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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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192 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

Reinaldo fêz uma pausa. Olhou para os outros, na expectativa<br />

de um auxílio. Mas todos silenciavam, concordando que<br />

não havia outro tipo de mutação. Reinaldo, então, respondeu:<br />

— Sem dúvida. Não há possibilidades de sofrer mutações.<br />

— E' imutável, portanto?<br />

— Sim, é imutável.<br />

— Mas o que verificamos na nossa experiência é que as<br />

coisas sensíveis, que compõem o nosso mundo conhecido,- são,<br />

contudo, mutáveis. Não são?<br />

— Parecem ser, sem dúvida.<br />

— Digamos que seja uma ilusão nossa mutabilidade das<br />

coisas. Mas seja como fôr, há mutabilidade pelo menos nas<br />

nossas ilusões, em nossos pensamentos. Há alguma mutabilidade<br />

de qualquer maneira. E se o ser primeiro é imutável,<br />

tais mutações não podem ser nele, mas em outro ser que não<br />

é êle, mas dele, pois já vimos que nada pode existir sem êle.<br />

Concorda?<br />

— Concordo, em parte. Mas a imutabilidade desse ser<br />

primeiro viria prejudicar a sua tese, arriscou Reinaldo, como<br />

que antevendo uma possibilidade.<br />

— Vejamos como?<br />

— Não disse você que quando há pensamento vário, há<br />

mutação?<br />

— Disse, sim. Mas é preciso considerar bem ê3te ponto,<br />

sob pena de confusão. Essa mutação não seria nenhuma das<br />

que já examinamos. Não há corrupção nem geração no ser<br />

que pensa, nem aumento nem diminuição, nem deslocamento<br />

no espaço. Res + aria apenas uma alteração. Mas essa alteração<br />

poderia ser psíquica. O ser que pensa continua sendo o<br />

que é, quando pensa. O pensamento é dele, e não êle. Assim,<br />

as ilusões são mutáveis, sem que o ser que se ilude sofra mutação<br />

porque se ilude.<br />

■—■ Não compreendi muito bem o que disse. Mas, permita-me<br />

colocar de outro modo o tema, a fim de me poder explicar<br />

melhor. Se o pensamento é uma perfeição, essa perfeição<br />

deve existir também no seu ser supremo, infinito, pois ouvi<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> NECAÇÂO IÍW<br />

dizer que todas as perfeições eles as têm no grau infinito e<br />

absoluto.<br />

— Isso mesmo.<br />

— Portanto, o ser supremo pensa.<br />

— Sem dúvida.<br />

— Ora, o pensar implica uma passagem de um estado<br />

para outro, uma mutação, portanto. Seria o pensar uma sétima<br />

mutação. Que diz a isso?<br />

— Mas o pensar no ser infinito, por ser infinito, é simultâneo<br />

com êle, que é eterno. Não há aí um antes nem um depois.<br />

Êle não pensa discursivamente, mas seu ser é seu pensar.<br />

Nele, tudo o que se desdobra no tempo, é dado na eternidade,<br />

simultâneo portanto.<br />

— Perdoe-me dizê-lo, mas acho engenhosa a sua explicação,<br />

respondeu Reinaldo com um sorriso.<br />

— Pode parecer engenhosa, mas posso fundamentá-la,<br />

respondeu Pitágoras sem perturbar-se.<br />

— Gostaria que o fizesse.<br />

— Pois não. Sendo imutável e absolutamente simples o<br />

ser supremo, o pensar, que é uma perfeição, é nele infinito,<br />

absolutamente perfeito. Um pensar discursivo, como o nosso,<br />

processa-se através de comparações, de inferências, deducções,<br />

inducções, etc. Nele não há tempo, não há um antes e um depois,<br />

não há sucessões. A perfeição de pensar nele se identifica<br />

com seu próprio ser. Nele não há assim nenhuma mutação.<br />

O pensar nele não é uma actuação, um agir que se desdobra<br />

em sucessões, mas simultâneo, eterno, portanto. Nele,<br />

tudo é.<br />

— Para as religiões não é assim, pois esse ser supremo,<br />

que é Deus, perdoa, atende, auxilia, dá ou retira.<br />

— Reconheço, afirmou Pitágoras, mas preferiria não discutir<br />

sob este aspecto, porque teríamos que entrar em tema de<br />

teologia moral e teologia religiosa. Não quero dizer que não<br />

haja fundamentos, mas seria afastarmo-nos do campo que desejávamos<br />

permanecer, e que prometemos permanecer. Prefiro

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