FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
— Não. Tanto o que diz 27 como o que diz 25 dizem falsidade.<br />
O que diz 27, contudo, está mais certo, mas em sentido<br />
material, do que o que diz 25. O que há aí é grau de certeza,<br />
não de verdade. Os dois juízos podem ser, quanto à sua verdade<br />
material, gradativamente mais certos ou menos certos,<br />
mas quanto à verdade lógica ambos são falsos. Há uma só<br />
maneira lógica de dizer matematicamente a verdade: é dizer 28.<br />
— Mas, se você admite que na apreensão há captação da<br />
verdade lógica, não reconhece que, no juízo, há mais perfeita<br />
essa verdade?<br />
— No juízo, a verdade não aumenta. E' a mesma. Se<br />
a apreensão meramente sensível captá-la, o juízo lógico não a<br />
aumentará.<br />
— Mas há juízos lógicos que são considerados verdadeiros<br />
e, posteriormente, se verifica que são falsos. Que critério<br />
teríamos para saber quando são certamente verdadeiros e quando<br />
podem ser falsos?, perguntou Ricardo.<br />
— Suas próprias palavras estão dando a resposta, Ricardo.<br />
Quando o juízo lógico afirma algo contingente, que pode<br />
ser ou pode não ser, a verdade que afirma, sem uma exacta<br />
comprovação, pode não ser tal. Mas se o juízo expressa o que<br />
é necessário, o que não pode não ser, o que é imprescindível que<br />
seja, o juízo é certamente verdadeiro, e não padece dúvida.<br />
— Gostaria que me exemplificasse, para justificar a sua<br />
afirmativa, pediu Josias.<br />
— Quando digo que alguma coisa há, digo necessariamente<br />
verdade, porque não é possível, de modo algum, que não haja<br />
nada, um nada absoluto, que nenhuma presença houvesse, porque<br />
a própria enunciação do juízo comprova, de modo necessário,<br />
que alguma coisa há. Quando digo que a todo consequente<br />
tem de haver um antecedente, digo algo necessariamente<br />
verdadeiro, porque se uma coisa se segue a outra há de haver<br />
uma que anteceda. Se digo, que há seres dependentes, necessariamente<br />
há algo do qual dependem, porque a dependência<br />
implica o de que depende e o que depende. Se falo num efeito,<br />
falo no que é feito por outro, necessariamente tem de haver o<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 90<br />
que faz e o que é feito, efeito. Não estamos aqui ante contingências,<br />
mas ante necessidades. Contudo, posso admitir que<br />
o consequente não haja, se há o antecedente, porque este poderia<br />
existir sem existir o segundo. Mas, se chamo o primeiro<br />
de antecedente, é porque outro o sucede. Assim, o que pode<br />
fazer pode não fazer, mas se há algo feito, um efeito, sei que<br />
necessariamente há ou houve o que o fêz.<br />
Um juízo é contingente quando se refere a coisas que podem<br />
ser ou podem não ser. Se digo que João está andando,<br />
pode ser verdade ou não, porque João podia não estar andando.<br />
Neste caso, e eis aqui um ponto de máxima importância, os<br />
juízos contingentes exigem uma comprovação, mas o juízo necessário<br />
revela-se a si mesmo como verdadeiro.<br />
— Bem, esses juízos necessários são os chamados axiomas.<br />
Mas pode você negar que certos axiomas, com o decorrer<br />
do tempo, acabaram por ser considerados falsos?, perguntou<br />
Josias. ' v<br />
— Não nego. Mas é que tais axiomas não revelavam uma<br />
necessidade do modo como expus.<br />
— Você conhece os axiomas da matemática. As matemáticas<br />
não-euclidianas não mostraram que os axiomas de Euclides<br />
eram falsos?, alegou Josias, com segurança.<br />
— Creio que você não compreendeu bem o papel das geometrias<br />
não-euclidianas. Elas não demonstraram que os axiomas<br />
de Euclides eram falsos, apenas mostraram que não encerravam<br />
toda a verdade materialmente considerada da geometria.<br />
Formalmente, os juízos de Euclides, dentro do âmbito<br />
da sua geometria meramente formal, são verdadeiros. Assim,<br />
por exemplo, quando se diz que o todo é igual à soma das suas<br />
partes, diz-se verdade necessariamente. Mas diz-se no âmbito<br />
quantitativo; ou seja, enquanto se toma o termo verbal igual<br />
no sentido quantitativo, porque quantitativamente o todo é<br />
igual à soma de suas partes. No entanto, um todo apresenta,<br />
sob o aspecto qualitativo ou específico, uma diferença quanto<br />
aos elementos da soma, como o homem, que não é apenas a<br />
soma de seus órgãos, como um muro que não é apenas a soma<br />
dos materiais que o compõem. Mas note que não é no âmbito