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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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166<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

da inteligência humana, e se acaso algum autor desse período<br />

é lembrado, essa lembrança somente se faz na proporção em<br />

que ela serve para justificar as concepções capengas e míopes<br />

da modernidade, sobretudo quando contribuem para aumentar<br />

a tendência negativista, que corrói o pensamento moderno, e<br />

cria esse moloque da inteligência que é o inhilismo avassalante,<br />

sobretudo negativista, mas activo, que Nietzsche profetizara e<br />

que já está dando seus frutos bem ácidos.<br />

Há necessidade de se compreender que a escolástica foi<br />

um momento da filosofia, e continuou o processo filosófico.<br />

Não foi um momento de queda, mas de ascenção. Só o desconhecimento<br />

sistemático da obra dos grandes autores desse período<br />

pode levar certos doutos a desprezarem, e até caluniarem,<br />

esse período com a exibição pernóstica da sua ignorância.<br />

A meu ver o grande trabalho que nos cabe agora é rever<br />

tudo, desde o princípio, todo o processo histórico da filosofia.<br />

Não se trata, propriamente, de reunir positividades, mas estou<br />

certo que é possível construir uma filosofia que reúna as positividades<br />

num todo coerente, e que permita, nele fundado,<br />

recomeçar um outro período do filosofar. Mas, para realizar<br />

tal empreendimento, não o conseguiremos com tomadas de posição<br />

meramente negativistas, nem preconceitos sobre valores<br />

filosóficos que negam desde logo tudo quanto se fêz nesse período,<br />

simplesmente porque nele predominou uma religião, que<br />

é odiada por todos os que desejam a destruição dessa ordem<br />

em que temos vivido, julgando que para se lutar pelo bem dos<br />

homens é imprescindível destruir o passado, como se todo o<br />

passado fosse o culpado pelas injustiças que uns exercem sobre<br />

outros; como se o passado fosse o culpado de haver exploração<br />

do homem pelo homem; como se acaso os falsos libertadores da<br />

humanidade, de posse dos cargos de mando e de poder, não se<br />

manifestassem déspotas mais cruéis e exploradores mais impenitentes<br />

do que todos os que o passado nos relata. Jamais<br />

se conheceram na história brutalidades maiores do que as que<br />

o nosso século tem mostrado. Jamais se assistiram domínios<br />

tão execráveis sobre povos em nome da liberdade, ou da liberdade<br />

económica dos homens. Nunca a exploração sobre povos<br />

inteiros assumiu as proporções que hoje se verificam, sob o<br />

falso nome de um ideal de redenção humana. Nunca se matou<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> NEOAÇAO IC.V<br />

tanto, tanto se assassinou, tanto se destruiu cm nome (ICHMH<br />

mesma redenção. E quem realizou essas execráveis manobras,<br />

senão precisamente aqueles que se apresentam como os santarrões<br />

das novas crenças, os apóstolos de novos ideais? Em nome<br />

desses ideais, em menos de meio século foram trucidados mais<br />

seres humanos que em todas as guerras religiosas de todos os<br />

tempos. Meio século só de falsos idealistas fêz tombar mais<br />

vidas, que os vinte séculos de trevas que eles proclamam. Essa<br />

é a lamentável verdade que se vê. E eis porque, de minha parte,<br />

desejo apenas contribuir, dentro das minhas forças, para<br />

colocar-me ao lado daqueles que lutam contra essas trevas que<br />

se querem impingir como luz, contra essas novas brutalidades,<br />

que querem parecer libertadoras, contra esses assassínios que<br />

usam o nome eufêmico de depurações.<br />

Quem quiser ajudar-me, que venha comigo. Os que quiserem<br />

adotar o outro método, ou com êle acumpliciar-se, que<br />

sigam o seu. Mas, de minha parte, desde já os acuso de criminosos,<br />

de inimigos da humanidade, traidores de sua espécie.<br />

Depois disso, prefiro silenciar um pouco.<br />

E foi o que Pitágoras fêz. Também ninguém falou. Só<br />

Artur revelava um apoio incondicional. Paulsen baixara a cabeça,<br />

e parecia dobrar-se sobre o peso da própria consciência.<br />

Eicardo cerrara os lábios com energia. Josias parecia levar<br />

o pensamento para algo distante, como se estivesse alheio a<br />

tudo o que ouvira. Vítor tinha um sorriso sarcástico nos lábios.<br />

Reinaldo tamborilava com os dedos na mesa. Os outros<br />

todos pareciam atónitos. Em suma, ninguém se atrevia a romper<br />

o silêncio, e a maioria demonstrava respeitá-lo.<br />

Pitágoras, percebendo que dependia dele apenas sair daquele<br />

estado de coisas, pôs-se, então, a falar:<br />

— Ainda é longo o nosso caminho, e estou pronto a percorrê-lo.<br />

Há muita coisa para examinarmos juntos. Querem<br />

propor alguma para que aproveitemos nosso tempo ainda esta<br />

noite?

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