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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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174 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

— Muito bem, será alcançado depois de muito e muito tempo,<br />

não o sabemos quando, mas será alcançado em algum momento<br />

do tempo.<br />

— Estou de acordo.<br />

— Nesse caso, voltando para trás, houve um princípio:<br />

um momento em que o estágio mais simples começou a ser?<br />

— Como assim?<br />

— E' evidente. Pois, se nunca houve esse princípio, o estágio<br />

máximo já devia ter sido alcançado, uma vez que já teria<br />

decorrido um tempo sem fim, suficiente para que os estágios<br />

posteriores já se tivessem tornado efectivos?<br />

Vítor coçou a orelha. Olhou para todos para ver os efeitos<br />

produzidos pelas palavras de Pitágoras. Sua segurança<br />

parecia agora enfraquecer. Um nervosismo apossava-se dele.<br />

Mas, reunindo todas as suas forças, propôs:<br />

— Reconheço que este é um ponto difícil, porque estamos<br />

sempre trabalhando com a ideia do tempo. Mas você há de<br />

reconhecer que o que entendemos por tempo é o que constitui<br />

a nossa experiência, e há de concordar que, por admitir que<br />

haja muita coisa que escapa ao nosso conhecer, não quer dizer<br />

que a minha posição seja falsa.<br />

— Reconheço o seu embaraço, Vítor, e também que o conceito<br />

de tempo é muito nosso. Mas, ponhamos de lado esse conceito.<br />

Terá você de admitir que houve um momento em que,<br />

se numerássemos a partir deste para um momento atrás, o primeiro<br />

teria um número, e seria, portanto, finito. Esse momento<br />

seria por exemplo o momento 333 na potência n.<br />

— Bem, afirmar que há um infinito de tempo ou de duração<br />

para trás, uma sequência infinita de momentos, acho<br />

absurdo, e eu não iria afirmar tal coisa.<br />

— Então, terá de reconhecer que o momento máximo da<br />

evolução, que é o seu deus, é um momento finito e não infinito?<br />

— Eu não aceito a infinitude de Deus.<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 175<br />

— Sei: a ideia que você defende não permite outra afirmação<br />

coerente. Mas esse não é o Deus das religiões como a<br />

cristã, porque para o cristianismo, Deus é infinito.<br />

— Sem dúvida. O meu Deus não é esse.<br />

— Voltando ao ponto onde estávamos, desde que você aceita<br />

que Deus é o ponto máximo da evolução, terá de reconhecer<br />

que tudo começou por um ponto mínimo.<br />

— Está certo.<br />

— E que nesse ponto mínimo havia o mínimo de perfeição.<br />

Esta foi crescendo, e irá crescendo, até atingir o ponto<br />

máximo. Não é isso?<br />

— E' isso.<br />

— Nesse caso, no primeiro momento já havia, de certo<br />

modo, tudo quanto vem depois, porque, do contrário, o que veio<br />

depois viria do nada, o que você aceita desde o início que é<br />

absurdo.<br />

— E' isso mesmo.<br />

— E como seria, então, esse certo modo de ser, que não<br />

é o efectivo? Pois o primeiro momento já continha tudo, a<br />

divindade até, mas de certo modo, porque, do contrário, a divindade<br />

teria vindo do nada, o que você reconhece ser absurdo.<br />

Como seria esse modo de ser da divindade, nesse primeiro momento?<br />

Ela, portanto, já era, mas de certo modo. Explique-me,<br />

por favor.<br />

Vítor arrumou o casaco. Abriu os lábios; meditou. Depois<br />

pronunciou estas palavras:<br />

— E' difícil dizer bem em que consiste esse certo modo. . .<br />

— Quer que o ajude...<br />

— Espere... um momento! (Vítor reagia agora. Aceitava<br />

o combate).<br />

— Não gosto de usar o termo clássico de potência, mas<br />

admito que aqui êle serviria também, de certo modo. Digamos:<br />

as perfeições futuras, que ainda não se desdobraram efectiva-

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