12 MÁRIO FERREIRA «OS SANTOS O nihilismo moderno tem suas raízes cm dois factores importantes: nos erros filosóficos dos sofistas modernos
14 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS passa nessas experiências, nu realização do robot, o nimbolo mais representativo de toda n nossa época! DeunecenHitiir da inteligência humana, máquinas capazes d»* projeHur maquina*, de escolher máquinas, de realizar maquinas para produzir tudo. Nesse dia poder-se-ia desterrar a inteligência humana para ou museus. K poderiam as gerações futuras rir dos cálculos'matemáticos de um Newton, de um Leibnitz, das especulações dos filósofos. "Libertamo-nos da inteligência!", poderia ser a - fruse-galardão de uma era. Quantos sonhos povoados dessas esperanças não agitarão a mente de tantos empresários e de tantos nihilistas do homem! Mas essa esperança também se desfará em pó. Também a derrota se aproxima. Pois bem, tudo isso, levando o homem a perder jnuito cm dignidade, colocou ante o homem moderno a mais angustiante das .perguntas: Que valemos, afinal? E que vale o valor? Que é valor? Essas perguntas, que o agitam, espicaçam-no afinal a procurar. E essa procura não será inútil. Essa procura há de lhe oferecer ainda um imprevisto, e êle terminará por encontrar no meio do caminho, outra vez, uma solução que unirá, mas através de uma transcendência. As filosofias nihilistas de hoje são os avatares da sofística grega que destruiu uma cultura e deu um triste final a páginas tão belas da história. Quando intitulei este livro de "As Filosofias da Afirmação e da Negação", quis colocar-me plenamente no meio do que assoberba a consciência moderna. E também quis tomar uma atitude. A diácrise em que vivemos, a crise instaurada, que cria abismos entre os elementos constituintes, não pode ser solucionada por síncrises, como as que tentamos realizar. A coesão pode ser adquirida pela força, mas será caduca. Só um poder une os opostos: é a transcendência. Querer forçar a unidade mecânica da nossa sociedade através do aumento do poder do Estado, da polícia e do exército e do organismo burocrático ou partidário, é uma forma brutal de coesão, e fadada ao molôgro. <strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 15 Cairá fatalmente. Porque só a síntese transcendental consegue a coesão intrínseca. Parece haver uma contradicção aqui, mas esta é meramente aparente. Quando as partes de um todo estão unidas pela coesão dada por uma força exterior, essa coesão é apenas transeunte e falha. Não nos unimos por estarmos mais próximos uns aos outros, por convivermos ao lado uns dos outros, por nossos corpos se aproximarem mais e se esfregarem mais. O que une os homens não é o físico, mas o espiritual. O homem não é apenas um animal, mas um animal que tem racionalidade, entendimento e uma inteligência especulativa e também apofântica, porque também capta o que não se exterioriza, o que se oculta. A lei não nos une porque decreta a nossa união. O Estado moderno é uma abstracção dentro da sociedade, e não é um organismo. E' apenas uma máquina. Falta-lhe a vida. Se fosse a sociedade organizada, seria ela mesma. Só então o Estado seria a sociedade. Por mais que alguns -queiram, a polícia não é um substituto de Deus, nem a lei decretada pelos poderes constituídos a lei que brota dos corações e da inteligência. Tudo isso é uma mentira que custará muito caro aos homens, como já vem custando. O Estado moderno conseguiu realizar mais uma brutalidade, e nada mais. E' preciso que surja espontaneamente o que une, como surge o amor de mãe ao filho, a amizade entre os indivíduos humanos. Não se decretam simpatias. Eis o que queremos chamar de imanência. Enquanto o humano não unir os humanos, estes não transcenderão a si mesmos. A transcendência sintética de que falo é aquela que tem raízes na imanência humana. E quem pode negar que o homem moderno trai a si mesmo"? Não se afasta cada vez mais de si mesmo? Não nega cada vez mais a si mesmo? Não busca fugir de si mesmo em busca da sua negação ? Tudo na sociedade moderna separa. Não são apenas as coletividades que se separam, as classes que se separam, os grupos que se separam; são os indivíduos que se separam, e estes dentro de si mesmos. Quantos são estranhos a si mesmos! Quantos permanecem atónitos quando se debruçam no exame de sua própria personalidade! Sim, cada vez mais nos desconhecemos, quando pensamos que nos aproximamos de nós mesmos. Quão poucos resistem à contemplação de sua própria