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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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170 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

— Então, é verdade para você?<br />

— E que outra verdade poderia superá-la? O que se vê<br />

não é a evolução constante de todo um universo? Não somos<br />

nós testemunhas de nossa própria evolução? Depois. . .<br />

— ... não precisa justificar sua posição, Vítor — interrompeu-o<br />

Pitágoras. De minha parte, dispenso-lhe as provas.<br />

E estou certo de que todos aqui concordarão comigo, em face<br />

do que vou propor. E o que vou propor é examinar a sua ideia<br />

evolucionista. Poderia usar o método socrático, e, ironicamente,<br />

dizer-lhe que sou um ignorante, que deseja saber, e quando<br />

se encontra em frente a um sábio como você, humildemente lhe<br />

pede que esclareça alguns pontos que lhe ficaram um pouco<br />

obscuros, porque, falho de ciência, é natural que nem tudo compreenda<br />

dentro da extensão de seu alcance. Não usarei tais<br />

preâmbulos, porque eu não sou Sócrates, nem você um dos seus<br />

famosos interrogados, embora, sem ironia, agora, queira crer<br />

que você supere a muitos daqueles que os diálogos de Platão<br />

tornaram famosos. Proponho-lhe, contudo, que usemos o seu<br />

método de perguntas e respostas, o método que você conhece<br />

bem, pois vi certa ocasião você lendo Platão. (Vítor tinha uma<br />

expressão séria, mas nada contrafeita. Ao contrário, revelava<br />

a máxima segurança e até um ar de desafio). Pitágoras prosseguiu,<br />

um pouco lento, um tanto cauteloso:<br />

■— Apelo aos que estão aqui para que testemunhem, e presidam,<br />

até, esse diálogo, e que não permitam que, de modo algum,<br />

êle se afaste das velhas regras que escolhemos e que celebrizaram<br />

tanto a Sócrates. A meu ver, ainda é o melhor meio,<br />

e o mais seguro que podem empregar dois interlocutores, ao<br />

tratarem de temas de filosofia, sem o risco de se perderem em<br />

longas digressões, e de se afastarem indevidamente do tema<br />

principal. Agora, dirigindo-me a você, pergunto: aceita?<br />

Vítor fêz um gesto com o corpo e, com voz segura, respondeu<br />

:<br />

— Aceito.<br />

— Então perguntarei, e você responderá. Mas sempre<br />

dentro da regra socrática, promete?<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 171<br />

— Principia. E, depois, firme, acrescentou: — não tenho<br />

aceito aqui as regras?<br />

— Sem dúvida. Em primeiro lugar desejaria perguntar-<br />

-lhe se você admite que alguma coisa possa vir do nada.<br />

— Não.<br />

— E ser feita de nada?<br />

— Também não.<br />

— Portanto, se há alguma coisa, o que há não pode ter<br />

vindo do nada.<br />

— Concordo.<br />

— E' para você uma verdade sobre a qual você não põe<br />

a menor dúvida?<br />

— Como pôr dúvida, no que é unanimemente aceito e fundamental.<br />

Quem é que vai deixar de aceitar um tal princípio?<br />

Asseguro-lhe que por aí nada vai adiantar, pois tudo isso só<br />

vem em favor de minha tese...<br />

— ... por favor, Vítor, interrompeu-o Pitágoras. Lembre-se<br />

de nosso acordo. Prometeu cumprir o método à risca.<br />

Quem está perguntando sou eu, e não há necessidade de digressões<br />

outras, porque senão daqui a pouco estaremos perdidos.<br />

Você deve responder às minhas perguntas, e nada mais.<br />

Depois chegará a sua vez de perguntar, e a minha de responder.<br />

Vamos cumprir o combinado.<br />

— Está certo. Reconheço que nos é difícil proceder com<br />

o mesmo rigor dos gregos, mas farei tudo quanto estiver ao<br />

meu alcance. Pode prosseguir, e prometo que só responderei<br />

às suas perguntas, até que me caiba a vez de perguntar.<br />

— Como você disse, onde há evolução há um aumento de<br />

perfeição, pois o ciclo subsequente é mais perfeito que o antecedente.<br />

Não é isso?<br />

— Isso mesmo.<br />

— Còsmicamente, pelo menos, embora haja exemplos de<br />

diminuição de perfeições particulares, desta coisa, aqui, ou da-

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