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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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182 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

— As partículas de matéria, que os cientistas chamam<br />

átomos, e que por sua vez são compostos de outras partículas,<br />

como electrões, protões, etc, explicar-nos-iam, em suas múltiplas<br />

combinações, porque há seres tão heterogéneos, tão diferentes<br />

aos nossos olhos. Assim, o ser árvore é aquele que tem<br />

a combinação x, o ser banco o que tem a combinação y, e assim<br />

por diante. Há tantas formas quantas combinações diferentes.<br />

Concordam ?<br />

— Concordamos, respondeu Ricardo olhando para Paulsen,<br />

que assentia.<br />

— Já temos um bom caminho andado. E tudo parece tornar-se<br />

claro agora.<br />

— Não há dúvida.<br />

— Mas, vejamos bem, porque nem sempre o que parece<br />

tão simples o é realmente. Não nego as combinações de que<br />

a ciência fala, e que descreve. Mas que elas venham favorecer<br />

ou não a afirmação de que tudo é matéria é o que veremos a<br />

seguir, se quiserem me acompanhar nos raciocínios que vou<br />

fazer. Querem?<br />

— Queremos, sim.<br />

— Disse Paulsen que a matéria não teve princípio e como<br />

fonte de todas as coisas aceitou que é infinita...<br />

— ... mas que é quantitativamente limitada.<br />

— ... muito bem. Se é quantitativamente limitada, além<br />

da matéria, haveria outra coisa que não é matéria?<br />

— Não há nada.<br />

— Mas se a matéria é quantitativamente limitada, ela tem<br />

uma superfície, um limite, um até onde ela é matéria e de<br />

onde começa o que não é matéria. Ela seria assim uma quantidade<br />

de ser, cercada pelo nada.<br />

— Fora da matéria não há nada.<br />

— Mas, e essa superfície, como explicá-la?<br />

— Não sei, respondeu Paulsen. Mas Ricardo veio em seu<br />

auxílio:<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> IH.I<br />

— Bem, digamos que fosse como um espaço vazio, como<br />

o vácuo de Demócrito.<br />

— Então, esse espaço vazio seria o limite da matéria?<br />

— Seria, respondeu Ricardo.<br />

— Então esse nada deixaria de ser nada para ser alguma<br />

coisa, um ser, porque poderia limitar a matéria.<br />

— Não... A matéria não seria limitada pelo nada, mas<br />

por si mesma. E' ela que limitaria a si mesma, apressou-se<br />

Ricardo a dizer.<br />

— Nesse caso, a matéria teria o poder de limitar a si<br />

mesma, porque, do contrário, como poderia ser limitada por<br />

si mesma?<br />

— Concordo.<br />

— Ora, para algo limitar a algo é preciso que algo actui<br />

de modo a realizar uma limitação, e que algo seria capaz de<br />

sofrer uma limitação, não é?<br />

— E', concordou Paulsen, um tanto temeroso.<br />

— Poderíamos, usando os velhos termos da filosofia, dizer<br />

que há uma acção de delimitação da matéria, realizada por<br />

algo eficiente, que a faça, e por algo paciente, que a sofra.<br />

Nessa caso a matéria não seria simplesmente matéria, um ser<br />

que é existencialmente o que é por essência, porque seria uma<br />

parte activa e uma parte passiva, e a parte activa seria em<br />

algo diferente de a passiva.<br />

— Seria, uma parte a actividade, o aspecto dinâmico da<br />

matéria, e a outra parte, o aspecto passivo da mesma.<br />

— Assim uma espécie de yang e de yin dos chineses, não<br />

é?, perguntou Pitágoras.<br />

— Mais ou menos, respondeu Paulsen.<br />

— Pois então precisemos. A matéria, antes, não recebeu<br />

nenhuma determinação, pois o nada não poderia determiná-la.<br />

A determinação foi dada por ela mesma a si mesma, mas<br />

depois. Ontologicamente, a matéria é primeira que a determinação,<br />

que é segunda . Admite que o nada é alguma coisa?

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