FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SALTOS<br />
segue o de Hamilton, para o qual a fenomenologia é a parte<br />
da psicologia empírica, que considera os factos psíquicos como<br />
contingentes e dados empiricamente. Husserl quer partir de<br />
baixo e não de cima, quer partir das próprias coisas, dos dados<br />
imediatos da consciência. Para êle, há dados imediatos indubitáveis,<br />
mas suspende o julgamento, e êle aproveita o termo<br />
grego epohhê, que significa suspensão, quando se trata do ser<br />
real ou, seja, das essências universais. Heidegger emprega a<br />
fenomenologia num sentido metódico. O fenómeno não é o que<br />
subjectivamente aparece, mas a realidade manifestada da coisa.<br />
Para Husserl, a fenomenologia é a doutrina que afirma que o<br />
intelecto humano intui, imediata e absolutamente, uma certeza<br />
sobre a essência das coisas, e deseja, fundado nessas essências,<br />
iniciar sobre elas toda e qualquer ciência. A fenomenologia,<br />
desse modo, é pré-teorética, antecede a toda experiência empírica.<br />
Ela não pretende explicar o conhecimento, mas torná-lo<br />
claro ou, pelo menos, tornar clara a ideia da cognição. Afirma<br />
essa doutrina, deste modo, que podemos alcançar a essência<br />
das coisas em si, afirmando, portanto, uma transcendência da<br />
cognição puramente sensitiva, como querem afirmar os sensistas<br />
e empiristas. Afirma que o objecto do conhecimento é,<br />
de certo modo, independente da própria cognição, e que a mente<br />
humana é capaz de conhecer objectivamente as coisas. Neste<br />
ponto, opõe-se aos subjectivistas e cépticos. Estes aspectos são<br />
positivos. Para ela, as essências universais não podem estar,<br />
enquanto tais, nos seres singulares, e, neste caso, a sua posição<br />
é semelhante à platónica. Peca ao afirmar que temos uma intuição<br />
cognoscitiva das essências, o que é afirmar um conhecimento<br />
imediato de tais essências, o que é sumamente discutível.<br />
Afirma uma certa infalibilidade da intuição eidética, da<br />
intuição das essências, o que tem levado alguns fenomenólogos<br />
a cair nos malefícios do anti-intelectualismo. Na verdade, nota-se<br />
na obra de Husserl, que êle jamais compreendeu bem a<br />
teoria da abstracção de Aristóteles. Salvante os defeitos que<br />
a fenomenologia tem oferecido, é ela, contudo, positiva naqueles<br />
aspectos. E eu gostarei muito de poder analisar tais aspectos,<br />
se me permitirem que faça agora a demonstração da<br />
minha posição; ou seja, do fundamento que dou à minha posição<br />
gnoseológica.<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 81<br />
De antemão, quero dizer que ela não é original. Sei que<br />
não satisfarei assim aos que, movidos pelo espírito mercantilista<br />
de nossa época, tanto gostam dos novos produtos, que nada<br />
mais são que velhas fórmulas com novos rótulos e novas embalagens,<br />
e precedidos da fanfarra de uma propaganda desenfreada<br />
que os torna aparentemente inéditos, inauditos, imprevisíveis.<br />
Perdoem-me se, apesar de trabalhar em propaganda comercial,<br />
não seja aqui um propagandista, e não use nenhum<br />
dos métodos que a propaganda ensina para se tornar mais<br />
interessante um produto. De antemão afirmo que a minha<br />
posição é uma velha posição que já muitos assumiram, e muitos<br />
ainda' assumem. Mas é uma posição que se justifica, e que<br />
tem a vantagem de não cair nas dificuldades insolúveis das<br />
outras, oferecendo uma solução mais clara e justa dos factos,<br />
demonstrada afinal pelos próprios factos.<br />
Quando tiver ocasião de fazer a defesa da minha posição,<br />
não deixarei de, num ponto ou noutro, criticá-la, ou aceitar<br />
objecções. Eu mesmo mostrarei os pontos que me parecem fracos,<br />
e ficarei imensamente satisfeito se me objectarem quanto<br />
puderem, pois só assim poderei desenvolver melhor as minhas<br />
demonstrações.<br />
— Pitágoras, é isso o que esperamos agora de você. Você<br />
já examinou as ideias dos outros, e concordo que você o fêz<br />
com bastante brilho. Mostrou o defeito das doutrinas alheias.<br />
Agora chegou a hora de mostrar a sua. E com a mesma energia,<br />
dentro das minhas forças, prometo objectar tudo quanto<br />
puder. E assim como eu, creio que Josias, Vítor, Reinaldo e<br />
outros também o farão. Não é? — Ricardo voltou-se para<br />
todos, que afirmaram em palavras e gestos que o acompanhavam.<br />
Pitágoras, ao ver o ânimo de que todos estavam possuídos,<br />
não manifestou nenhum receio. Ao contrário, sorriu<br />
com segurança. E disse com uma solene dignidade:<br />
— Não esperava outra coisa de vocês, e desde já agradeço<br />
o esforço que farão. Sei que a luta será árdua, mas tenho<br />
confiança, não em minhas forças, mas nas ideias que adoto.<br />
Pode ser que uma ou outra vez fraqueje, mas hei de apelar<br />
para tudo quanto há de positivo em mim para que não me falhe<br />
no momento mais precioso, e que eu cumpra aqui o meu dever