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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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142 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

rias, descobrindo as normas lógicas e matemáticas que o dirigem.<br />

Por essa concepção, continuaríamos afirmando a existência<br />

desse mundo, e justificando o valor do nosso conhecimento.<br />

Este era capaz de conhecer a realidade do que é criado<br />

por um génio oculto, o grande inconsciente, criador de todo o<br />

mundo. Seria maligno esse génio, como o propôs Descartes,<br />

ou bom. Por que preferir uma concepção que acabaria por dar<br />

a esse génio um poder divino, além de outras absurdidades que<br />

decorreriam consequentemente daí?<br />

— E as alucinações? E por que não pode ser tudo uma<br />

alucinação? Eu, você, tudo?, perguntou Josias, já com raiva.<br />

— Há alucinações, Josias, todos nós o sabemos. Mas elas<br />

podem ser contidas, evitadas, e provocadas também. Podemos,<br />

depois de haver passado por elas, saber quando são alucinações,<br />

ou não. Se não nos fosse possível distinguir o que é alucinação<br />

do que é realidade fora de nós, não falaríamos em alucinações.<br />

Há alucinações porque há realidade fora de nós. Você não é<br />

uma alucinação minha, Josias?<br />

— Mas você bem pode ser minha, replicou Josias.<br />

Pitágoras preferiu não responder, porque entendeu que,<br />

se o fizesse, afastar-se-ia do clima que gostaria de manter em<br />

seus diálogos. Fêz apenas um sorriso de condescendência, que<br />

foi apoiado por quase todos.<br />

— Pitágoras, acredita você que a côr verde desse pano é<br />

em si como ela aparece para nós?, perguntou Ricardo.<br />

— O que há de comum na sensibilidade é a quantidade,<br />

a qual, quando contínua, é a extensão; quando discreta, é o<br />

número, e também a qualidade, que é intensista. Sabemos que<br />

esse verde é o resultado de tantas e tantas vibrações. Hoje,<br />

poderíamos talvez medir com uma segurança muito grande.<br />

Para a constituição da minha visão, tudo isso me é traduzido<br />

assim, como a minha imagem representativa do verde. O conhecimento<br />

surge de uma relação entre o cognoscente e o conhecido,<br />

mas é verdadeiro dentro dessa relação.<br />

— Mas não é isso o que afirmam os relativistas?, perguntou<br />

Reinaldo.<br />

f<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 11:1<br />

— Parece-me que disse que há no relativismo um aspecto<br />

positivo, e ninguém de boa mente o pode negar. Mas, a verdade<br />

que sifcge desse conhecimento, dentro dessa relação, 6<br />

verdadeira. Nessa relação, esse verde é como êle é.<br />

— Neste caso, tudo é verdade, e cairíamos no defeito que<br />

você fêz tanta questão de frisar, retrucou Reinaldo.<br />

— Tudo é verdade considerado em si mesmo, porque ser<br />

é verdade. Se ser fosse falsidade seria nada, já que mostramos<br />

que a falsidade é negativa. Mas um juízo pode ser falso,<br />

como o mostramos. Portanto, nem tudo pode ser verdade.<br />

— Mas um juízo falso é em si verdadeiro, ou não?, perguntou<br />

Reinaldo.<br />

— O juízo enquanto juízo lógico é falso, enquanto entidade<br />

que se dá, entidade psicológica, é verdadeiro. Parece-me<br />

que já disse que a falsidade há apenas no juízo, não na realidade<br />

das coisas enquanto seres. Enquanto seres as coisas<br />

não mentem.<br />

— Você não pode negar, Pitágoras, que grandes filósofos<br />

discordam dessa posição. E eu poderia citar muitos, como entre<br />

"os antigos Heraclito, Parmênides, Demócrito, e, entre os<br />

modernos, Descartes, Berkeley, Kant, Hegel, e tantos outros,<br />

ponderou Reinaldo.<br />

— Sabemos todos disso. Contudo os melhores argumentos<br />

e mais sólidos e bem fundados não estão do lado deles, mas<br />

do lado que adoto.<br />

— Gostaria que me fizesse então uma síntese de tais argumentos.<br />

Seria bom para todos nós, propôs Reinaldo.<br />

— Sei que há dificuldades em fazê-lo, pois tenho que confiar<br />

apenas na memória e numa disposição intelectual favorável<br />

que pode me faltar num momento como este. Contudo, tudo<br />

farei para ser o mais preciso e seguro.<br />

— Então comece.<br />

— E' o que vou fazer.<br />

«*

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