FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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MÁEIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
estreiteza de sua gama cognoscitiva. Se o homem não pode<br />
contemplar, face a face, a verdade ontológica em todo o seu<br />
esplendor, pode, contudo, contemplá-la dentro dos seus naturais<br />
limites, e também uma verdade que está também fora dele,<br />
enquanto o relativismo sempre subordina a verdade às medidas<br />
humanas. Creio que não há necessidade de repetir o que já<br />
examinei. Na verdade, nas doutrinas filosóficas, por mais diversas<br />
que sejam, há sempre um aspecto positivo da verdade,<br />
em suas afirmações mais fundamentais, mas onde elas pecam<br />
e erram sempre é em negar as positividades das putras doutrinas.<br />
No fundo, o mais amplo conhecimento será Adquirido pelo<br />
homem, não só ao captar as positividades dispersas nas diversas<br />
doutrinas, mas quando puder englobá-las numa construcção<br />
filosófica que as concrecione (1).<br />
Ora, aquela definição de Platão, inclui-se na esquemática<br />
sensível. A mente elaborou uma definição, partindo do que é<br />
mostrado pelas assimilações sensíveis, pois o homem era definido,<br />
não pelo que tinha êle de intrínseco, mas pelo que apresentava<br />
de extrínseco. Sob esse ângulo, a definição de Platão também<br />
era verdadeira.<br />
— Até aqui, Pitágoras, sua exposição não oferece pontos<br />
para objecção. O silêncio, que se observa, é um testemunho do<br />
que digo. Foi o que disse Artur.<br />
Pitágoras prosseguiu:<br />
— Mas sucede que a nossa mente não se cinge apenas a<br />
essa função de classificação de esquemas sensíveis. Desses esquemas<br />
sensíveis, ela extrai o que há de comum entre os seres,<br />
e constrói os conceitos chamados abstractos, pois os que se referem<br />
aos primeiros são conceitos que prefiro chamar de sensíveis;<br />
enquanto aos segundos, chamá-los-ia de formais. Vou<br />
justificar esse meu ponto-de-vista. Se sensivelmente sei distinguir<br />
o verde de o amarelo, se assimilo as coisas verdes, em<br />
serem verdes, a um conceito sensível diferente de as coisas<br />
amarelas, enquanto amarelas, ao construir o conceito de côr,<br />
no qual englobo o verde e o amarelo, esse conceito côr não é<br />
(1) E' o que realizamos em "Filosofia Concreta".<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> NKCAÇÀO !»;!<br />
algo que capto sensivelmente. Côr já é uma ordem, uma<br />
classificação, na qual incluo todos os distintos, que posso captar<br />
através das sensações ópticas. Côr é um conceito formal,<br />
meramente formal, abstracto. Contudo, através de uma outra<br />
operação, a abstractiva, que consiste em trazer para o lado o<br />
que há de comum entre seres diferentes. Todas-essas tonalidades,<br />
espécies de verde, amarelo, etc, têm algo em comum,<br />
algo em geral, general, genérico, daí género. Os conceitos formais<br />
são mais genéricos que os outros. E essa operação não<br />
é de algo captado pelos sentidos. Aqui há a elaboração de algo<br />
que não é objecto de uma intuição sensível. Assim digo que<br />
o verde é uma côr, e uma côr é o amarelo. Se vejo o amarelo<br />
deste objecto e o verde daquele, não vejo a côr. Mas é ou não<br />
verdade que o amarelo e o verde têm algo em comum? Não<br />
pertencem eles a uma mesma gama que os inclui? E o género<br />
não inclui as suas espécies? E' a côr o que se chama então<br />
um ente de razão. A côr não existe aqui e ali, fora das coisas,<br />
como um objecto sensível, mas como um objecto intelectual. A<br />
côr é o que têm de comum o verde e o amarelo, porém o que<br />
têm de comum não é captado pelos sentidos, mas pela mente,<br />
numa operação classificadora abstractiva. Pergunto a vocês<br />
se estou sendo claro.<br />
— Claríssimo, Pitágoras, e creio que suficientemente exacto,<br />
respondeu Artur.<br />
— Pergunto mais, acrescentou Pitágoras, convém que exponha<br />
ainda, com mais pormenores, ou o que disse é suficiente<br />
para se fazer uma clara distinção entre a operação sensível e<br />
a operação intelectual? Por favor Ricardo, Josias, Paulsen,<br />
Reinaldo, Vítor, digam-me alguma coisa.<br />
Nenhum respondeu logo, mas Ricardo foi o primeiro a<br />
falar:<br />
— Pitágoras, está tudo bem claro, e nenhum de nós, estou<br />
certo, ainda desejaria fazer qualquer objecção às suas palavras.<br />
Preferimos deixar que sua exposição prossiga, até alcançar<br />
pontos que nos permitam, com mais proveito, apresentar objecções.<br />
— Então eu lhes peço que recordem as três verdades de<br />
que antes falei: a verdade ontológica, a que está na coisa; a