FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
como matéria, ou energia, e a que prefiro dar, por ora, o nome<br />
comum de ser. Não vemos nesse mundo ficcional divórcios<br />
absolutos. Concorda?<br />
— Concordo.<br />
— No entanto, no mundo exterior real poder-se-ia dar o<br />
mesmo, ou não. Ou seja: que tudo quanto é realmente, também<br />
tem algo em comum. Nesse caso, o mundo exterior real<br />
teria um ser fundamental, certamente real em si mesmo.<br />
— Está certo.<br />
— O dualismo, portanto, estaria apenas entre o mundo<br />
ficcional do homem e o mundo real, pelo menos.<br />
— Pelo menos esse é possível.<br />
— Sim, porque se não há esse dualismo absoluto, então<br />
o nosso mundo ficcional não seria absolutamente ficcional. Nele<br />
haveria alguma coisa que corresponderia fielmente ao outro,<br />
não é?<br />
— E\<br />
— Nesse caso, nós nos encontramos já numa situação bem<br />
clara, sem dúvida. Resta-nos saber agora se há realmente esse<br />
dualismo, ou não.<br />
DIÁLOGO SOBRE O FUN<strong>DA</strong>MENTO<br />
DE TO<strong>DA</strong>S AS COISAS<br />
Josias e Pitágoras haviam silenciado, como se procurassem<br />
tomar fôlego para prosseguir. Um esperava que o outro<br />
usasse em primeiro lugar a palavra. Foi Ricardo quem iniciou:<br />
— Perdoem-me que entre no diálogo. Na verdade, sou<br />
apenas um ouvinte. Mas, como tenho a certeza de que a minha<br />
opinião é semelhante à de todos os que nos cercam, creio que<br />
o tema ficou bem colocado, e o diálogo agora poderia manter-se<br />
em base mais segura. Compreendi, assim, o estado da questão:<br />
há uma realidade ficcional do homem, e outra realidade fora<br />
do homem. Ou são essas duas realidades absolutamente estanques,<br />
ou não. Resta saber, pois, se entre elas há uma comunicação,<br />
um ponto comum de identificação, ou se são duas paralelas,<br />
isto é, se são linhas que jamais se encontram.<br />
— Isso mesmo, acquiesceu Pitágoras, com o assentimento<br />
de Josias. E' nesse caminho que devem prosseguir agora as<br />
nossas buscas. Vou, portanto, tomar outra vez a palavra, seguindo<br />
essa ordem, e Josias me responderá.<br />
— Prossigamos — aprovou Josias.<br />
— Esse mundo ficcional do homem não pode ser um puro<br />
nada. E' uma ficção, está certo, mas é alguma coisa e não<br />
absolutamente nada, não é?<br />
— E'. Mas é uma ficção.<br />
— Sim, mas uma ficção é ficção de alguma coisa, é produzida<br />
por alguma coisa e não pelo nada.<br />
— E' produzida por nós.