19.04.2013 Views

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

240 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

— Certo, confirmou Ricardo.<br />

— Mas essa esquemática, para sofrer tais estímulos, tem<br />

de estar analogada a alguma coisa, a que também está analogado<br />

o facto sensível.<br />

— E' evidente, aceitou Artur, com firmeza.<br />

— Se entre ambos houvesse um abismo, como há entre a<br />

pedra e o sensível, não haveria conhecimento. Como não há,<br />

é que a distância entre um e outro é vencível. Mas vencível<br />

por quê? Pelo que os unifica, pelo que os pode unificar.<br />

— Claro, confirmou Ricardo.<br />

— Portanto, há, no que conhece, alguma coisa em comum<br />

com o cognoscível. E sem tal coisa em comum o conhecimento<br />

seria impossível.<br />

— E' evidente.<br />

— Se há algo em comum, há algo semelhante, não é,<br />

Artur?<br />

— E\ respondeu Artur, e Ricardo apoiou com a cabeça.<br />

— Então, no conhecimento, há algo que se assemelha a<br />

algo; algo que é captado pelo cognoscente, que é semelhante a<br />

algo que há no cognoscente, não é?<br />

— Isso mesmo, confirmou Artur.<br />

— Então, o conhecimento implica uma assemelhação entre<br />

o cognitum e algo que há no cognoscente, pois o cognoscente<br />

não se esgota num só conhecimento, mas é capaz de realizar<br />

vários. Não é isso?<br />

— Sem dúvida, confirmaram ambos.<br />

— Então, o conhecimento implica uma assimilação.<br />

— Implica, reiterou Artur.<br />

— Mas, como haver assimilação sem semelhantes?<br />

— Não é possível.<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> 'l'\ I<br />

— Então, há, no que conhece, algo que se assemelha ao<br />

conhecível da coisa; ou melhor ainda: é cognoscível da coisa<br />

o que se assemelha ao que já há na esquemática do cognoscente.<br />

— E' uma decorrência rigorosa, não é, Ricardo?, perguntou<br />

Artur, volvendo-se para este.<br />

— Sem dúvida, respondeu Ricardo.<br />

— Então, há no cognoscente, e, antes, alguma coisa que<br />

permita o conhecimento do que é cognoscível das coisas.<br />

— E' o que decorre rigorosamente, continuou Artur.<br />

— O cognoscente, portanto, é munido anteriormente de<br />

alguma coisa que permite a assimilação do cognoscível, quando<br />

êle conhece.<br />

— Sem dúvida.<br />

— Nesse caso, o conhecimento implica a antecedência de<br />

algo, de algo que antecede à experiência.<br />

— Não compreendi bem, Pitágoras, interpelou Ricardo.<br />

— E' fácil. Alguma coisa deve anteceder, no cognoscente,<br />

para que o conhecimento do cognoscível se dê. O conhecimento<br />

se efectua na experiência, mas exige que, antes, o cognoscente<br />

seja um cognoscente potencial. E, como tal, este deve<br />

dispor, previamente, 'de meios de assimilação do cognoscível;<br />

do contrário, a experiência seria impossível. E é fácil observar-se,<br />

na própria experiência, que é assim. A criança, quando<br />

nasce, nasce com uma sensibilidade incipiente, mas já nasce<br />

com uma esquemática sensível formada, capaz de permitir que<br />

se dêem experiências sensíveis.<br />

— E' claro.<br />

— Dizer-se que a esquemática infantil é o produto de uma<br />

longa sedimentação de experiências da espécie, transmitidas por<br />

hereditariedade, e esta, das espécies que possivelmente antecederam<br />

ao homem, tudo isso não refuta a tese, porque alguma<br />

coisa sempre antecedeu, capaz de sofrer tantas experiências e<br />

sedimentá-las, a ponto de permitir que chegasse até o estágio<br />

do homem.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!