FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
108 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
se usa o termo médio, a mostração é imediata. Que o todo é<br />
quantitativamente a soma de suas partes, não exige demonstração,<br />
porque mostra-se de per si. Nem tampouco necessitaria<br />
demonstração o juízo alguma coisa há, porque aqui o predicado<br />
complementa perfeitamente o sujeito, pois alguma coisa<br />
implica o haver, e o haver implica alguma coisa. Mas, mesmo<br />
assim, a posteriori, esse juízo pode ser demonstrado, mas indirectamente,<br />
portanto. O facto de uma coisa poder ser demonstrada,<br />
impõe que essa demonstração seja apodítica, que tenha<br />
uma necessidade ou hipotética ou simples, absoluta. Pode-se<br />
dizer com segurança: necessariamente há alguma coisa. Porém<br />
há alguma coisa contingentemente, sem dúvida, mas tem<br />
de haver alguma coisa necessariamente, para que alguém possa<br />
afirmar que há alguma coisa, e, ademais, há alguma coisa, porque<br />
alguém pode afirmar e afirma que há alguma coisa. E' de<br />
necessidade absoluta que haja alguma coisa. Quando a análise<br />
alcança essa apoditicidade, o juízo é absolutamente evidente.<br />
Os juízos que sofreram modificações, que foram em certo período<br />
considerados verdadeiros, e depois acusados de falsidade,<br />
não ofereciam essa apoditicidade de que falei. A demonstração<br />
tem seus princípios, e estes são e devem ser evidentes de<br />
per si. Neste sentido, a demonstração não é princípio de evidência,<br />
mas sim os princípios da demonstração. Creio que<br />
assim esclareci minhas palavras, e posso evitar a acusação de<br />
incoerência. Fui claro, Ricardo?<br />
— Foi, respondeu êle.<br />
— Pois bem, se a memória não lhes falhar, poderão todos,<br />
recordando o que discutimos quanto ao ficcionalismo, verificar<br />
que coloquei a impossibilidade dessa posição ante argumentos<br />
fundados apoditicamente, sob o nexo de uma necessidade simples<br />
e absoluta. A conclusão final foi a de que necessariamente<br />
tudo não pode ser ficção no homem. E não podia, porque chegava<br />
a ofender a princípios ontológicos como o de identidade, o<br />
de contradicção, que estavam já suficientemente demonstrados.<br />
Poderia ainda mostrar que tal posição, pseudamente filosófica,<br />
ofende ainda outros princípios, mas, neste caso, ter-me-ia estendido<br />
desnecessariamente. A certeza é um assentimento firme,<br />
uma firme adesão à virtude cognoscitiva no que é cognoscível.<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 101)<br />
Exclui totalmente a dúvida, que se revela numa flutuação entre<br />
opostos, como exclui todo temor de errar.<br />
— E' pena que já seja tarde, Pitágoras. De minha parte,<br />
considero que a sua exposição de hoje foi magnífica, e muito<br />
nos esclareceu, disse Artur. Espero que amanhã nós nos encontremos<br />
outra vez. Até lá, todos nós teremos a oportunidade<br />
de meditar sobre o que você disse, e tenho a certeza de que<br />
isso permitiria que Josias, Ricardo, Reinaldo, Paulsen e também<br />
Vítor possam propor outras objecções, a não ser que concordem<br />
com a sua posição gnoseológica. De minha parte, considero<br />
que há alguns pontos sobre os quais gostaria de fazer<br />
algumas perguntas, mas prefiro fazê-las amanhã, apesar da<br />
ansiedade que me invade. Paulsen já me fêz várias vezes sinal,<br />
apontando a hora. E' justo que nos despeçamos uns dos outros.<br />
Todos concordaram com Artur, e naquela noite de nada<br />
mais trataram.