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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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152 MÁRIO FERKKIRA DOS SANTOS<br />

— Se é que tem solução. ■■- Afirmou Paul.sen num gesto<br />

vago, que Josias apoiou com decisão.<br />

— Não custa tentar polo menos colocar-sc o problema, e<br />

examinar as razões que assistem a todas as posições, pelo menos<br />

às principais, pois não sei se a memória me ajudará a abordar<br />

todos os aspectos, e a poder responder às inúmeras objecções,<br />

que certamente o exame de tal tema irá provocar.<br />

•— Então, não percamos tempo, propôs afanosamente Artur.<br />

Comece, Pitágoras.<br />

Houve uma pausa, pois Pitágoras desejava, sem dúvida,<br />

concatenar as ideias; depois começou:<br />

— Diz-se que é universal o que se ordena a muitos. Assim<br />

se fala numa lei universal ,quando obriga a muitos; numa causa<br />

universal, quando o é de muitos efeitos. Uma ideia universal<br />

é a que serve de exemplar a muitas outras, e assim por<br />

diante. Ora, sabemos que o conceito representa intencionalmente<br />

o seu objecto, pois já vimos que não é uma repetição<br />

física do objecto, mas apenas mental, formal, em suma, intencional.<br />

Pode-se falar, e é tema abordado na filosofia, o universal<br />

como ser, o universal directo ou metafísico de que falavam<br />

os antigos, o universal de prima intentionis. Esse<br />

universal é um, univocamente, em muitos, distinto dos outros<br />

e segundo toda a sua razão. E' um, porque é indistinto, indiviso<br />

em si, e distinto de qualquer outro. Não é uma unidade<br />

de singularidade, porque então excluiria a multiplicabilidade;<br />

não é uma unidade de essência, porque prescindiria da multiplicabilidade;<br />

não é uma unidade de similitude, porque diz a<br />

diversidade dos indivíduos em alguma nota que lhes convém.<br />

E' uma unidade que os escolásticos chamavam praecisiva, porque<br />

inclui o complexo das notas de alguma natureza e prescinde<br />

de sua individuação. Tem a aptidão de ser em muitos.<br />

Assim homem é um conceito universal, que está em todos os<br />

seres singulares humanos univocamente, distintamente, porque<br />

cada um é homem, segundo toda a sua razão, porque toda a<br />

estruetura esquemática do conceito está em cada homem. Não<br />

é uma unidade de singularidade, porque não exclui a multiplicabilidade,<br />

nem unidade essencial, porque não prescinde da<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 153<br />

multiplicabilidade, nem unidade de similitude ou de semelhança,<br />

porque diz diversidade de indivíduos. E' o que os antigos<br />

chamavam de universal in essendo.<br />

— Perdoe-me Pitágoras, mas por que gosta você de usar<br />

os termos escolásticos, e não alguma coisa mais moderna e de<br />

sabor menos bolorento?, perguntou Josias.<br />

— Meu caro Josias, pela simples razão de que neste, como<br />

em quase todos os assuntos, os escolásticos, em vez de ficarem<br />

no terreno das meras asserções e das opiniões, dedicaram-se<br />

tanto a estudá-los que não podemos prescindir de suas contribuições.<br />

Podemos substituir palavras, e já substituí muitas,<br />

fique certo, mas pouco adiantaria isso para a inteligência do<br />

assunto, havendo ainda o risco de nos perdermos em confusões<br />

perigosas. Prometo, depois de dar uma visão do tema, sob as<br />

bases que os escolásticos oferecem, pois durante séculos se dedicaram<br />

a esse problema, traduzir tudo isso para a linguagem<br />

mais moderna, mas só depois de ter conseguido uma precisão<br />

tal que não haja perigo de fomentar confusões em vez de facilitar<br />

esclarecimentos.<br />

— De minha parte, julgo que Pitágoras está com a razão.<br />

Afinal de contas, devemos deixá-lo expor da forma que melhor<br />

gosta, interveio Artur. Nós, à proporção que encontrarmos<br />

dificuldades, pedir-lhe-emos que nos ajude, esclarecendo-nos.<br />

Pitágoras, então, continuou:<br />

— Há agora o universal chamado lógico, reflexo, segundo<br />

a intenção, que os antigos chamavam de universale in predicando.<br />

E' o conceito formal, unidade e multiplicabilidade, que<br />

se predica de muitos por identidade, assim as categorias,<br />

como a de substância, etc. Para falarmos, então, uma linguagem<br />

mais ao sabor de Josias, os primeiros universais se refeririam<br />

a seres que os representam, que os são. Assim os conceitos<br />

homem, cão, casa, têm objectos que os representam, que<br />

os são. Os segundos, que são reflexos, referem-se ao que as<br />

coisas têm. Assim, a animalidade, nós temos em cada um de<br />

nós, mas nenhum de nós é animalidade, porém é homem.<br />

Pois bem, o problema surge quando se discute o valor de<br />

tais conceitos. São eles meras palavras, são eles reais nas coi-

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