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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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80<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SALTOS<br />

segue o de Hamilton, para o qual a fenomenologia é a parte<br />

da psicologia empírica, que considera os factos psíquicos como<br />

contingentes e dados empiricamente. Husserl quer partir de<br />

baixo e não de cima, quer partir das próprias coisas, dos dados<br />

imediatos da consciência. Para êle, há dados imediatos indubitáveis,<br />

mas suspende o julgamento, e êle aproveita o termo<br />

grego epohhê, que significa suspensão, quando se trata do ser<br />

real ou, seja, das essências universais. Heidegger emprega a<br />

fenomenologia num sentido metódico. O fenómeno não é o que<br />

subjectivamente aparece, mas a realidade manifestada da coisa.<br />

Para Husserl, a fenomenologia é a doutrina que afirma que o<br />

intelecto humano intui, imediata e absolutamente, uma certeza<br />

sobre a essência das coisas, e deseja, fundado nessas essências,<br />

iniciar sobre elas toda e qualquer ciência. A fenomenologia,<br />

desse modo, é pré-teorética, antecede a toda experiência empírica.<br />

Ela não pretende explicar o conhecimento, mas torná-lo<br />

claro ou, pelo menos, tornar clara a ideia da cognição. Afirma<br />

essa doutrina, deste modo, que podemos alcançar a essência<br />

das coisas em si, afirmando, portanto, uma transcendência da<br />

cognição puramente sensitiva, como querem afirmar os sensistas<br />

e empiristas. Afirma que o objecto do conhecimento é,<br />

de certo modo, independente da própria cognição, e que a mente<br />

humana é capaz de conhecer objectivamente as coisas. Neste<br />

ponto, opõe-se aos subjectivistas e cépticos. Estes aspectos são<br />

positivos. Para ela, as essências universais não podem estar,<br />

enquanto tais, nos seres singulares, e, neste caso, a sua posição<br />

é semelhante à platónica. Peca ao afirmar que temos uma intuição<br />

cognoscitiva das essências, o que é afirmar um conhecimento<br />

imediato de tais essências, o que é sumamente discutível.<br />

Afirma uma certa infalibilidade da intuição eidética, da<br />

intuição das essências, o que tem levado alguns fenomenólogos<br />

a cair nos malefícios do anti-intelectualismo. Na verdade, nota-se<br />

na obra de Husserl, que êle jamais compreendeu bem a<br />

teoria da abstracção de Aristóteles. Salvante os defeitos que<br />

a fenomenologia tem oferecido, é ela, contudo, positiva naqueles<br />

aspectos. E eu gostarei muito de poder analisar tais aspectos,<br />

se me permitirem que faça agora a demonstração da<br />

minha posição; ou seja, do fundamento que dou à minha posição<br />

gnoseológica.<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 81<br />

De antemão, quero dizer que ela não é original. Sei que<br />

não satisfarei assim aos que, movidos pelo espírito mercantilista<br />

de nossa época, tanto gostam dos novos produtos, que nada<br />

mais são que velhas fórmulas com novos rótulos e novas embalagens,<br />

e precedidos da fanfarra de uma propaganda desenfreada<br />

que os torna aparentemente inéditos, inauditos, imprevisíveis.<br />

Perdoem-me se, apesar de trabalhar em propaganda comercial,<br />

não seja aqui um propagandista, e não use nenhum<br />

dos métodos que a propaganda ensina para se tornar mais<br />

interessante um produto. De antemão afirmo que a minha<br />

posição é uma velha posição que já muitos assumiram, e muitos<br />

ainda' assumem. Mas é uma posição que se justifica, e que<br />

tem a vantagem de não cair nas dificuldades insolúveis das<br />

outras, oferecendo uma solução mais clara e justa dos factos,<br />

demonstrada afinal pelos próprios factos.<br />

Quando tiver ocasião de fazer a defesa da minha posição,<br />

não deixarei de, num ponto ou noutro, criticá-la, ou aceitar<br />

objecções. Eu mesmo mostrarei os pontos que me parecem fracos,<br />

e ficarei imensamente satisfeito se me objectarem quanto<br />

puderem, pois só assim poderei desenvolver melhor as minhas<br />

demonstrações.<br />

— Pitágoras, é isso o que esperamos agora de você. Você<br />

já examinou as ideias dos outros, e concordo que você o fêz<br />

com bastante brilho. Mostrou o defeito das doutrinas alheias.<br />

Agora chegou a hora de mostrar a sua. E com a mesma energia,<br />

dentro das minhas forças, prometo objectar tudo quanto<br />

puder. E assim como eu, creio que Josias, Vítor, Reinaldo e<br />

outros também o farão. Não é? — Ricardo voltou-se para<br />

todos, que afirmaram em palavras e gestos que o acompanhavam.<br />

Pitágoras, ao ver o ânimo de que todos estavam possuídos,<br />

não manifestou nenhum receio. Ao contrário, sorriu<br />

com segurança. E disse com uma solene dignidade:<br />

— Não esperava outra coisa de vocês, e desde já agradeço<br />

o esforço que farão. Sei que a luta será árdua, mas tenho<br />

confiança, não em minhas forças, mas nas ideias que adoto.<br />

Pode ser que uma ou outra vez fraqueje, mas hei de apelar<br />

para tudo quanto há de positivo em mim para que não me falhe<br />

no momento mais precioso, e que eu cumpra aqui o meu dever

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