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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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(GO MÁiuo KKIUCKIKA DOS SANTOS<br />

cer, pelo seu aspecto analítico, c a exercitar a mente humana<br />

em raciocínios mais seguros, além de permitir o progresso da<br />

ciência e de captar o que está contido virtualmente nas premissas,<br />

tanto compreensiva corno extensivamente.<br />

— Se não me encano foi Stuart Mill quem disse que a<br />

proposição "todos os homens são mortais" não pode ser uma<br />

premissa maior 1 certa para qualquer deducção, se nós desconhecemos<br />

que todos os homens são mortais. Ora, os silogismos<br />

partem de verdades como essas que não estão provadas. Que<br />

diz a isso, Pitágoras?, perguntou Ricardo.<br />

— Sim, realmente Stuart Mill apresentou essa objecção,<br />

mas teria êle razão, se a tomássemos apenas em sua extensão,<br />

ou, seja, no número dos indivíduos que nela estão inclusos.<br />

Mas o valor dessa proposição não está fundado na extensão,<br />

porém na compreensão, isto é, no conjunto de notas que constituem<br />

o conceito. A mortalidade do homem não é logicamente<br />

concluída pelo simples facto de se ver que' todos os homens<br />

morrem, que os 'homens do tempo de Alexandre ou de César<br />

não existem mais. A mortalidade do homem é concluída da<br />

sua natureza, que é essencialmente mortal. Essa objecção não<br />

procede por isso. De minha parte concordo que o silogismo<br />

não é suficiente para construir uma ciência humana mais segura.<br />

Mas não é apenas com essa forma de raciocínio que o<br />

homem construiu a sua ciência. Mas desde o instante em que o<br />

homem alcança a alguma coisa de certo e verdadeiro, êle verifica<br />

que pode reduzi-la a um silogismo, o que corrobora o<br />

valor desse processo, que não é o único válido.<br />

— Você dá validez naturalmente também à inducção?,<br />

perguntou Ricardo.<br />

— Naturalmente. Na inducção, parte-se dos factos particulares<br />

para alcançar a uma lei, a um juízo universal. A ciência,<br />

por exemplo, funda-se na experiência repetida, de cujo<br />

exame o homem pode conhecer uma lei. Mas, para chegar a<br />

tanto, é preciso aceitar uma lei de regularidade universal. Se<br />

os factos repetidos repetem a mesma norma, pela lei da regularidade<br />

universal, que é observada, pode-se concluir que essa<br />

norma é uma lei, embora muitas vezes seu enunciado seja incompleto.<br />

O método induetivo, ligado ao deduetivo, dá-lhe<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> l(il<br />

grande validez e auxilia inegavelmente ao conhecimento seguro<br />

e verdadeiro por parte do homem, mas exigindo sempre comprovações.<br />

Tanto o método induetivo como o deduetivo encontram<br />

validez nos argumentos que já expus até aqui, em<br />

defesa de meus pontos-de-vista gnoseológicos e lógicos.<br />

— A inducção científica, Pitágoras, e quando se trata de<br />

ciência meu interesse é consequentemente maior, porque me<br />

dedico ao seu estudo — disse Ricardo —, apresenta características<br />

que, se me permite, passaria eu a expô-las, podendo<br />

você, depois, fazer objecções ou reparos que julgar conveniente,<br />

caso me tenha afastado da sua realidade ou cometido alguma<br />

falta grave.<br />

— Pois não, Ricardo. Aliás você, melhor do que eu, poderia<br />

expor esse ponto. Pode fazê-lo.<br />

— A observação e a experiência são os fundamentos do<br />

método científico. Pela observação, disciplinamos a atenção<br />

para os factos; pela experiência realizamos a aplicação dos<br />

meios, a fim de alcançar a um conhecimento certo. Para a observação<br />

impõe-se, pois, a aplicação reta dos sentidos dispostos<br />

para o facto, devendo o cientista, tanto quanto possível, evitar<br />

juízos intelectuais e a presença de preconceitos, pois, do contrário,<br />

a observação não é reta. Tais providências são imprescindíveis,<br />

sendo porém muito difícil que o cientista alcance um<br />

estado de observação pura, o que é um ideal científico. Pela<br />

experiência, graças a instrumentos de trabalho e a um método<br />

de investigação, pode obter bons resultados, que lhe permitam,<br />

pelo método de concordância, pelo das diferenças e pelo dos<br />

resíduos, induzir regras importantes. Seria desnecessário demonstrar<br />

quão valiosos têm sido tais métodos para a obra científica,<br />

depois dos avanços que a ciência tem conhecido. Minha<br />

exposição foi simples, mas suficiente.<br />

— Muito obrigado, Ricardo por sua exposição. Mas veja<br />

agora um ponto importante, que é o seguinte: tais métodos são<br />

válidos e justificados pela concepção gnoseológica que sustentei.<br />

Senão, vejamos: a inducção científica consta de princípios<br />

analíticos e lógicos, pois, partindo dos elementos materiais, precisa<br />

do elemento formal. O surgimento de um efeito não explica<br />

a constância, fundamento das regras e leis científicas.

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