FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
é aceito por Platão, e 6 dele que fala. Assim, nesta mesa, nada<br />
de livro. Ou, melhor, a propriedade ou a qualidade de que não<br />
dispõe ou não tem esta mesa é nada para ela, más relativamente.<br />
Assim, a ausência é um não-ser relativo, porque a ausência<br />
tem de ser ausência de alguma coisa para que seja realmente<br />
ausência, porque uma ausência de nada é nada.<br />
—■ Então o conceito de não-ser é imperioso e útil para a<br />
filosofia?, tornou a perguntar Ricardo.<br />
— Sem dúvida. Aristóteles ao tratar da potência e do<br />
acto, tratou também da privação. Mas deu pouca importância<br />
a esta. Esqueceu um ponto importante, pois a privação nos<br />
auxilia a compreender a heterogeneidade. Há heterogeneidade<br />
nos seres por estarem estes privados de' alguma positividade.<br />
Assim, os entes são o que são porque não são o que não<br />
são. Esta posição é bem pitagórica. O que constitui ontologicamente<br />
as coisas são os números, como formas, ou, seja, como<br />
proporcionalidade intrínseca das coisas. As coisas são números,<br />
e constituídas de números, pois os elementos que as compõem<br />
são números e estão ordenadas segundo um número.<br />
Desse modo revela-se a privação, pois o que tem um número<br />
é porque lhe ausenta alguma coisa. Para que haja uma proporcionalidade<br />
intrínseca, um número formal, é mister que haja<br />
faltas, ausências. A privação é, pois, de uma importância capital<br />
na filosofia. E' pena que não a tenham devidamente<br />
estudado.<br />
* * *<br />
Certa vez, disse Josias para Pitágoras:<br />
— A razão humana falha, e muitas vezes nos decepciona.<br />
Portanto. . .<br />
— Mas é em tudo, Josias que ela falha? Não; em algumas<br />
ocasiões. Noutras, ela não falha. Não é, portanto, em<br />
todas as ocasiões. Por isso é que convém ter cuidado com ela,<br />
ser prudente nos raciocínios para evitar os erros e não lançar-lhe<br />
a pecha de capenga. ..<br />
* * *<br />
Foi Paulsen, quem, dirigindo-se a Pitágoras, disse-lhe certa<br />
vez:<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 113<br />
— Há duas frases que sempre me impressionaram e sobre<br />
as quais meditei e concluí que são elas verdadeiras.<br />
— Quais são elas?<br />
— As seguintes: "A história é a realidade do homem".<br />
A outra é "O homem não tem natureza, mas, sim, história".<br />
Se não me engano, a primeira frase é de Dilthey e a segunda<br />
de Ortega y Gasset. Como você tem falado muito na natureza<br />
humana, gostaria que me mostrasse o erro destes princípios.<br />
— Bem, tanto Dilthey como Ortega y Gasset, quando tais<br />
frases escreveram, defendiam a tese relativista do historicismo<br />
psicológico ou o que outros chamam de psicologismo histórico.<br />
Para Dilthey, a metafísica é um facto histórico, mas sem<br />
nenhum valor científico, porque ciência é aquela que se funda<br />
e se deve fundar em princípios objectivos, enquanto a metafísica<br />
funda-se em princípios subjectivos do cognoscente. Ademais,<br />
para eles, a realidade é irracional, e nenhum sistema metafísico<br />
poderia adequadamente compreendê-la ou entendê-la, o<br />
que torna sem validez qualquer sistema. Daí concluírem eles<br />
que o homem é apenas história e, nele, os caracteres históricos<br />
e sociológicos determinam o valor da vida cultural do homem.<br />
Todas as reações do homem são proporcionadas a esses caracteres;<br />
de maneira que a verdade se origina destas determinações<br />
psicológicas e dos influxos históricos. A verdade é, assim,<br />
histórica também, e vale apenas num determinado período da<br />
história.<br />
Encontramos opiniões semelhantes em Spengler e Nietzsche.<br />
Daí serem impossíveis definições a priori, e somente a<br />
posteriori. Mas, na verdade, o homem não age na história<br />
apenas com o intelecto, mas com uma consciência total, a essa<br />
doutrina reduz-se aos mesmos erros do relativismo psicológico,<br />
que confunde a necessidade lógica com a necessidade psicológica,<br />
quando elas são claramente distintas, já que a necessidade<br />
lógica é regida pela evidência objectiva, enquanto a psicológica<br />
é puramente subjectiva.<br />
Ademais, o psicologismo só admite como razão do conhecimento<br />
a necessidade psicológica, e êle destrói essa mesma