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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

vismo em geral. Estabelecemos de início o fundamento do relativismo.<br />

Para essa teoria filosófica, a nossa verdade, e o<br />

que conhecemos, são relativos ao sujeito cognoscente. O objecto<br />

conhecido é proporcionado à actividade subjectiva do<br />

cognoscente. Assim, o mundo do cão Riquet é outro que o do<br />

homem. Conclui o relativismo em geral que não conhecemos<br />

o objecto como ele o é em si; que não somos capazes de distinguir<br />

entre o conhecimento verdadeiro e o falso, e que não há<br />

oposição contrária entre verdade e falsidades e, consequentemente,<br />

que contraditórios não podem ser simultaneamente verdadeiros<br />

ou simultaneamente falsos. Há um relativismo universal<br />

e um particular. Para o primeiro, todas as nossas verdades<br />

são relativas, enquanto para o segundo são a quase totalidade.<br />

Desse relativismo universal, devemos salientar o que se caracteriza<br />

por ser intelectualista de o que é anti-intelectualista. Se<br />

o segundo nega a verdade absoluta, porque nega valor especulativo<br />

ao intelecto, o primeiro nega a verdade absoluta porque<br />

nega ao intelecto especulativo capacidade de medir suficientemente<br />

o objecto. E é esse relativismo intelectualista que surge<br />

com o nome de idealista ou fenomenístico, que afirma que a<br />

actividade cognoscitiva capta o próprio ser do objecto, o qual<br />

não tem uma existência em si, e que é como realmente aparece<br />

na consciência.<br />

— Pitágoras, perdoe-me mas não compreendi bem, interrompeu-o<br />

Vítor. Ouço muitas vezes falar em fenomenologia, e<br />

já tenho lido alguma coisa a respeito, mas gostaria que você<br />

me precisasse bem este ponto, pois há tanta confusão sobre o<br />

idealismo que gostaria que me mostrasse onde está claramente<br />

a sua diferença.<br />

— Pois não, respondeu Pitágoras. Dentro do que entendo<br />

e do que parecem entender os que melhor estudam esses temas,<br />

para o idealista, o objecto em si, o objecto por exemplo do mundo<br />

exterior, não é como êle se nos aparece. O que dele captamos<br />

é o fenómeno, o que aparece à nossa mente, já que esse<br />

termo fenómeno vem de phaos, luz, em grego, que indica, portanto,<br />

o que vemos das coisas. Na verdade, esta árvore não é<br />

em si como ela é f enomenizada para nós. O que dela captamos,<br />

como árvore, é apenas a construcção do que aparece à nossa<br />

visão intelectual. Para o relativismo, tomado em geral, a ver-<br />

FlLOSOFIAS <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 53<br />

dade é relativa à nossa mente, segundo o modo pelo qual a<br />

conhecemos. Ora, essa tese é positiva, e o relativismo, se apenas<br />

permanecesse aqui, só poderia ser negado pelo dogmatismo<br />

absoluto, que já mostramos ser tão absurdo como o cepticismo<br />

absoluto. Mas onde o relativismo em geral se excede é ao<br />

acrescentar ainda que é relativo segundo o que conhecemos.<br />

— Parece-me, Pitágoras, que, se você explicou bem a primeira<br />

parte, esta segunda está confusa, não só para mim, mas,<br />

creio, para todos, alegou Vítor.<br />

— Talvez não me tenha explicado ainda bem, mas pretendo<br />

fazê-lo melhor um pouco mais adiante. Este ponto, que<br />

julgo não ser positivo, terá sua explicação se me deixarem primeiramente<br />

examinar alguns aspectos que são de magna importância.<br />

Eu lhes disse que primeiramente teria de mostrar<br />

o pensamento alheio que é improcedente no setor do conhecimento,<br />

para, finalmente, justificar a posição que adoto, e que,<br />

naturalmente, tais providências exigem certas medidas que não<br />

podem ser dispensadas. O filósofo que melhor representa o<br />

relativismo é, sem dúvida, Protágoras, que concluiu ser o homem<br />

a medida de todas as coisas que são e das que não são.<br />

O conhecimento humano é, portanto, algo que o homem modela<br />

segundo o que o homem é. Górgias dizia que não existe o ente<br />

inteligível e imutável, e, se existisse, nós nada dele poderíamos<br />

conhecer, e, se acaso conhecêssemos algo, nada poderíamos<br />

comunicar aos outros.<br />

Ora, o relativismo, na verdade, reduz-se ao cepticismo, e<br />

refuta-se pela mesma impossibilidade de ser tudo falso ou de<br />

ser tudo verdadeiro, pois há coisas falsas e coisas verdadeiras,<br />

como já vimos. Nem tampouco podem as coisas ser verdadeiras<br />

e falsas sob o mesmo aspecto, porque seria ofender o princípio<br />

de identidade...<br />

— Permite-me um aparte, Pitágoras?, pediu Ricardo.<br />

— Pois não.<br />

— A validez do princípio de identidade você ainda não<br />

provou; como é que deseja sustentar-se nele para querer demonstrar<br />

que não procedem as afirmativas do relativismo?

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