FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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I^ MAitio KMUÍKIKA i>o;; SANTOS<br />
pcnsamcnio, porem, c uni só. Tanto a falsidade como a verdade,<br />
logicamente consideradas, não têm graus. Os graus,<br />
têm-nos a certeza ou o erro. Sc me permitem, mais adiante<br />
mostrarei as razões t|iie justificam o meu modo de pensar.<br />
— - Sua exposição. 1'ilágoras, mereceu de todos nós a maior<br />
e a melhor atenção. Mas você não nos expôs ainda suficientemente<br />
qual o critério de verdade, como poder aferir com segurança<br />
que um juízo é verdadeiro ou falso. Já nos expôs<br />
a natureza da verdade ou da falsidade lógicas, mas como sabermos<br />
com segurança quando há verdade ou falsidade?, perguntou<br />
Reinaldo.<br />
— Realmente, embora já tenha abordado parte desse tema,<br />
impõe-se que o estude melhor. A evidência, como razão da<br />
verdade, é realmente o que me cabe agora examinar. Não é<br />
fácil definir-se o termo evidência e até se pode dizer que é<br />
indefinível. Como vem de videre, videntia, em seu sentido<br />
etimológico, é a visão da verdade, empregado analogicamente<br />
com o termo visão, vidência. Alguns dizem que a evidência é<br />
a manifestação necessária da verdade do objecto, da clara inteligibilidade<br />
da coisa, ou mais subjectivamente, a clareza pela<br />
qual a mente percebe um objecto. A inteligibilidade de um<br />
objecto é o que neste é capaz de ser captado por uma mente.<br />
A inteligibilidade das coisas, em relação a nós, é relativa à<br />
nossa capacidade de conhecer, de perceber. Metafisicamente<br />
se pode dizer que todo ente é inteligível, porque tudo pode ser<br />
entendido por uma mente. Mas há aspectos que escapam, para<br />
alguns, à nossa capacidade intelectual; seriam assim ininteligíveis<br />
para nós. Outros, porém, afirmam que a mente humana<br />
é apta a entender, a inteligir todas as coisas que são, mas<br />
a capacidade intelectiva é progressiva e educativa; ou seja, permite<br />
uma educação, permite ser conduzida aos poucos para inteligir<br />
o que é inteligível. Todo ser é inteligível, mas não imediatamente,<br />
mesmo porque, imediatamente, nem sempre captamos<br />
o ser das coisas, nem muito menos de todas as coisas. Ora,<br />
o que nos dá a validez de nossos conhecimentos é a evidência,<br />
e esta não é outra coisa que a razão da certeza.<br />
— Parece-me, Pitágoras, que nos movemos apenas num<br />
mundo de palavras. Gostaria que você precisasse melhor os<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> lo:{<br />
termos, pois há por aí muitas tautologias: se as palavras são<br />
dependentes, você diz as mesmas coisas, alegou Reinaldo.<br />
Pitágoras permaneceu algum tempo calado, parecia atónito.<br />
As palavras de Reinaldo pareciam tê-lo enleiado, e Artur<br />
manifestou certo receio. Mas um sorriso largo, que apareceu<br />
no rosto de Pitágoras, devolveu logo a confiança ao amigo. E<br />
Pitágoras respondeu:<br />
— Talvez não me tenha precisado como devera. Mas não<br />
se apoquente, Reinaldo, que procurarei ser mais claro e mais<br />
explícito. Eu disse que a evidência é a razão da certeza, e vou<br />
explicar bem, e justificar o que digo, e você verá que não há<br />
aí repetições, nem petições de princípio, nem círculos viciosas<br />
ou o que valha. Entre a evidência e a certeza há uma relação<br />
de causa e efeito. A evidência se infere da certeza. A evidência<br />
decorre da coisa, e a certeza é o estado mental. Esses<br />
dois termos têm sido usados indistintamente na filosofia, mas<br />
pode-se estabelecer que a evidência é mais objectiva, e a certeza<br />
mais subjectiva. Ora, os antigos diziam, e o diziam bem,<br />
que a certeza é o estado que consiste na adesão firme ao enunciável,<br />
sem o menor receio de erro. Essa definição revela o<br />
máximo de subjectividade. Dizendo que é o assentimento firme<br />
sobre um enunciável decorrente de motivos ou objectos claros<br />
e proporcionados, daríamos uma definição mais objectiva.<br />
Neste caso, poderia falar-se numa evidência objectiva, numa<br />
subjectiva e numa objectivo-subjectiva. E também se pode<br />
falar em evidência imediata, em mediata, em evidência metafísica,<br />
física, matemática, científica, moral, ética, jurídica, etc,<br />
ou ainda intrínseca ou extrínseca. Ora, essas divisões, usadas<br />
pelos antigos, continuam sendo usadas pelos modernos. Daí<br />
poder-se empregar evidência de consequência, que é a evidência<br />
formal, lógica, que se pode dar, com antecedentes falsos,<br />
sem que a consequência o seja, que sempre é imediata. Fala-se<br />
também na evidência de consequente, que é mediata sempre, e<br />
que se dá da vidência de antecedente, o qual é verdadeiro, e do<br />
próprio consequente, que pode ser evidente de per si. E muitas<br />
outras.<br />
— Em suma, Pitágoras, a verdade lógica é, para você, a<br />
adequação entre o intelecto e a coisa. Ora, nada mais é essa