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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

dor de todo esse mundo, é preciso apelar a um ser misterioso,<br />

que chama inconsciente e que o cria, negando já a si mesmo<br />

o poder criador mas a uma parte de si mesmo, que é outro que<br />

êle que actua, sem uma razão, sem um porquê, criando um<br />

mundo que não é verdadeiro mas falso; e cujo mundo falso êle<br />

coloca em sua imaginação, e depois afirma que êle é o único<br />

verdadeiro, tendo já tirado desse mundo verdadeiro o inconsciente,<br />

que é outro, e que passa a ser mundo exterior ao mundo<br />

da sua imaginação, e mundo exterior ao mundo de seu eu, enfim<br />

que fica pulando de um absurdo para outro, sem apresentar<br />

nexo nenhum em nada do que diz e, finalmente, do alto da<br />

sua tolice (perdoem-me a expressão, mas para coisas feias palavras<br />

feias), do alto da sua tolice, nega a validez da outra<br />

concepção, que é cristalina, que é lógica, que é regular, que<br />

corresponde à regularidade dos factos que sucedem, e que explica<br />

melhor o mundo da imaginação e do sonho, fundado no<br />

mundo da realidade exterior; em suma: esse alguém não merece<br />

mais resposta. Que fique com a sua opinião, mera opinião,<br />

sem qualquer base de certeza, senão uma convicção que é um<br />

apelo à loucura. Um debate aqui já se exclui do campo do<br />

bom senso, e penetra no campo das coisas banais e ilógicas, das<br />

conversas de alucinados e dementes.<br />

Essa concepção é um rosário de tolices, de absurdos e de<br />

contradições. E' só o que me cabe dizer.<br />

Josias estava impaciente, e o nervosismo manifestava-se<br />

em seus gestos e não se contendo, explodiu:<br />

— Pois eu continuo pensando assim. Nem você nem toda<br />

a lógica do mundo será capaz de me convencer do contrário.<br />

— Você respondeu a si mesmo, Josias. Você definiu a<br />

sua posição. Nem toda a lógica do mundo seria capaz de convencê-lo.<br />

Nada mais tenho a dizer.<br />

A situação parecia insustentável. Havia o perigo de perder-se<br />

o que já se havia conseguido. O choque entre Pitágoras<br />

e Josias poderia tomar rumos bem graves. Um rompimento seria<br />

então fatal. Mas, na verdade, nem Josias nem Pitágoras<br />

desejavam isso. E como se a mesma vontade os animasse, ambos<br />

concordaram em aceitar a proposta que foi feita por Artur:<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> AFHIMAÇÃO E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 149<br />

— Vamos fazer uma pausa. Mudar de assunto e, depois,<br />

se houver tempo, e se convier a todos, retornaremos aos temas<br />

examinados. Que acham?<br />

Não houve quem discordasse.<br />

E durante aquela noite, até que todos se despediram, tratou-se<br />

de tudo, menos de filosofia. Mas ficou acertado que,<br />

no dia seguinte, retornar-se-ia aos assuntos que estavam em<br />

foco.<br />

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