, garante.<br />

Outros problemas aponta<strong>do</strong>s pelo<br />

empresário são a falta de logística, de uma<br />

melhorar infra-estrutura da Ferroeste e o preço<br />

<strong>do</strong> frete. “Se o terminal tivesse condição de<br />

armazenar parte da produção, evitaríamos as<br />

filas em Paranaguá, porque o terminal seria uma<br />

6<br />

Grolli: ferrovia era reivindicação <strong>do</strong>s produtores<br />

espécie de depósito <strong>do</strong> porto em Cascavel.<br />

Atualmente há três armazéns no terminal da<br />

Ferroeste e to<strong>do</strong>s são particulares”, explica.<br />

O presidente das quatro maiores<br />

cooperativas <strong>do</strong> <strong>Paraná</strong> (Copavel, Cooperativa<br />

Lar, Copacol e Cevale), que juntas faturaram R$ 3<br />

bilhões no ano passa<strong>do</strong>, Dilvo Grolli, explica que<br />

sozinho o Oeste é responsável por 40% de toda a<br />

produção de grãos <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong>.<br />

A expectativa <strong>do</strong> vice-governa<strong>do</strong>r e<br />

Secretário da Agricultura, Orlan<strong>do</strong> Pessuti, é que<br />

a safra 2003/2004 chegue a 30 milhões de<br />

toneladas.<br />

Pessuti, Cavalca (centro) e Samuel: Ferroeste pode evitar filas de caminhões na BR e no Porto de Paranaguá O Oeste é responsável por 40% da produção de grãos <strong>do</strong> <strong>Paraná</strong>, que será de 30 milhões de toneladas<br />

No dia 16 de janeiro<br />

passa<strong>do</strong>, o governa<strong>do</strong>r<br />

Roberto<br />

Requião determinou que<br />

a direção jurídica da<br />

Ferroeste, proprietária<br />

da ferrovia, iniciasse o<br />

processo administrativo<br />

para que o Governo<br />

retome o controle da<br />

ferrovia.<br />

A decisão <strong>do</strong><br />

governa<strong>do</strong>r foi tomada<br />

um dia após o vencimento da parcela trimestral de<br />

R$ 3,2 milhões que a Ferropar deveria pagar pela<br />

exploração da ferrovia. A Empresa depositou<br />

apenas R$ 553 mil. “A Ferroeste foi construída<br />

com muito sacrifício durante o meu primeiro<br />

mandato e custou quase R$ 1 bilhão aos<br />

paranaenses. A Ferropar teve sete anos para<br />

começar a pagar o que deve ao Governo e aos<br />

paranaenses pela exploração da ferrovia”,<br />

explicou Requião.<br />

O governa<strong>do</strong>r também rejeitou o pedi<strong>do</strong><br />

da direção da Ferropar, que queria um prazo de<br />

Roeder: Ferroeste é estratégica para o Oeste<br />

O QUE O GOVERNO<br />

PENSA DA FERROESTE<br />

seis meses para renegociar a dívida. “A Ferropar<br />

é uma empresa que fracassou”, afirmou<br />

Requião.<br />

Já o Secretário <strong>do</strong>s Transportes e<br />

presidente <strong>do</strong> Conselho de Administração da<br />

Ferroeste, Waldyr Pugliesi, lembra que a missão<br />

da “Ferrovia da Soja”, como ficou conhecida a<br />

Ferroeste durante a construção, era escoar a<br />

produção agrícola <strong>do</strong> Oeste e Su<strong>do</strong>este <strong>do</strong><br />

<strong>Paraná</strong>.<br />

“A intenção era<br />

baratear o frete e tornar<br />

nossa produção ainda mais<br />

competitiva no exterior.<br />

Isso porque a ferrovia é<br />

capaz de transportar<br />

grandes quantidades com<br />

um custo final muito<br />

inferior ao custo ro<strong>do</strong>viário.<br />

Mas não foi o que<br />

ocorreu depois que o<br />

Lerner resolver leiloar a<br />

Ferroeste”, garante.<br />

DÍVIDA<br />

O atual presidente<br />

da Ferroeste, Martin<br />

Roeder, lembra que, ao<br />

reassumir a ferrovia, o<br />

Governo <strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong> pretende discutir com os<br />

usuários, os agricultores e as cooperativas a<br />

melhor forma de administrá-la. “O governo<br />

anterior leiloou a Ferroeste como se ela fosse um<br />

problema, quan<strong>do</strong>, na verdade, ela é estratégica<br />

para a Região Oeste e para o <strong>Paraná</strong>”.<br />

Já o diretor Administrativo, Financeiro<br />

e Jurídico da Ferroeste, Samuel Gomes,<br />

afirma que a dívida da Ferropar com o Governo<br />

<strong>do</strong> <strong>Esta<strong>do</strong></strong> é de R$ 28,7 milhões.<br />

“A Ferroeste é cre<strong>do</strong>ra da Ferropar em<br />

R$ 26 milhões, valor que, em razão <strong>do</strong><br />

diferimento da<strong>do</strong> à empresa em 2000, esta<br />

deixou de pagar pela exploração da ferrovia nos<br />

últimos quatro anos. Isso até 15 de janeiro.<br />

Quan<strong>do</strong> a Ferropar pagou apenas R$ 553 mil da<br />

parcela de R$ 3,2 milhões, e sua dívida com a<br />

Ferroeste subiu para R$ 28,7 milhões", explica.<br />

7<br />

Pugliesi: missão da ferrovia era escoar a produção<br />

OLHE LEIA<br />

Segun<strong>do</strong> Gomes, a<br />

indenização a que a Ferropar tem<br />

direito, relativa aos investimentos<br />

que fez em bens reversíveis, soma<br />

apenas R$ 3,6 milhões. “Logo, já<br />

desconta<strong>do</strong> o valor da indenização<br />

pelos investimentos da<br />

Ferropar, a Ferroeste deve ser<br />

ressarcida em R$ 25,1 milhões”,<br />

afirma.<br />

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