FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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122 MÁKIO KKIUÍKIKA DOS SANTOS<br />
sa, porque ela não revela nenhuma grandeza do homem. Crer,<br />
porque não se consegue penetrar nos mistérios, ou não crer<br />
porque se encontrou uma explicação puramente próxima dos<br />
mesmos mistérios, sem se afundar no seu âmago, sãó para mim,<br />
de certo modo, equivalentes. O que prego é uma religião do<br />
homem, quando, como homem, supera a sua afectividade e invade<br />
com o seu intelecto o que há de mais elevado, e consegue<br />
ir além do estreito campo de sua experiência sensível e perscruta<br />
o segredo das coisas, quando, penetrando no que há de<br />
mais profundo, humildemente encontra o que há de superior, e<br />
venera o que ultrapassa os limites estreitos de seu conhecer<br />
primário. A descrença dos eruditos metropolitanos é ainda<br />
fraqueza, porque estes, como aqueles, são apenas joguetes das<br />
suas evidências. Um porque convive com o mistério que não<br />
se revela, e outro, porque consegue conhecer os nexos de causalidade<br />
entre as causas próximas e os efeitos imediatos. Um<br />
crê, porque não sabe, e o outro não crê porque pensa saber.<br />
Para mim, tudo isso ainda é fraqueza. A grandeza do homem<br />
está em superar as condições que lhe são adversas. Quando,<br />
pela sua mente, munido apenas do pensamento, penetra no que<br />
há de mais profundo, invade o que se lhe oculta aos olhos, e<br />
consegue descobrir os nexos das causas remotas e da causa primeira<br />
de todas as coisas, descobre êle que há uma fonte de todas<br />
as coisas que, pela sua eminência e pelo seu imenso valor,<br />
êle respeita e ama. Só quando o homem consegue elevar-se<br />
acima da sua contingência e alcançar esse ser supremo, e humildemente<br />
lhe presta a homenagem que êle merece, então o<br />
homem consegue ultrapassar os seus próprios limites, porque<br />
no mesmo instante em que os vence, êle supera a si mesmo.<br />
E' essa a minha religião. Não desrespeito as dos outros.<br />
Sempre prefiro o homem que crê ao que se obstina na descrença.<br />
Mas a minha admiração maior é para o que corajosamente<br />
invade os mistérios, e acha por si, por si descobre, por si desvenda.<br />
Você sabe muito bem que sempre admirei os corajosos<br />
e os que são capazes de ir além de si mesmos. Você sabe<br />
disso.<br />
* * *<br />
Reinaldo, numa roda em que se achava Pitágoras, comentava<br />
sobre o valor da lógica com estas palavras:<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 12'5<br />
— De minha parte, reconheço que não entendo bem o entusiasmo<br />
que Pitágoras sempre revela pela Lógica, sobretudo<br />
pelas contribuições que os escolásticos apresentaram. E digo<br />
isso porque os escolásticos tornaram-se ridículos com a sua subtileza,<br />
a ponto de distinguirem tanto e tanto, que acabaram<br />
por tornar tudo distinto e, de tal modo, que nunca se sabe<br />
quando se está realmente com a verdade. Em suma, se<br />
se segue à risca o que afirmam os escolásticos, nunca se tem<br />
nenhuma base segura no que se diz, porque há sempre uma<br />
distinção para destruir tudo o que se afirmou com segurança.<br />
Pitágoras respondeu imediatamente:<br />
(— Não há razão de sua parte, Reinaldo. Se houve exagero<br />
de alguns nas subtis distinções, há outras que são fundamentalmente<br />
bem colocadas. E é apenas quanto a estas que<br />
eu defendo e proponho. Realmente, a lógica, como a empregavam<br />
os escolásticos, é difícil, muito difícil. Mas tais dificuldades<br />
não são insuperáveis. E' uma questão apenas de método<br />
e de persistência no estudo, o que se exige para se ter um domínio<br />
bem seguro do que ela oferece de mais sólido. Lembre-se<br />
que os factos são singulares e heterogéneos, e que as coisas ao<br />
mesmo tempo que apresentam aspectos que se assemelham,<br />
apresentam também os que se diferenciam. E entre os que se<br />
assemelham, sabe*que há muitos que revelam aspectos que precisam<br />
ser distinguidos. Naturalmente que os escolásticos não<br />
queriam prender-se ao formalismo de que muitos, por ignorarem<br />
a realidade de sua obra, os acusam. Formalistas seriam<br />
eles se não compreendessem que a heterogeneidade exige distinguir<br />
onde há diferenças. A única maneira de poder a lógica<br />
ser aplicada com segurança à realidade é através das distinções,<br />
pois elas permitem assegurar o máximo cuidado em<br />
salientar os pontos em que há semelhanças e aqueles em que<br />
há diferenças. A heterogeneidade exige a distinção; caso contrário<br />
a lógica não corresponderia à realidade multiforme e vária.<br />
Por isso, o que muitos salientam como um vício ou um<br />
defeito é precisamente uma virtude e uma proficiência.<br />
* * *<br />
Perguntou Josias:<br />
— Se os crentes dizem que o homem é feito à semelhança<br />
de Deus, então Deus é semelhante aos homens. Se é semelhante<br />
aos homens, êle é relativo e não absoluto.