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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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94 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

verdade da palavra, que está no sinal verbal; e a verdade lógica,<br />

que está no intelecto. Quando digo o verde é uma côr,<br />

não há aí as três verdades? Não é o verde uma côr em si<br />

mesmo, a palavra não se refere direta e em conformidade ao<br />

que se entende por côr, e não há verdade no intelecto humano,<br />

quando chama de côr o género a que pertence o verde?<br />

Não há conformidade, adequação em tudo isso? Não é<br />

uma conformidade nem uma adequação física, mas uma adequação<br />

intencional, analógica à física, mas diferente, mental,<br />

intelectual. Em nenhum momento traí o conceito de verdade,<br />

a verdade que podemos alcançar. Traí? °<br />

Ninguém discordou. Só Artur aprovou com entusiasmo<br />

as palavras de Pitágoras.<br />

Continuou êle, então:<br />

— Pode-se agora precisar em que consiste a verdade lógica.<br />

Ora, o juízo é a segunda operação do espírito para a<br />

lógica, e consiste êle em afirmar ou negar um atributo, que se<br />

chama predicado, a um sujeito. Se o predicado, afirmado ou<br />

negado, realmente pertence ou não ao sujeito, mostrará que<br />

o juízo afirmativo ou negativo é verdadeiro ou falso. Deste<br />

modo, a verdade lógica está na simples apreensão, pela própria<br />

forma, não analogicamente, mas fundamentalmente. Nesse<br />

caso, a verdade lógica formalmente se dá no acto cognoscitivo<br />

com o seu objecto intencionalmente adequado; ou seja, conforme.<br />

Se a representação é intencional com o objecto, e adequada<br />

a êle, essa representação é verdadeira.<br />

— Permita-me uma pergunta, pediu Ricardo. Mas há<br />

vezes em que essa assimilação não é completa, e a representação<br />

do objecto, nesse caso, não seria verdadeira.<br />

— Se não estiver dentro das normais condições cognoscitivas<br />

do homem, não será verdadeira, de certo modo. Eu passo<br />

a expor, a fim de evitar uma confusão que não gostaria de provocar.<br />

Só há verdade lógica no juízo, já disse, quando o juízo<br />

realmente é conforme, adequado ao objecto; e assim, é verdadeiro<br />

o juízo que atribui ou não um predicado a um sujeito,<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 95<br />

quando essa atribuição é real ou não no sujeito. Contudo,<br />

referindo-nos ao conhecimento, sem dúvida que a assimilação<br />

é gradativa. A criança assimila da mãe e dos factos que a<br />

cercam, o que é proporcionado à sua esquemática incipiente.<br />

As representações que tem dos factos, que a cercam, são, portanto,<br />

proporcionais aos seus meios de conhecimento. Mas é<br />

aqui, na assimilação, que se dá gradativamente, que pode ser<br />

ela suficiente para dar uma inteligência normal do facto ou<br />

não; ou seja, quando os esquemas acomodados assimilam menos<br />

do que seria normal assimilar, ou mais do que seria normal.<br />

Ao acomodar os esquemas, o ser humano procura assimilar<br />

os factos exteriores, e quando há excesso de acomodação,<br />

êle imita os factos exteriores, e surge a imitação. Quando há<br />

insuficiência assimilativa, surge, então, o símbolo. Assim<br />

exemplifico. Num campo, uma mancha colorida numa planície,<br />

é assimilada fracamente, e como parece em algo com um<br />

ser humano, pode ser considerado como um ser humano. Para<br />

outro, é assimilado a um animal. Para outro, apenas um montículo<br />

de pedras, para outro uma árvore desgalhada. Há várias<br />

assimilações, fundadas em semelhanças a esquemas de homem,<br />

animal, monte de pedras, árvore desgalhada. Na verdade,<br />

aquela mancha de côr é um símbolo de todas essas coisas.<br />

E por que é um símbolo? Porque aponta alguma nota semelhante<br />

a alguma nota de cada um desses simbolizados. Só a<br />

verificação poderá demonstrar, de modo definitivo, qual se<br />

aproximou da verdade da coisa, a verdade ontológica da coisa.<br />

Portanto, as verdades, que possamos captar, devem ser comprovadas,<br />

e segundo as possibilidades de comprovação. A essa<br />

operação chama-se verificação. A verdade lógica não surge<br />

da simples apreensão. Ela se impõe através de uma operação<br />

que revela que o intelecto está conforme, adequado à coisa. E,<br />

neste caso, o juízo, que expressa essa predicação, é verdadeiro<br />

ou falso, se tal adequação fôr real ou não.<br />

— Então, a verdade lógica não se pode dar na simples<br />

apreensão, Pitágoras, objectou Ricardo.<br />

— Essa objecção, Ricardo, tem um grande valor, e tem<br />

sido feita até por conspícuos filósofos. Mas note bem o seguinte:<br />

a simples apreensão pode dar a verdade lógica, não porém

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