19.04.2013 Views

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

16<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

pessoa! E quantos conflitos na impossibilidade de admitirem<br />

a si mesmos e de admitirem os outros!<br />

E de onde nasce essa ânsia de separação? O homem é um<br />

animal inteligente. E' mister buscar na sua inteligência um<br />

dos factores de suas misérias intelectuais. E a miséria intelectual<br />

de nossa época chama-se nihilismo. O homem é hoje um<br />

buscador do nada. Um negador de si mesmo, e de tudo. Mas<br />

essa negação o angustia. Angustia-se de não ser. E nela não<br />

poderá perdurar.<br />

Nós escolhemos uma posição. Ante as filosofias da negação,<br />

lutamos pela positividade. Este livro responderá melhore<br />

mostrará melhor o que pensamos.<br />

E' preciso combater as filosofias da negação. Não combatê-las<br />

pela força, mas pela própria filosofia. Mostrar que<br />

lhes falta fundamento, e que elas são falsas. Não basta apenas<br />

denunciá-las. E' mister ainda provar a sua inanidade. E' com<br />

afirmações que se alimentará o homem, um homem mais sadio<br />

e mais sábio.<br />

Uma pergunta poderia surgir agora: Por que escolhemos<br />

a forma do diálogo, e quem são essas personagens que apresen­<br />

tamos no livro?<br />

Escolhi o diálogo para mais facilmente pôr, face a<br />

face, as oposições que surgem na alternância do processo filosófico.<br />

Quanto às personagens, há uma história mais longa.<br />

Em minha juventude, escrevi dois romances que ainda não publiquei,<br />

porque sempre julguei que o romance é obra de maturidade,<br />

e esperei muitos anos, mais de vinte, para que eles amadurecessem<br />

e depois pudessem vir à luz, se julgasse que mereciam<br />

vir à luz. Deveriam ter antecedido a esta obra, mas motivos<br />

outros o impediram. Por isso devo justificar as personagens.<br />

Esses dois romances chamam-se "Homens da Tarde"<br />

e "Homens da Noite". E serão seguidos de mais dois outros,<br />

ainda inacabados: "Homens da Madrugada" e "Homens do Meio-<br />

-Dia". Os homens da tarde são os homens crepusculares, os<br />

que vivem a heterogeneidade dos cambiantes" cromáticos das<br />

ideias, os que vivem a filosofia do entardecer. Sua visão se<br />

limita a contemplar os cambiantes luminosos. São os intelectuais<br />

sistemáticos, os "littérateurs" estéreis, que se esgotam<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 17<br />

numa obra apenas, os superficiais investigadores do cromatismo,<br />

os que não penetram além das coisas e que vivem apenas<br />

esteticamente a exteriorização dos símbolos.<br />

Homens, da noite são os que interrogam as trevas, os que<br />

buscam estrelas no céu para que os guiem pelos caminhos desconhecidos<br />

que as trevas ocultam, os que buscam além, e anseiam<br />

pelas madrugadas que lhes dará um novo dia. São homens<br />

cheios de esperança, enquanto os primeiros são homens<br />

nos quais desfaleceram todas as formas de fé. Homens da<br />

noite são os que investigam, os que procuram, os que não se<br />

cansam de investigar, os que não sentem o sono pesar-lhes nas<br />

pupilas, os despertos nas trevas, os vigilantes nas sombras.<br />

Homens da madrugada são os novos crentes, os que já<br />

acharam uma solução, os que, tendo penetrado pelas trevas, conseguiram<br />

alcançar uma madrugada. Não sonham mais; sabem.<br />

Não esperam nem confiam, porque já encontraram. Afirmativos<br />

como a luz da manhã, são iluminados por respostas categóricas.<br />

Homens do meio-dia são os que realizam o que os homens<br />

da noite sonharam, o que os homens da madrugada afirmaram.<br />

Ainda estão muito longe de nós. Pois bem, dentre os personagens,<br />

encontramos homens tardios, crepusculares como Josias,<br />

Vítor, Samuel, Paulsen, Reinaldo, e homens da noite como<br />

Pitágoras, anelante de uma madrugada que já desponta aos<br />

seus olhos. Próximo a êle um jovem crê na madrugada, Artur,<br />

e que segue Pitágoras porque tem fé em que êle o guiará. Mais<br />

remotamente, Ricardo. Surge como um tardio, que não se<br />

obstina na contemplação do crepúsculo. Para êle, este é apenas<br />

uma inversão da ordem. E certamente aponta ao que o<br />

contradiz. Opõe-se para conhecer as razões adversas. Não<br />

contraria para ábismar-se na contradição. Contraria para<br />

conhecer as razões opostas. E' livre para escolher. Não se<br />

compromete, não por temor ou medo, mas porque ainda não<br />

achou. O que busca não é aferrar-se ao nihilismo de sua época,<br />

mas conhecer os pontos fracos e fortes para poder escolher.<br />

E' acima de tudo honesto. E essa honestidade não o desmentirá<br />

na hora precisa.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!