FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
— Ela nunca teve, portanto, um princípio, e foi sempre<br />
imprincipiada.<br />
— De acordo.<br />
— Não pendeu de nenhum outro ser e, enquanto tal, matéria,<br />
é independenle.<br />
— Sim.<br />
— Nesse caso, ela não recebeu nenhuma limitação no início.<br />
Ela é sem limites, sem fins determinados; ou, seja, é,<br />
desse modo infinita, considerando-se que é infinito o ser que<br />
não recebe de nenhum outro qualquer limitação para ser, e que<br />
é em si êle mesmo.<br />
— Está certo.<br />
— O ser da matéria sendo, em si mesmo, matéria, é ela<br />
apenas ela mesma, matéria?<br />
— E'.<br />
— Nesse caso, ela existe plenamente como tal, matéria?<br />
— Sim.<br />
— E, ademais, seu ser e seu existir são os mesmos, pois<br />
ela é identicamente ela mesma, não é?<br />
— Sem dúvida.<br />
— Para usarmos a linguagem clássica: na matéria, então,<br />
essência e existência se identificariam?<br />
— Certo.<br />
— Consequentemente, diz-se que tudo quanto existe, sendo<br />
isto ou aquilo, eu, você, essas árvores, não são, porém, identicamente<br />
como ela, pois se cada ser é matéria, nenhum é como<br />
a matéria primeira, fonte de todas as coisas.<br />
— Não compreendi bem. Gostaria que me explicasse, pediu<br />
Paulsen.<br />
— A matéria, que é o início e fonte de todas as coisas,<br />
é, como ser e como existir, ou, seja, como essência e como<br />
existência, apenas matéria e nada mais que matéria. Você<br />
concordou, não foi?<br />
— Foi.<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> N KGM/AO IKI<br />
— Pois bem, só a matéria, enquanto matéria, é puramente<br />
matéria. Esta árvore é matéria, mas não é puramente matéria,<br />
porque este banco é matéria e não é esta árvore. Há de<br />
haver nesse banco alguma coisa que não é idêntico àquela árvore,<br />
embora, enquanto matéria, este banco e aquela árvore<br />
sejam idênticos. Concorda?<br />
—- Concordo. Mas o que os separa pertence à matéria e<br />
é matéria.<br />
— Para a tese materialista sem dúvida que é assim. Mas<br />
o que a tese materialista não pode negar é que há, em uma<br />
coisa e outra coisa, algo que uma tem e que a outra não tem.<br />
Está certo?<br />
— Dá licença, interrompeu-os Ricardo. Desculpem-me<br />
intervir. Mas, creio que poderia trazer uma contribuição que<br />
não afasta o assunto do ponto principal, e não o desvia de modo<br />
algum das intenções desejadas. Poderia dizer-se que esta árvore<br />
e este banco têm uma constituição atómica diferente um<br />
do outro, sendo ainda os átomos partículas de matéria, que se<br />
combinam de modo diferente.<br />
— Aceito a contribuição, respondeu Pitágoras. Nesse<br />
caso, poderíamos dizer que o banco tem uma forma diferente<br />
da árvore, que tem outra. Podemos chamar de forma a ordem<br />
de constituição intrínseca de um, que é diferente da ordem de<br />
constituição do outro. Aceitam?<br />
— Por minha parte, aceito, respondeu Ricardo. E creio<br />
que Paulsen também.<br />
Paulsen fêz, com a cabeça, um gesto de assentimento.<br />
— Pois então, prosseguiu Pitágoras, o que os diferencia<br />
formalmente é o fato de serem constituídos de combinações intrínsecas<br />
de átomos diferentes, de estrueturas atómicas diferentes,<br />
sem ambos deixarem de ser matéria. Mas que são essas<br />
combinações intrínsecas? Uma maneira outra de se combinarem<br />
os átomos sob números diferentes. Não é isso?<br />
— Isso mesmo.