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FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

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234 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

— Compreendo bem tudo o que diz, Pitágoras. Não lhe<br />

peço que me conte a história do seu grande homónimo grego.<br />

Sei que nasceu em Samos, no século V, antes de Cristo, e que<br />

teve grande influência na Magna Grécia, e suas doutrinas fecundaram<br />

todo o pensamento universal até os dias de hoje.<br />

Tudo isso sabemos, não é, Artur?<br />

— Sem dúvida. Não muito bem, mas o suficiente, respondeu<br />

Artur.<br />

— O que queremos são as ideias fundamentais, aquilo que<br />

se poderia chamar a estructura do seu pensamento...<br />

— Talvez, melhor — interrompeu-o Pitágoras — as duas<br />

grandes ideias germinadoras, que actuaram na filosofia, mas<br />

que, infelizmente quase sempre são tomadas separadamente.<br />

— Que seja isso, mas fale, propôs, com ansiedade, Ricardo.<br />

Artur corroborou. Êle então começou assim:<br />

— Permitam-me que parta de Aristóteles e de Platão,<br />

para depois retornar a Pitágoras. Tomemos como ponto de<br />

partida a teoria gnoseológica de Aristóteles, segundo o que<br />

examinamos, quando discutimos sobre o conhecimento. Lembram-se<br />

quando falamos da abstracção total e da abstracção<br />

formal. Sem essa última, não haveria metafísica, e como o<br />

homem é capaz de realizá-la, é êle capaz de construir a metafísica.<br />

Lembram-se bem? (Todos confirmaram).<br />

— Pois vimos, então, que o fundamento dessa posição é<br />

o de que o homem, ao conhecer as coisas, inicia pela imago, o<br />

phantasma das coisas, como o chamava Aristóteles. Temos<br />

uma imagem dos factos exteriores, e verificando que em certos<br />

factos há algo que deles abstraímos e está em comum em outros,<br />

com essas abstracções, realizamos os conceitos, que são<br />

noemas, conteúdos da noesis, que realizamos, e impressionamos<br />

depois no intelecto passivo como espécies, conceitos, que vão<br />

servir para novas experiências. Em suma, o conhecimento,<br />

para Aristóteles, processa-se pela abstracção. Os conceitos são<br />

os conjuntos de notas, formando uma totaldiade, que nós captamos,<br />

abstraímos do que há de comum nas coisas. O intelecto<br />

activo é essa faculdade de abstracção total, e de classificação<br />

<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> -IWU<br />

do nosso intelecto, e o passivo, a capacidade de receber essas<br />

formas, que lhe são impressas, memorizáveis, portanto. Aristóteles<br />

é assim um empirista racionalista. Todo o conhecimento<br />

humano começa pelos sentidos, fundamento da empíria,<br />

e, finalmente, é classificado através de conceitos impressos no<br />

intelecto passivo, que é a acção racional. Por isso nada há<br />

no intelecto, que não tenha tido seu início nos sentidos, porque<br />

são estes que dão o material bruto sobre o qual trabalhará o<br />

intelecto activo ao captar as notas, ao construir os conceitos,<br />

que são totalidades estructuradas de notas e, finalmente, ordená-los<br />

no intelecto e, com eles, construir, por sua vez, conceitos<br />

de conceitos, que é a abstracção formal, a abstracção que se<br />

realiza, tendo como matéria bruta os próprios conceitos. Essa<br />

fase é uma operação mais alta do intelecto, e que caracteriza<br />

propriamente o homem. E' o entendimento, a rationalitas, a<br />

diferença específica do homem em comparação com os outros<br />

animais, que também têm sensibilidade, que também captam<br />

notas, mas que dificilmente construirão conceitos e não construirão,<br />

de modo algum, conceitos por abstracção formal. Está<br />

claro o que exponho?<br />

— Claríssimo, respondeu Artur, e Ricardo confirmou.<br />

— Por essa concepção, todo conhecimento humano começa<br />

pela empíria. Seguindo essas pegadas, temos os empiristas<br />

em geral, os sensualistas, os materialistas, os positivistas, os<br />

pragmatistas; em suma, todas as doutrinas, deixando de lado<br />

suas diferenças, que pregam que o conhecimento humano é produto<br />

apenas da empíria.<br />

— Quer dizer que os escolásticos, que seguem a linha aristotélica,<br />

são aparentados com os sensualistas, materialistas, etc.<br />

E por que, então, há tanta divergência entre eles?, perguntou<br />

Ricardo.<br />

— Também os parentes brigam entre si, respondeu, rindo,<br />

Pitágoras. Mas, desculpe-me o que disse. Eles são aparentados,<br />

apenas, no ponto de partida; entretanto, uns avançam<br />

mais, outro menos. Sem dúvida, a posição aristotélica, partindo<br />

da empíria, é mais congruente, em suas consequências,<br />

que outras doutrinas, que param no meio do caminho, fazem

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