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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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186 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

— O que vocês acabam concordando é que a matéria não<br />

é, portanto, simples, um ser simples, mas um ser composto do<br />

que é afetivo, em acto, e do que ainda não é afectivo, o que<br />

poder vir-a-ser, o que está em potência.<br />

Eles agora não respondiam. Pitágoras continuou com a<br />

palavra:<br />

— Ela não é, portanto, existencialmente o que é em essência.<br />

— Mas a essência da matéria é ser assim dúplice, interveio<br />

Ricardo.<br />

— Então, não é simples, é dúplice.<br />

— Seja, então, aceitou num gesto de abandono, Ricardo.<br />

— Mas dúplice de que? Do que é e do que não é, de ser<br />

e de nada. A matéria seria composta do que é existencialmente,<br />

e do que não é existencialmente, do que seria nada de ser<br />

existencialmente.<br />

— Mas o poder-ser da matéria é alguma coisa, e não nada,<br />

retrucou com energia Paulsen.<br />

— Mas é outro que o que é existencialmente. Se nada há<br />

que os diferenciem, o ser efectivo e o ser potencial seriam idênticos.<br />

E isso seria absurdo. Neste caso, a matéria não é um<br />

ser simples, mas um ser composto. Um teria o que outro não<br />

teria.<br />

— Mas, o que há num e que não há noutro é ainda ser,<br />

afirmou veementemente Ricardo. E ratificou: — Ser, e não<br />

nada.<br />

— Então, acima do que efectivo e do que é potencial na<br />

matéria, há algo que os antecede que é ser, que nos dois é<br />

idêntico.<br />

— Como assim?<br />

— Pois, sem dúvida. Já que há num o que não há no<br />

outro, e tanto o que há num como o que há no outro é ser, e<br />

não nada. Logo, um seria deficiente, o passivo, enquanto o<br />

activo seria plenamente ser. Neste caso, teríamos que dizer<br />

que o activo tem ser eficiente, e ao passivo lhe falta ser, o ser<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 1H7<br />

eficiente. A parte passiva, não tendo ser, é outra que a parti;<br />

efectiva. A matéria é assim composta de ser e de uma parte<br />

que tem menos ser que a outra. Nesse caso, o ser antecede por<br />

dignidade a parte passiva, porque, do contrário, o que faltaria<br />

seria nada, o que é absurdo.<br />

Logo, como consequência inevitável, a parte activa seria<br />

puramente acto, seria puramente eficiência, infinitamente eficiência,<br />

porque teria toda a eficiência possível de ser. E a passiva<br />

estaria privada de ser. Estando privada de ser seria nada;<br />

ou, então, um ser deficiente, um ser que não é plenitude de<br />

ser. Neste caso, o ser em plenitude de ser é anterior, porque<br />

o que há de positivo, na parte passiva da matéria, vem do primeiro.<br />

Portanto, o ser efectivo e em plenitude de ser antecede,<br />

de qualquer modo, a parte passiva.<br />

Nem Ricardo nem Paulsen sabiam mais que responder. E<br />

Pitágoras terminou, então, com estas palavras:<br />

— Vocês acabam dando o nome de matéria ao que nas<br />

religiões superiores se chama ainda Deus. Esse ser primeiro,<br />

efectivo, puro acto, é o que as religiões cultas chamam Deus.<br />

E êle tem e teria todos os atributos que ainda lhe são peculiares,<br />

pois se teria de admitir que a parte passiva, para ser, precisa<br />

dele, e êle é que realiza as determinações, dando surgimento<br />

ao que recebe determinações, a parte passiva. Esse<br />

Deus criaria a parte passiva...<br />

Creio que ,ainda deste lado, nada resolveriam vocês de melhor.<br />

Não acham?<br />

Nem Ricardo nem Paulsen-responderam.

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