FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
cimentos, Artur, que revelava uma impaciência incontida, pôs-<br />
-se a dizer:<br />
— Vamos, amigos, aproveitar bem o tempo, hoje, e comecemos<br />
os nossos dialogo». Pitágoras está com a palavra.<br />
Como todos aprovassem, Pitágoras começou assim:<br />
— Meu maior desejo é o de que nossas conversações tomem<br />
um rumo sempre proveitoso para todos nós e com a máxima<br />
dignidade e sem o uso dos meios falsos e dispersivos de<br />
discutir, próprios da nossa época. Que possamos invadir os<br />
terrenos mais importantes e analisar os problemas que agitam<br />
o homem moderno com a máxima segurança, a fim de podermos<br />
contribuir, pelo menos entre nós, para uma visão mais<br />
clara e segura das coisas.<br />
Depois das exposições que tive a oportunidade de fazer,<br />
creio que todos bem compreenderam a minha posição, no referente<br />
ao conhecimento. Afirmei e justifiquei, dentro de minhas<br />
forças, que a mente humana é apta a conhecer a verdade,<br />
dentro das suas naturais condições, que pode conhecer o mundo<br />
exterior, que é real, sem esgotar, porém, toda a inteligibilidade<br />
das coisas, e que os esquemas noéticos, que o homem constrói,<br />
são fundamentados, e intencionalmente representam os factos<br />
da sua experiência. E, ainda mais, que o homem é capaz de<br />
usar a sua mente para bem raciocinar, construir uma lógica,<br />
que é um instrumento seguro para as suas especulações filosóficas,<br />
e, também, construir dialécticas seguras e capazes de<br />
aumentar o âmbito de seus conhecimentos e de dar base às suas<br />
pesquisas. Afirmei que o homem tem critérios seguros de verdade,<br />
e se erra em seus raciocínios, tal decorre de precipitações,<br />
ou de possuir bases, pontos-de-partida falsos, mas que é a mente<br />
humana suficientemente capaz de revisar os conhecimentos e<br />
dar-lhe sempre a apoditicidade que se impõe. Como todos sabem,<br />
e nunca escondi minhas convicções, defendi sempre, na<br />
filosofia, a posição pitagórica, não porque me chamo Pitágoras,<br />
mas porque tenho uma grande afinidade com a sua doutrina,<br />
a sua verdadeira doutrina, e não a que é comumente exposta<br />
em geral. Permitam-me um parêntese para esclarecer bem o<br />
que digo. Meu pai era um admirador de Pitágoras, e dizia que<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> AFIRMAÇAO E <strong>DA</strong> NECAÇÃO I:U<br />
se um dia tivesse um filho, êle se chamaria Pitágoras, e haveria<br />
de procurar estudar a doutrina do mestre de Samos. K<br />
aconteceu que me chamei Pitágoras. E, instado por meu pai,<br />
que sabia provocar em mim interesse pelas coisas, me animei<br />
de tal modo que me dediquei ao estudo do que se chamou pitagorismo.<br />
Confesso que, de início, tive uma decepção. Havia na doutrina<br />
coisas de valor a par de coisas ingénuas e primárias. O<br />
pitagorismo parecia-me assim uma doutrina infantil; ou melhor,<br />
os primeiros ensaios de um filosofar são e positivo, mas<br />
muito longe de ser para mim uma doutrina que seguramente<br />
me pudesse impressionar. Mas aconteceram factos inesperados,<br />
e encontrei caminhos outros para chegar ao âmago da doutrina<br />
do mestre de Crótona. Se lhes fosse contar, seria longo<br />
e pouco adiantaria. Toda a literatura pitagórica, e o que se<br />
escreveu sobre ela, ocultava um pensamento secreto, que não<br />
convinha ser externado. Quando compreendi isso, e pude entender<br />
o que havia de oculto, meus olhos se abriram e, então,<br />
pude compreender melhor Platão, Aristóteles, e todo o processo<br />
filosófico que se seguiu até os nossos dias. Mas, o que mais<br />
me impressionou no pitagorismo iniciático, que devemos distinguir<br />
do pitagorismo simpatizante, que é o que quase sempre<br />
aparece como o genuíno pitagórico, foi a exigência e o conselho<br />
do mestre de que a filosofia é um amor ao saber e o saber<br />
é a mathesis suprema. Mas o saber do homem só é seguro<br />
quando demonstrado, e o dever do filósofo é demonstrar apoditicamente<br />
tudo quanto conhece, adquire e admite. Às vezes,<br />
quando nos encontramos ante possibilidades, as contrárias podem<br />
ser verdadeiras e até as contraditórias, pois pode actualizar-se<br />
ou não uma possibilidade, esta ou aquela. Fundados<br />
apenas em probabilidades, nenhuma certeza poderá surgir, e<br />
quando em matéria contingente nos encontramos entre duas<br />
proposições contraditórias, elas podem ser simultaneamente<br />
prováveis, mas uma pode ser mais provável que a outra. Por<br />
outro lado, sabemos que a opinião é o assentimento firme da<br />
mente sobre algo, mas com o temor de errar. Há opinião sempre<br />
que o que aceitamos como verdadeiro pode não ser. Como<br />
poderia haver um conhecimento certo e uma opinião ao mesmo<br />
tempo do mesmo objecto? Pode-se ter uma opinião de uma