FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO - iPhi
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206 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS<br />
— E' o que veremos, Ricardo. — E, depois de uma leve<br />
pausa, prosseguiu:<br />
— Se abstrairmos a matéria de todos os seus aspectos<br />
qualitativos e quantitativos, poderemos considerá-la como ser.<br />
Não só poderemos conceber esse ser sem matéria, como poderá<br />
êle existir independentemente desta. Quando examinamos a<br />
matéria, outro dia, comprovamos que há algo que não é matéria.<br />
E esse facto oferece uma validez à abstracção de terceiro<br />
grau.<br />
— Gostaria que me fizesse melhor prova do que afirma,<br />
porque as apresentadas não são suficientes, disse Josias.<br />
— Posso fazê-lo. Mas peço que me deixem expor certos<br />
pontos-de-vista, ficando estabelecido que só devem responder,<br />
à proporção que eu faça perguntas, e apenas dentro do âmbito<br />
das perguntas. Se me permitirem, alcançarei uma prova robusta<br />
da validez positiva da metafísica como ciência.<br />
E' inegável a abstracção total, pela qual alcançamos a generalidade<br />
cada vez maiores. Assim, de Josias, posso abstrair<br />
o ser homem; de ser homem o de ser vivente; de vivente o de<br />
ser um ente. Posso, assim, alcançar conceitos de maior universalidade,<br />
partindo de um ser individual, alcançando conceitos<br />
de menor compreensão, ou, seja, de menor número de notas,<br />
mas de máxima extensão, ou, seja, do maior número de indivíduos.<br />
Posso realizar abstracções formais, quando de homem abstraio<br />
a humanidade. E posso abstrair essa forma, tomando-a<br />
de modo absoluto, a humanidade, independente dos indivíduos<br />
que a representam. Pois bem, a metafísica é a ciência que estuda<br />
essas formas abstraídas, tomadas em sua absolutuidade.<br />
E não se pode negar que tais formas transcendem a experiência,<br />
porque a humanidade não é um objecto da experiência<br />
sensível.<br />
— Mas há homens, Pitágoras, e não a humanidade. A<br />
humanidade é uma criação nossa, apressou-se em interromper<br />
Josias.<br />
— Que a humanidade é, então, uma ilusão, é uma tese<br />
própria dos materialistas.<br />
<strong>FILOSOFIAS</strong> <strong>DA</strong> <strong>AFIRMAÇÃO</strong> E <strong>DA</strong> <strong>NEGAÇÃO</strong> :ÍOV<br />
— E' a minha tese, corroborou Josias.<br />
— Mas não nega, pelo menos, que há um fundamento noswi<br />
abstracção, que é o haver seres, os homens, que têm em comum<br />
algo que os distingue de outros seres vivos, e esse algo chamados<br />
humanidade, pois, do contrário, não haveria nenhuma<br />
diferença entre os homens e os outros seres vivos.<br />
— Sim, mas essa humanidade não existe em si, fora da<br />
nossa mente, como um ente com existência própria, acrescentou<br />
Josias.<br />
— Mas não há necessidade que essa existência se dê aqui<br />
ou ali, pois se a humanidade existisse, aqui ou ali, seria um<br />
ser que ocuparia espaço, e seria um corpo, portanto seria um<br />
ser físico. Ora, a minha afirmação é de que a humanidade<br />
é um ser metafísico. E precisamente porque não tem nenhuma<br />
existência física é que é um ser metafísico, respondeu Pitágoras.<br />
— Mas é uma criação do espírito humano apenas, reiterou<br />
Josias.<br />
— Mas que seja uma criação. Não é um puro nada, porque<br />
tem fundamentos reais, embora não tenha uma existência<br />
física.<br />
— Mas, então, que outra existência teria?, perguntou<br />
Josias.<br />
— Uma existência metafísica, já que a humanidade não<br />
é um puro nada, mas uma abstracção formal do que é homem.<br />
Quer permitir que justifique a abstracção formal? Se me permitir,<br />
poderei justificar melhor a minha posição.<br />
— Pois tente fazê-lo. Quero ver, respondeu displicentemente<br />
Josias. •<br />
Pitágoras sorriu. Tomou fôlego, e prosseguiu deste modo:<br />
— Primeiramente, vou provar que, pela abstracção formal,<br />
e não apenas pela abstracção total, podemos obter conceitos o<br />
juízos que transcendam a toda experiência, inclusive a qualquer<br />
experiência possível. Depois, provarei que tais objectos<br />
I são imateriais. E sendo eles metafísicos, um conhecimento objectivo-metafísico<br />
é, portanto, possível. Vejamos.<br />
I