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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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18<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

A principal personagem é Pitágoras de Melo. Nasceu-me<br />

essa personagem logo às primeiras páginas de "Homens da<br />

Tarde". Nada prometia ainda à minha consciência, mas logo<br />

se impôs, e libertou-se de tal modo, que passou a ter uma vida<br />

própria. E poderia dizer, sem buscar fazer paradoxos, que<br />

teve êle um papel mais criador de„ mim mesmo que eu dele.<br />

Não pautou êle sua vida pela minha, mas a minha vida pela<br />

dele. Eu propriamente o imito. E' quase inacreditável isso.<br />

Mas é verdade: a personagem criou o autor. E é espantoso<br />

que foi de tal modo que até muitas das minhas experiências<br />

futuras foram vividas por êle. Aconteceu-me na vida o que<br />

eu já havia escrito no meu livro. Muitas das peripécias da<br />

minha existência foram antecedidas por êle. E é essa a razão<br />

por que o respeito tanto, por que o venero. Essa existência<br />

metafísica tomou-se real para mim. As ideias que a personagem<br />

expunha não eram então as minhas. Hoje, em grande<br />

parte, são. A personagem me conquistou. Na verdade, não<br />

pude resistir à tentação e ao fascínio que ela exerceu sobre<br />

mim.<br />

Pois bem, foram essas as razões por que a escolhi para<br />

este livro, que é uma obra construtiva, e que pretende apenas<br />

ser construtiva. Estamos outra vez em face da sofística, e<br />

precisamos denunciá-la. Mais uma vez temos que sair à rua,<br />

como outrora o fêz Sócrates, para denunciar os falsos sábios.<br />

O nihilismo agoniza, sem dúvida, mas é demorada essa<br />

agonia, e êle deixa atrás de si, e à sua volta, os destroços de<br />

sua destruição.<br />

Devemos lutar pela madrugada que há de vir. E, para<br />

tanto, é mister enfrentar os sofistas crepusculares de nossa<br />

época; não receiar as trevas, e nelas penetrar.<br />

Há uma nova esperança, e esta certamente não nos trairá.<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS.<br />

DIÁLOGOS SOBRE A VER<strong>DA</strong>DE<br />

E A FICÇÃO<br />

A proposta partira de Ricardo, a quem Pitágoras havia<br />

manifestado seu desgosto em manter conversações com certas<br />

pessoas, por que se cingiam a divagações inúteis, ao sabor das<br />

associações de ideias mais várias, sem que nenhum ponto fosse<br />

abordado com a necessária profundidade que se impunha. Ademais,<br />

alegara que estávamos vivendo um momento em que se<br />

impunha viessem à tona discussões sobre os mais importantes<br />

problemas, pois a confusão das ideias, a nova Babel, já se instalara<br />

entre os homens, anunciando uma nova destruição.<br />

— Devemos disciplinar outra vez o nosso espírito metropolitano<br />

e tardio, que tende sempre a tratar dos temas com a<br />

natural displicência ou falta de profundidade do metropolitano.<br />

Não desejo proceder desse modo, e gostaria de acercar-me de<br />

pessoas, desejosas, como eu, de examinar com cuidado os grandes<br />

temas. Estamos às portas do desespero, e isso se deve,<br />

em grande parte, ao espírito tardio e metropolitano que nos<br />

domina, eminentemente mercantilista, que necessita, para sobreviver,<br />

lançar constantemente ao mercado novos produtos,<br />

novas fórmulas, novos rótulos, novas embalagens, embora os<br />

conteúdos sejam os mesmos. Toda essa moderna vagabundagem<br />

do espírito, através das mais variadas teorias e doutrinas,<br />

essas buscas desorientadas e várias, contribuíram apenas para<br />

colocar o homem de hoje numa situação gravíssima: a de sentir-se<br />

sem firmeza, sem chão, onde pisar com cuidado os pés,<br />

e poder depois fixar os olhos em algo que lhe ofereça uma firme<br />

direcção, um norte para o seu novo caminhar. Tudo isso<br />

lhe falta. E por que? Porque vagabundeou desorientadamente<br />

pelo caminho das ideias, do abstractismo dos ismos vários,<br />

sem o cuidado de colher dessa messe imensa de doutrinas o que

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