FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
pessoa! E quantos conflitos na impossibilidade de admitirem<br />
a si mesmos e de admitirem os outros!<br />
E de onde nasce essa ânsia de separação? O homem é um<br />
animal inteligente. E' mister buscar na sua inteligência um<br />
dos factores de suas misérias intelectuais. E a miséria intelectual<br />
de nossa época chama-se nihilismo. O homem é hoje um<br />
buscador do nada. Um negador de si mesmo, e de tudo. Mas<br />
essa negação o angustia. Angustia-se de não ser. E nela não<br />
poderá perdurar.<br />
Nós escolhemos uma posição. Ante as filosofias da negação,<br />
lutamos pela positividade. Este livro responderá melhore<br />
mostrará melhor o que pensamos.<br />
E' preciso combater as filosofias da negação. Não combatê-las<br />
pela força, mas pela própria filosofia. Mostrar que<br />
lhes falta fundamento, e que elas são falsas. Não basta apenas<br />
denunciá-las. E' mister ainda provar a sua inanidade. E' com<br />
afirmações que se alimentará o homem, um homem mais sadio<br />
e mais sábio.<br />
Uma pergunta poderia surgir agora: Por que escolhemos<br />
a forma do diálogo, e quem são essas personagens que apresen<br />
tamos no livro?<br />
Escolhi o diálogo para mais facilmente pôr, face a<br />
face, as oposições que surgem na alternância do processo filosófico.<br />
Quanto às personagens, há uma história mais longa.<br />
Em minha juventude, escrevi dois romances que ainda não publiquei,<br />
porque sempre julguei que o romance é obra de maturidade,<br />
e esperei muitos anos, mais de vinte, para que eles amadurecessem<br />
e depois pudessem vir à luz, se julgasse que mereciam<br />
vir à luz. Deveriam ter antecedido a esta obra, mas motivos<br />
outros o impediram. Por isso devo justificar as personagens.<br />
Esses dois romances chamam-se "Homens da Tarde"<br />
e "Homens da Noite". E serão seguidos de mais dois outros,<br />
ainda inacabados: "Homens da Madrugada" e "Homens do Meio-<br />
-Dia". Os homens da tarde são os homens crepusculares, os<br />
que vivem a heterogeneidade dos cambiantes" cromáticos das<br />
ideias, os que vivem a filosofia do entardecer. Sua visão se<br />
limita a contemplar os cambiantes luminosos. São os intelectuais<br />
sistemáticos, os "littérateurs" estéreis, que se esgotam<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 17<br />
numa obra apenas, os superficiais investigadores do cromatismo,<br />
os que não penetram além das coisas e que vivem apenas<br />
esteticamente a exteriorização dos símbolos.<br />
Homens, da noite são os que interrogam as trevas, os que<br />
buscam estrelas no céu para que os guiem pelos caminhos desconhecidos<br />
que as trevas ocultam, os que buscam além, e anseiam<br />
pelas madrugadas que lhes dará um novo dia. São homens<br />
cheios de esperança, enquanto os primeiros são homens<br />
nos quais desfaleceram todas as formas de fé. Homens da<br />
noite são os que investigam, os que procuram, os que não se<br />
cansam de investigar, os que não sentem o sono pesar-lhes nas<br />
pupilas, os despertos nas trevas, os vigilantes nas sombras.<br />
Homens da madrugada são os novos crentes, os que já<br />
acharam uma solução, os que, tendo penetrado pelas trevas, conseguiram<br />
alcançar uma madrugada. Não sonham mais; sabem.<br />
Não esperam nem confiam, porque já encontraram. Afirmativos<br />
como a luz da manhã, são iluminados por respostas categóricas.<br />
Homens do meio-dia são os que realizam o que os homens<br />
da noite sonharam, o que os homens da madrugada afirmaram.<br />
Ainda estão muito longe de nós. Pois bem, dentre os personagens,<br />
encontramos homens tardios, crepusculares como Josias,<br />
Vítor, Samuel, Paulsen, Reinaldo, e homens da noite como<br />
Pitágoras, anelante de uma madrugada que já desponta aos<br />
seus olhos. Próximo a êle um jovem crê na madrugada, Artur,<br />
e que segue Pitágoras porque tem fé em que êle o guiará. Mais<br />
remotamente, Ricardo. Surge como um tardio, que não se<br />
obstina na contemplação do crepúsculo. Para êle, este é apenas<br />
uma inversão da ordem. E certamente aponta ao que o<br />
contradiz. Opõe-se para conhecer as razões adversas. Não<br />
contraria para ábismar-se na contradição. Contraria para<br />
conhecer as razões opostas. E' livre para escolher. Não se<br />
compromete, não por temor ou medo, mas porque ainda não<br />
achou. O que busca não é aferrar-se ao nihilismo de sua época,<br />
mas conhecer os pontos fracos e fortes para poder escolher.<br />
E' acima de tudo honesto. E essa honestidade não o desmentirá<br />
na hora precisa.