19.04.2013 Views

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

244 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

abstractos que construímos eram possíveis, e os esquemas abstractos<br />

de esquemas abstractos, os puramente formais, as formas<br />

puras, que já examinamos, também o eram. Portanto,<br />

o nosso conhecimento não principia de modo absoluto nos sentidos,<br />

mas apenas, graças a estes, torna-se êle em acto, ou pode<br />

tornar-se em acto para a nossa consciência. A mente humana<br />

não é algo apenas passivo, mas o que já tem virtualmente, o<br />

que pode tornar-se elemento de uma totalidade, pois, como vimos,<br />

o conhecimento exige princípios; isto é, elementos anteriores<br />

para que a nova totalidade, o novo conjunto se forme.<br />

— Parece-me, à primeira vista, que a posição de Platão é<br />

diametralmente oposta à de Aristóteles. Mas, examinando bem,<br />

não há um ponto de encontro em ambas?, perguntou Ricardo.<br />

— Há, sim, — respondeu Pitágoras. E é este ponto que<br />

eu gostaria de salientar. Quando Aristóteles diz que nada está<br />

no intelecto sem antes ter estado nos sentidos, não erra. Mas<br />

não deu importância, ou melhor, inibiu a realidade dos sentidos,<br />

e do que antecede à experiência, e também o que já era<br />

possível, ou melhor, já virtual, porque, de certo modo, se apoiava<br />

em algo já actualizado, que se achava no intelecto.<br />

— Então, Leibnitz, parece-me, era mais amplo ao afirmar<br />

a validez relativa da máxima aristotélica: nada há no intelecto<br />

que não tenha estado nos sentidos, mas, acrescentando: salvo<br />

o que já estava no intelecto. No meu péssimo latim, se não<br />

me falha a memória, a frase de Leibnitz era esta: nullius est<br />

in intellectu quod prius non fuerit in sensu nisi in intellectu.<br />

Nesse nisi in intellectu, a não ser o que já está no intelecto ou<br />

estava no intelecto, reside o que diferencia Platão de Aristóteles.<br />

Não é isso?<br />

— E' isso, sim, Ricardo, confirmou Pitágoras.<br />

— Nesse caso, Aristóteles tinha razão. Não, porém, toda<br />

a razão, como você gosta de dizer. Deste modo, a melhor doutrina<br />

será aquela que reúna ambos, Platão e Aristóteles. Creio<br />

que é a isso que você deseja chegar.<br />

— E' isso mesmo, Ricardo. E esse concrecionamento de<br />

Platão mais Aristóteles não é algo que iremos construir, ou<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> NECJAÇÃO ÍMI"><br />

algo que se deu depois, uma espécie de síntese da tese platónica<br />

e da antítese aristotélica, porque, antes deles, já havia<br />

sido exposta essa doutrina.<br />

— Antes? Por quem?, perguntou Ricardo.<br />

— Por esse que tinha o mesmo nome que eu, respondeu-lhe.<br />

— Explique-me isso, por favor, pediu Ricardo.<br />

— Explique, sim, pediu ansiosamente Artur.<br />

— E' o que vou fazer, se me permitirem uma pausa.<br />

Ambos concordaram. Mas os olhos de Ricardo e de Artur<br />

pousavam ansiosamente sobre o rosto de Pitágoras.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!