19.04.2013 Views

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

46<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

as suas palavras apenas em pronunciá-las. Não há negação<br />

por parte do nosso espírito, mas apenas a recusa de atribuir-se<br />

algo a algo. Não há uma função absolutamente negativa, porque<br />

se tal se desse, ela aniquilaria tudo e afirmaria o nada absoluto,<br />

o que é absurdo, porque teria de afirmar a ausência total<br />

e absoluta de qualquer coisa, o que estaria negado pela própria<br />

acção de negar, que afirmaria a acção de recusar.<br />

O cepticismo, deste modo, não pode ser absoluto, porque<br />

então cairia no mesmo erro em que cai o dogmatismo absoluto.<br />

Na discussão que mantive com Josias, comprovou-se que era<br />

impossível o cepticismo absoluto, e creio que não há mais necessidade<br />

de prosseguir num caminho que já ficou suficientemente<br />

esclarecido.<br />

— De minha parte — disse Ricardo — não tenho dúvida<br />

que o cepticismo absoluto é uma posição falha, e creio que Josias<br />

e Paulsen também concordam comigo. Não sou um nihilista<br />

absoluto, nem eles, segundo me parece, também o são. —<br />

Voltou-se para os amigos que confirmaram com um gesto de<br />

cabeça. E tornando-se para Pitágoras, acrescentou: — Contudo,<br />

gostaríamos que você provasse que a mente humana é<br />

suficientemente apta para conhecer e dispor de um critério seguro<br />

para afirmar que isto é verdadeiro ou não.<br />

— Este é inegavelmente o ponto que mais me interessaria<br />

abordar. Já disse a todos que êle oferece muitos perigos, e<br />

exige uma justificação desde as bases. Creio que não serei<br />

aborrecido a vocês se continuar o exame cuidadoso, com maiores<br />

análises, a fim de alcançar o ponto que desejam.<br />

— De minha parte, não — atalhou Ricardo. Desejamos<br />

todos, estou certo, que você proceda assim. O tempo pode ser<br />

pouco, mas se não conseguirmos tudo hoje, paciência, prossegue-se<br />

amanhã. Não estão vocês de acordo?<br />

Todos afirmaram que sim.<br />

E, então, Pitágoras prosseguiu.<br />

DIÁLOGO SOBRE O CEPTICISMO<br />

Pitágoras parecia entregue a uma longa meditação. Notava-se<br />

claramente que êle procurava o caminho melhor para<br />

iniciar a sua exposição. Sabia perfeitamente que lhe cabia<br />

abordar um tema difícil, em torno do qual gira, inegavelmente,<br />

quase toda a problemática moderna, e que é também ponto de<br />

partida para a solução de muitas das maiores preocupações<br />

humanas. Depois de algum tempo, tendo perpassado o olhar<br />

pelos circunstantes, começou assim:<br />

— Que vale o conhecimento humano? E' essa, sem dúvida,<br />

a grande pergunta. Dizem os cépticos, para justificar a<br />

sua descrença no conhecimento, que o homem erra. Mas se<br />

erra, não erra sempre, porque, se sempre errasse, como poderia<br />

saber que erra, sem que alguma vez não tenha errado?<br />

Mas a mente humana se contradiz, alegam. Mas, se se<br />

contradiz algumas vezes, é porque nem sempre se contradiz.<br />

Pois, como poderia ser possível notar que se contradiz se não<br />

houvesse o inverso da contradicção ?<br />

Os idealistas afirmam que não podemos saber o que a coisa<br />

é em si. Não negam o conhecimento, mas apenas mostram um<br />

aspecto da natureza do conhecimento. Os relativistas afirmam<br />

que o conhecimento é relativo e que, portanto, não há verdades<br />

imutáveis.<br />

Enfim, todos que negam certa validez ao conhecimento,<br />

afirmam que a mente humana não é apta a adquirir uma verdade<br />

indubitável.<br />

— Gostaria, Pitágoras, que você apontasse alguns pontos<br />

de certeza para justificar a sua posição, que serviria também<br />

para justificar o que teve oportunidade de dizer, quando dialogou<br />

com Josias, propôs Reinaldo.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!