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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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138 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

cede um homem de dignidade, numa época em que a dignidade<br />

é a coisa mais rara, e que, contrastando com as leis da economia,<br />

menos vale, o que demonstra que nesse campo a economia<br />

nada tem que ver com tais coisas. Mas eu estenderia meu<br />

pedido. Se pudesse solicitaria a todos os que acusam a escolástica<br />

que, antes de fazê-lo, estudassem-na, para depois combatê-la,<br />

se puderem. Até hoje não encontrei um sequer que<br />

a atacasse e que a conhecesse medianamente. Essa é a verdade.<br />

— Não seria melhor que voltássemos a examinar os pontos<br />

que deixamos para trás?, propôs Artur.<br />

— Isso mesmo, apoiou Paulsen. Há pouco, ao conversar<br />

com Vítor, estava êle me dizendo o seguinte: todo conhecimento<br />

humano parte da experiência sensível, pois são os sentidos que<br />

nos colocam em face do mundo exterior e nos oferecem os meios<br />

de conhecimento do mesmo. Mas acontece que os sentidos nos<br />

enganam e que, portanto, o nosso conhecimento, tendo essa base,<br />

terá que sofrer as deficiências de origem. Como Pitágoras naturalmente<br />

não aceitaria esse ponto-de-vista, seria interessante<br />

que êle o abordasse, e nos dissesse o que pensa sobre êle. Não<br />

acham que é um tema de grande importância para o diálogo<br />

de hoje?<br />

Todos aprovaram, e Pitágoras aceitou tratar dele. E começou<br />

deste modo:<br />

DIÁLOGO SOBRE A VER<strong>DA</strong>DE<br />

E O ERRO<br />

— Antes de entrar na análise do valor do conhecimento<br />

sensível, há outros pontos que desejo abordar, pois são importantes<br />

para o que pretendemos fazer. Pitágoras tomou uma<br />

posição mais ereta, e, com palavras bem marcadas, continuou<br />

deste modo: — De certa maneira o intelecto humano é causa dos<br />

nossos erros; ou seja, não é causa deles por sua própria natureza.<br />

.Uma tese como esta precisa ser demonstrada, e é o que<br />

farei. E' evidente que o intelecto humano é essencialmente limitado.<br />

Nisto, creio, estamos todos de acordo. Ademais, essa<br />

deficiência está comprovada por toda a nossa experiência. Essa<br />

deficiência natural permite-nos compreender todas as outras<br />

deficiências que daí decorrem. Mas essa deficiência não é erro,<br />

senão apenas ignorância, e ignorância negativa. Se o intelecto<br />

não sabe tudo, não quer isto dizer que êle não saiba nada. Essa<br />

deficiência não é erro, repito. Há erro somente quando o intelecto<br />

humano se afasta das regras da verdade. O facto de<br />

o intelecto ser deficiente não quer dizer que seja falível, porque<br />

de certo modo é infalível no que sabe com segurança, embora<br />

possa não saber. Não há falha, mas faltas, deficiências,<br />

porque muito nos escapa ao conhecimento, mas o que obtemos<br />

pode, desde que obedecidas as regras, ser verdadeiro. Assim,<br />

por deficiência, não sei tudo quanto é inteligível de Artur, mas<br />

posso saber com infalibilidade que é Artur, que é um ser humano,<br />

que é um ente real, etc. Ao conhecer, podemos desviar-<br />

-nos, por deficiência de nossos órgãos sensitivos, por deficiência<br />

de nossa constituição intelectual, memória, raciocínio, paixões,<br />

que podem afastar-nos de uma recta observação. Mas acusar<br />

de falsidade todo o nosso intelecto é cair num extremo que é

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