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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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242 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

— Uma espécie de mente pré-humana, que vem desde os<br />

primórdios dos seres, e que, através da evolução, chegou até<br />

o homem. E' isso o que quer dizer?, perguntou Ricardo.<br />

— Mais ou menos isso, embora gostasse de dar uma precisão<br />

mais científica ao que exponho. Filosoficamente, ter-se-<br />

-ia de dizer que há um antecedente sempre capaz de assimilar,<br />

e através da complexidade das assimilações, alcançar até o<br />

homem.<br />

— Compreendi bem.<br />

— Então, nesse caso, toda a complexidade do conhecimento<br />

do homem já estava dada como uma possibilidade desde o<br />

início. Portanto, sempre algo antecedeu à experiência de qualquer<br />

ser, desde o mais primitivo até o mais evoluído, como é,<br />

entre nós, o homem.<br />

— Está, para mim, tudo bem claro, afirmou, com entusiasmo,<br />

Artur.<br />

— Nesse caso, nem tudo que pertence ao conhecimento começa<br />

apenas pelos sentidos, a não ser que consideremos que<br />

esses sentidos se dão antes da experiência. Não é assim?<br />

— Está claro.<br />

— Ora, os esquemas conceituais, que o nosso intelecto forma,<br />

são para Aristóteles, estructuras de notas captadas, que<br />

o intelecto activo abstrai, como vimos.<br />

— Isso mesmo, confirmou Ricardo.<br />

— Mas o intelecto só poderia abstrair o que é assimilável<br />

ao que já tem, pois vimos que a assimilação implica, como<br />

relação, a prévia disposição do semelhante.<br />

— Está claro.<br />

— O que captamos, então, pela abstracção, é algo que antes<br />

era um possível, e que, no acto abstractivo, se actualiza,<br />

não é?<br />

— E' isso, afirmou Artur.<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 2\\\<br />

— Nesse caso, o que ficava anteriormente não estava em<br />

acto em nossa consciência, mas já o tínhamos, de certo modo.<br />

— Tínhamos, sim, confirmou Artur.<br />

— Estava como que dormindo, para usarmos uma metáfora<br />

que muito bem nos mostra a semelhança. Era algo que<br />

estava esquecido em nós, esquecido à nossa consciência.<br />

— Isso mesmo.<br />

— E é algo, portanto, que recordamos no acto de conhecer,<br />

para continuarmos na metáfora.<br />

— Isso mesmo.<br />

— E onde estava esse algo em sua última análise? Não<br />

era no princípio de todas as coisas? Se não era, surgiu subitamente,<br />

sem uma razão de ser, e teria vindo do nada, o que<br />

é absurdo.<br />

— E' rigorosamente certo, apoiou Artur.<br />

— Neste caso, continuando ainda na metáfora, eram esquemas<br />

que já havíamos contemplado nos primórdios do ser<br />

de onde vimos, mas que havíamos esquecido. Estamos em plena<br />

alegoria agora, porque há um encaixamento de metáforas<br />

continuadas. Pois essa alegoria do conhecimento é a que encontramos<br />

na obra de Platão. Este, alegòricamente, dizia que<br />

já havíamos contemplado, quando ainda não éramos o que somos,<br />

os esquemas possíveis para nós, mas que já eram, de<br />

certo modo, na ordem dp ser, e que o conhecimento torna em<br />

acto para nós. A teoria gnoseológica de Platão diz, então: não<br />

há conhecimento sem que haja algo que se assemelhe ao que<br />

é cognoscível. O conhecimento, processando-se por assimilações,<br />

implica previamente, embora em estado latente, em nós,<br />

os esquemas que iremos construir depois.<br />

— Agora está tudo claro para mim, respondeu Artur.<br />

— Neste caso, não só o conhecimento sensível exige alguma<br />

coisa com antecedência, como também o exige a abstracção<br />

total, e também a abstracção formal. Porque o que vom<br />

depois tem seu fundamento no que vinha antes. Os esquemas

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