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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

deixar de lado esses aspectos, e prosseguir a análise apenas no<br />

campo metafísico.<br />

— Bom, aceito. Deixemos, pois esse aspecto. Mas perguntaria<br />

o seguinte: se as coisas conhecem mutações, e sofrem<br />

tais mutações, foram elas criadas por esse ser supremo?<br />

— Sim, foram.<br />

— Elas, portanto, não existiram sempre?<br />

— Não.<br />

— Então tiveram um princípio, pois todas as coisas finitas<br />

têm um princípio pelo menos, não é?<br />

— Sem dúvida.<br />

— Nesse caso, a criação teve um princípio, um começo?<br />

— Que as coisas criadas tiveram um começo, não há dúvida.<br />

Mas a criação em geral pode não ter tido um começo.<br />

— Mas se todas as coisas finitas começaram; ou seja, tiveram<br />

um começo, a criação, que é composta de coisas finitas,<br />

deve ter tido um começo, sob pena de admitirmos que sempre<br />

houve coisas finitas, e teríamos, então, um infinito quantitativo<br />

de coisas finitas no passado.<br />

— Reconheço que há aqui grande dificuldade em res7<br />

ponder.<br />

Pitágoras manifestava certo embaraço. Reinaldo percebeu-o,<br />

e respeitou a sua indecisão, preferindo calar-se, e aguardar<br />

as palavras que não demoraram:<br />

— Entre os escolásticos, não estamos aqui em matéria pacífica.<br />

Tomás de Aquino conclui que, ontologicamente, não há<br />

nenhuma incompatibilidade em ter a criação um início, o dia<br />

um, ou em ser ela ab aeterno, isto é, existindo de toda eternidade.<br />

— Mas, no primeiro caso haveria um início, um antes da<br />

criação. O ser supremo esteve um período sem nada fazer, e<br />

depois fêz. As palavras de Reinaldo provocavam agora um<br />

interesse extraordinário. A ansiedade era geral. Compreendia-se<br />

que o diálogo havia caído agora num ponto de magna<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> n»r»<br />

dificuldade teórica. Pitágoras havia mostrado a fraqueza du<br />

tese dos adversários, mas eram agora estes que o colocavam<br />

em dificuldades. Pitágoras percebeu o ambiente que se formava,<br />

e não dava mostras de fraqueza, embora não pudesse<br />

deixar de manifestar certa preocupação. Foi quando começou<br />

a falar:<br />

— O que nos perturba compreender tais coisas é o tempo,<br />

esse meio da sucessão. Mas o tempo é das coisas que sucedem,<br />

que mudam, se transformam; é, em suma, da criação e não<br />

criador. Este é eterno. Não há nele um antes e um depois.<br />

Essa divisão é do tempo. A antecedência do ser supremo à<br />

criação é transcendente a esta, e não imanente. Se fosse imanente,<br />

então, sim, haveria um antes e um depois. Na concepção<br />

materialista, a matéria, que é imanente ao mundo, ofereceria<br />

essas dificuldades que me propõem, porque ela ou sempre<br />

se transformou, mutacionou, e, neste caso, teríamos a aporia<br />

da quantidade infinita, de que todos já falamos, ou então permaneceu<br />

estática durante um período de duração, que seria por<br />

sua vez infinito. Para a concepção materialista, a mutação<br />

heterogénea do cosmos sempre se deu; do contrário cai nos<br />

absurdos da matéria extática por uma duração infinita, e que<br />

subitamente pôs-se a heterogeneizar-se mutacionalmente, ou,<br />

então, houve mutações em quantidade infinita, o que dá o infinito<br />

numérico quantitativo. De qualquer forma, essa posição<br />

encontra-se também nas mesmas dificuldades, com a agravante<br />

de serem mais numerosas e mais difíceis de solucionar, ainda<br />

acrescentando-se o problema da simplicidade da matéria, que<br />

é negada, e outros que já vimos. A concepção que aceito oferece<br />

menos dificuldades, e não implica absurdos. Consequentemente,<br />

é ontologicamente mais segura que a outra, porque<br />

se funda em bases ontológicas rígidas.<br />

Foi, então, que Paulsen interrompeu:<br />

— Creio que já perdemos o critério que havíamos estabelecido<br />

para as nossas discussões. Esta, que ora se apresenta,<br />

é uma delas. Estamos já num emaranhado de problemas e<br />

dificilmente poderemos sair deles. Seria preferível simplificar<br />

o diálogo e atacar de frente um ponto, pois, do contrário,<br />

daqui a pouco estaremos no campo das religiões, e a discutir

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