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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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84<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

prio ser. Mas, a verdade, que nós procuramos, não é esta,<br />

porém a que é procurada no conhecimento humano. O que se<br />

pôs em dúvida é que a mente humana fosse capaz de alcançar<br />

a verdade, e é a afirmação dessa capacidade para alcançá-la<br />

que desejo provar. Para que chegue bem cuidadosamente ao<br />

ponto fundamental da minha posição, perdoem-me se me demoro<br />

em certos aspectos, mas verão que são eles fundamentais.<br />

— Pode prosseguir assim, Pitágoras. As minhas objecções<br />

deixarei para o fim. Exponha seu ponto de vista, e justifique-o<br />

se o puder. Estamos todos, estou certo, de pleno acordo<br />

com a maneira como você expõe. Estas palavras de Ricardo<br />

foram aceitas por todos, que faziam um silêncio simpático a<br />

Pitágoras, e demonstrava aguardar com máximo interesse o<br />

que êle dizia.<br />

Êle então prosseguiu:<br />

— E' de meu dever esclarecer o que entendo por conformidade<br />

ou adequação. Genericamente, significa a conveniência<br />

entre dois em alguma coisa, note-se bem. Diz-se que duas<br />

coisas estão conformes, ou são adequadas, quando elas revelam<br />

uma conveniência em alguma coisa; ou seja, quando convêm,<br />

quando vêm juntas a algum ponto. Em suma, a adequação<br />

implica diversos que convêm sob alguma coisa. Ora, uma adequação<br />

da mente com a coisa não pode ser uma adequação física,<br />

porque a coisa não é compreendida ou conhecida por se<br />

adequar fisicamente com o intelecto humano. Está certo?<br />

Ninguém discordou, e êle prosseguiu: — A conveniência entre<br />

o intelecto e a coisa só se pode dar, portanto, nalguma similitude.<br />

Portanto, a adequação da verdade lógica não exige<br />

uma adequação total, como a física, mas apenas parcial, a de<br />

similitude. E como a similitude só pode ser da imagem, como<br />

a que se dá quanto aos sentidos, a intelectual, que não é imagem<br />

representativa da coisa sob seus aspectos físicos, só pode<br />

ser formal. Portanto, a verdade lógica seria a adequação ou<br />

conformidade do esquema formal do intelecto com a coisa, e<br />

não da identidade física, mas da semelhança intencional do<br />

esquema mental com o facto objectivo.<br />

Então, a verdade lógica exige: dois termos que se conformam<br />

e uma razão qualquer, na qual ambos convêm. Desse<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 85<br />

modo, a verdade lógica exige o sujeito ao qual ela se refere, o<br />

termo ao qual se refere o sujeito e, finalmente, o fundamento,<br />

a razão, em suma, da relação de adequação.<br />

O sujeito é, sem dúvida, o intelecto que conhece; o termo<br />

é o que é captado pela cognição, a coisa conhecida. E, finalmente,<br />

o fundamento é a qualidade intencionalmente apreendida,<br />

por meio da qual o intelecto assimila, torna semelhante,<br />

o objecto. Portanto, no acto de conhecer, há algo que é assimilado<br />

do objecto pelo sujeito. Portanto, no conhecimento<br />

verdadeiro tem de haver umá adequação intencional ou representativa<br />

do esquema mental com a coisa, do intelecto com a<br />

coisa conhecida.<br />

— Compreendo a sua posição, Pitágoras. Para você, a<br />

verdade, que a mente humana alcança, é apenas intencional,<br />

alegou Ricardo.<br />

— Isso mesmo. Uma cópia real-física seria tolice adnrtir.<br />

— Compreendo bem. Neste caso, a verdade lógica se dá<br />

fundada na razão dessa relação de adequação.<br />

— Isso mesmo. Mas não é tudo, porém; há outros aspectos<br />

que preciso expor, para que se alcance, com maior âmbito,<br />

o que penso sobre o conhecimento humano, e a sua validez, pois<br />

o sobre que até agora me referi é apenas a verdade lógica, a<br />

verdade do logos da coisa, da sua razão, como se dizia na<br />

filosofia clássica.<br />

Kant definia verdade como a conformidade da cognição<br />

consigo mesma. Tal definição não serve, porque repugna à<br />

experiência e convém aos conhecimentos falsos e reduz a verdade<br />

apenas à verdade fenomenal. Quando os idealistas dizem<br />

que a verdade é a conformidade da cognição com a coisa que<br />

na mente existe, padecem do mesmo defeito. A verdade não é<br />

apenas a aproximação da realidade, como a chamam relativistas<br />

e neo-positivistas, nem a verdade simbólica dos outros, nem<br />

o que convém à vida ou à utilidade como o querem os pragmatistas.<br />

Não, a verdade não é nada disso.<br />

— Então, Pitágoras, diga o que é, pediu Ricardo.<br />

— E' o que vou fazer.

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