19.04.2013 Views

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

224<br />

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />

Para mim» sem dúvida, Kant ignorava essa solução. Ora, sabe-se<br />

que, no tocante às sensações, êle, no início, fundou-se<br />

apenas na teoria cartesiana, e nunca abordou a escolástica.<br />

Estou cert° de Q ue Kant ignorava quase totalmente a obra dos<br />

escolásticos. O que êle conhecia era a síntese falha realizada<br />

por seu m es t r e Wolf, e pelas informações através de Descartes<br />

e Leibnitz» Q ue íl conheciam tanto como êle.<br />

Djga-me uma coisa: você aceita, ou não aceita, os juízos<br />

sintétí cos a priori?, perguntou Ricardo.<br />

Se r i a demasiado longo examinar aqui esse ponto, Ricardo.<br />

Na verdade todo o sistema kantiano está pendente de<br />

tais juízos- Kant não conseguiu eficazmente provar que eles<br />

se dêem. E por essa razão todo o seu sistema vacila.<br />

Quer me provar o que diz?, solicitou Josias.<br />

pois não. Que entende Kant por conhecimento a priori?<br />

Para êle é o que não é gerado apenas da experiência, e sim<br />

o que é gelado apenas pela mente. Em sua obra, êle realmente<br />

prova que nao é gerado apenas pela experiência, mas não prova<br />

que é apenas gerado pela mente. E como êle não admite<br />

um meio termo entre a origem da experiência e a origem da<br />

mente, já Q ue êle não admite que parte do conhecimento venha<br />

da experiência e parte da mente, como é a solução aristotélico-escolástica,<br />

como êle não trata senão daqueles dois modos,<br />

êle não prova de modo suficiente a sua tese. Para êle uma<br />

intuição S em sensibilidade é cega, e uma cognição cega nada<br />

conhece, é nada. E como se faria a síntese entre sujeito e<br />

predicado? Não é feita pelas categorias? E se as categorias<br />

não são representativas, não são elas vazias de objectividade?<br />

Como poderia, então, o que é obscuro para a mente clarear a<br />

própria ríi en te?<br />

Não diz Kant que os juízos sintéticos a priori não podem<br />

ser aplicados senão aos fenómenos? Neste caso, segundo a<br />

sua dialéctica transcendental, tais juízos não têm nenhum valor,<br />

quando aplicados fora dos fenómenos. Consequentemente,<br />

por meio deles, nada podemos concluir sobre a natureza, sobre<br />

os caracteres dos noumenos. Mas Kant não pode negar que<br />

há uma heterogeneidade dos fenómenos. Portanto, há uma he-<br />

FlLOSOFIAS <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> NEGAçAo '.','.'.!><br />

terogeneidade dos noumenos. Desse modo, os noumenos imo<br />

são totalmente incognoscíveis, e, consequentemente, cai por I rira<br />

a impossibilidade da metafísica. Poder-se-iam ainda alinhar<br />

muitos outros argumentos, e estes já os dei anteriormente, »«,<br />

ademais, há a obra dos metafísicos, dos grandes metafísicos,<br />

para responder definitivamente a tais argumentos. A colocação<br />

que Kant fêz da metafísica, que nunca foi por êle devidamente<br />

entendida, levou-o fatalmente ao agnosticismo, e não<br />

pôde afinal fugir do cepticismo nem conseguiu livrar-se do<br />

idealismo que desejava combater, nele caindo por força da sua<br />

própria crítica.<br />

— Conclui, então, você, Pitágoras, que não é a nossa mente<br />

que impõe os conceitos à natureza, mas a natureza que os<br />

impõe à mente. E' isso?, perguntou Ricardo.<br />

— Parece-me que fui tão claro quanto era possível. Os<br />

conceitos formados pela mente são, na teoria aristotélico-escolástica,<br />

produtos de uma abstracção total e de uma abstracção<br />

formal, fundados, portanto, na experiência. Mas não se pode<br />

negar a influência da mente, por sua vez, na formação dos mesmos.<br />

Prometi-lhes falar sobre Pitágoras de Samos e, quando<br />

o fizer, prometo ainda mostrar-lhes como isso se dá para êle,<br />

cuja doutrina já sintetizava, com antecedência, o que se afirmou<br />

depois ser o genuíno platonismo e o genuíno aristotelismo.<br />

— Não esquecerei a promessa, já disse.<br />

Logo após essas palavras, e por ser muito tarde, muitos<br />

se retiraram. A reunião ficou desfeita. Ricardo fêz questão<br />

de acompanhar Pitágoras, e também Artur. Depois de se despedirem<br />

dos amigos, seguiram juntos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!