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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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92<br />

MÁEIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

estreiteza de sua gama cognoscitiva. Se o homem não pode<br />

contemplar, face a face, a verdade ontológica em todo o seu<br />

esplendor, pode, contudo, contemplá-la dentro dos seus naturais<br />

limites, e também uma verdade que está também fora dele,<br />

enquanto o relativismo sempre subordina a verdade às medidas<br />

humanas. Creio que não há necessidade de repetir o que já<br />

examinei. Na verdade, nas doutrinas filosóficas, por mais diversas<br />

que sejam, há sempre um aspecto positivo da verdade,<br />

em suas afirmações mais fundamentais, mas onde elas pecam<br />

e erram sempre é em negar as positividades das putras doutrinas.<br />

No fundo, o mais amplo conhecimento será Adquirido pelo<br />

homem, não só ao captar as positividades dispersas nas diversas<br />

doutrinas, mas quando puder englobá-las numa construcção<br />

filosófica que as concrecione (1).<br />

Ora, aquela definição de Platão, inclui-se na esquemática<br />

sensível. A mente elaborou uma definição, partindo do que é<br />

mostrado pelas assimilações sensíveis, pois o homem era definido,<br />

não pelo que tinha êle de intrínseco, mas pelo que apresentava<br />

de extrínseco. Sob esse ângulo, a definição de Platão também<br />

era verdadeira.<br />

— Até aqui, Pitágoras, sua exposição não oferece pontos<br />

para objecção. O silêncio, que se observa, é um testemunho do<br />

que digo. Foi o que disse Artur.<br />

Pitágoras prosseguiu:<br />

— Mas sucede que a nossa mente não se cinge apenas a<br />

essa função de classificação de esquemas sensíveis. Desses esquemas<br />

sensíveis, ela extrai o que há de comum entre os seres,<br />

e constrói os conceitos chamados abstractos, pois os que se referem<br />

aos primeiros são conceitos que prefiro chamar de sensíveis;<br />

enquanto aos segundos, chamá-los-ia de formais. Vou<br />

justificar esse meu ponto-de-vista. Se sensivelmente sei distinguir<br />

o verde de o amarelo, se assimilo as coisas verdes, em<br />

serem verdes, a um conceito sensível diferente de as coisas<br />

amarelas, enquanto amarelas, ao construir o conceito de côr,<br />

no qual englobo o verde e o amarelo, esse conceito côr não é<br />

(1) E' o que realizamos em "Filosofia Concreta".<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> NKCAÇÀO !»;!<br />

algo que capto sensivelmente. Côr já é uma ordem, uma<br />

classificação, na qual incluo todos os distintos, que posso captar<br />

através das sensações ópticas. Côr é um conceito formal,<br />

meramente formal, abstracto. Contudo, através de uma outra<br />

operação, a abstractiva, que consiste em trazer para o lado o<br />

que há de comum entre seres diferentes. Todas-essas tonalidades,<br />

espécies de verde, amarelo, etc, têm algo em comum,<br />

algo em geral, general, genérico, daí género. Os conceitos formais<br />

são mais genéricos que os outros. E essa operação não<br />

é de algo captado pelos sentidos. Aqui há a elaboração de algo<br />

que não é objecto de uma intuição sensível. Assim digo que<br />

o verde é uma côr, e uma côr é o amarelo. Se vejo o amarelo<br />

deste objecto e o verde daquele, não vejo a côr. Mas é ou não<br />

verdade que o amarelo e o verde têm algo em comum? Não<br />

pertencem eles a uma mesma gama que os inclui? E o género<br />

não inclui as suas espécies? E' a côr o que se chama então<br />

um ente de razão. A côr não existe aqui e ali, fora das coisas,<br />

como um objecto sensível, mas como um objecto intelectual. A<br />

côr é o que têm de comum o verde e o amarelo, porém o que<br />

têm de comum não é captado pelos sentidos, mas pela mente,<br />

numa operação classificadora abstractiva. Pergunto a vocês<br />

se estou sendo claro.<br />

— Claríssimo, Pitágoras, e creio que suficientemente exacto,<br />

respondeu Artur.<br />

— Pergunto mais, acrescentou Pitágoras, convém que exponha<br />

ainda, com mais pormenores, ou o que disse é suficiente<br />

para se fazer uma clara distinção entre a operação sensível e<br />

a operação intelectual? Por favor Ricardo, Josias, Paulsen,<br />

Reinaldo, Vítor, digam-me alguma coisa.<br />

Nenhum respondeu logo, mas Ricardo foi o primeiro a<br />

falar:<br />

— Pitágoras, está tudo bem claro, e nenhum de nós, estou<br />

certo, ainda desejaria fazer qualquer objecção às suas palavras.<br />

Preferimos deixar que sua exposição prossiga, até alcançar<br />

pontos que nos permitam, com mais proveito, apresentar objecções.<br />

— Então eu lhes peço que recordem as três verdades de<br />

que antes falei: a verdade ontológica, a que está na coisa; a

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