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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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MÁEIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

perfeita e formalmente, reconheço. Essa só se pode dar no<br />

juízo. Uma verdade lógica perfeita exige maior complexidade,<br />

mas uma simples apreensão pode dá-la já verdadeira, sem que<br />

tal justifique que se deva desprezar a comprovação. Esta se<br />

impõe. E a ciência humana se realiza através dessas comprovações,<br />

levando um conhecimento daqui para ali, reflectindo<br />

um conhecimento, analisando-o, através de comparações com<br />

outros já comprovados; em suma, especulando, discorrendo,<br />

correndo daqui para ali, para comparar, comprovar. E' esse<br />

o saber culto, saber que se realiza no homem fora da experiência<br />

exterior, mas com dados oferecidos por esta, em que a mente<br />

opera com as formas captadas e as compara. E toda essa<br />

actividade racional chama-se raciocinar, inferir, induzir, deduzir<br />

algo que se segue, ou que segue com, consequências.<br />

— Na verdade lógica, então, é suficiente qualquer conformidade?,<br />

perguntou Paulsen.<br />

— Não, respondeu Pitágoras. Não qualquer, mas uma<br />

conformidade formal entre a cognição e a coisa. Já vimos que<br />

não há adequações de ordem física, mas apenas formais. A<br />

simples cognição dá os dados para a operação lógica que se<br />

processa posteriormente, quanto à ordem genética.<br />

— Parece-me que pela explicação dada até aqui, admite<br />

você que há graus de verdade no juízo lógico. Portanto, a verdade<br />

lógica é gradativa. Não é assim, Pitágoras?<br />

— Só se não me expressei bem, pois não creio ter deixado<br />

nenhum rastro que indique aceitar eu uma gradatividade na<br />

verdade lógica.<br />

— De minha parte — alegou Ricardo — não fiquei bem<br />

esclarecido, e gostaria que você abordasse este ponto, pois só<br />

então poderia objectar alguma coisa, pois não quero fazer objecções<br />

sem que a exposição tenha terminado.<br />

— De boa vontade, abordarei este ponto, pois não desejo,<br />

de modo algum, que minhas palavras dêem motivos a confusões.<br />

Devemos distinguir a verdade formalmente considerada da<br />

verdade materialmente considerada. A primeira não pode admitir<br />

graus, mas a segunda, sim. Posso saber mais e mais de<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 97<br />

uma coisa, e posso ampliar assim a verdade materialmente considerada<br />

da coisa, que é relativa. Mas, formalmente, o que sei<br />

da coisa é verdade ou falsidade. Assim, materialmente, sei que<br />

a côr verde tem tantas e tantas vibrações, ou se dá dentro de<br />

uma gama de uma faixa de vibrações. Desse modo ampliei<br />

meu conhecimento, meu saber sobre a côr verde. Mas quando<br />

digo que o verde é côr, essa afirmativa, logicamente considerada,<br />

é verdadeira ou falsa, e não é mais ou menos verdadeira.<br />

Logicamente, não há lugar para gradações; materialmente há,<br />

porque, materialmente, posso conhecer mais ou menos da verdade<br />

ôntica de uma coisa. O não haver distinguido essas duas<br />

verdades levou muitos a sérias confusões, e daí a negarem o<br />

valor da verdade lógica, pelo simples facto da verdade materialmente<br />

considerada ser ainda incompleta e não perfeita.<br />

— Gostaria, Pitágoras, que você me demonstrasse essa<br />

sua afirmação quanto à não gradatividade da verdade lógica,<br />

pediu Reinaldo.<br />

— Pois não. Quando realizo um juízo lógico, que faço?<br />

Atribuo, ou não, um predicado a um sujeito. Tomo o sujeito<br />

como um todo e o predicado também, e digo apenas é, ou não<br />

é o que digo do sujeito. Materialmente, em relação ao objecto,<br />

posso, extensiva e intensivamente, ter uma cognição maior ou<br />

menor. Assim, se digo que esse líquido é água, ou digo verdade<br />

ou falsidade. Mas posso ter um conhecimento mais extensivo<br />

sobre o que seja água; que é ela composta de hidrogénio<br />

e oxigénio etc. Este conhecimento pode ser ampliado, e aumentar<br />

a verdade da coisa captável por mim. A diferença é que<br />

no juízo lógico há adequação entre o esquema mental e a coisa,<br />

e na verdade material há adequação da coisa aos esquemas mentais,<br />

que podem ser ampliados. No entanto, no âmbito da verdade<br />

materialmente considerada, todos os juízos que realizo<br />

são lógicos e, como tais, não são gradativos, enquanto aquela<br />

verdade é gradativa.<br />

— Mas uma falsidade pode ser maior ou menor, Pitágoras.<br />

Quem diz que 7 vezes quatro é 27, diz menos falsidade<br />

que quem diz que é 25, porque 27 é mais próximo da verdade<br />

matemática, que é 28, alegou Vítor.

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