O Príncipe de Nassau - Unama
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— Carlota também... Tá tudo lá! www.nead.unama.br André Vidal precipitou-se para João Fernandes. Coutou-lhe a notícia brutal. Numa agitação, a alma aos pedaços, bradou torrencialmente: — Nem mais um minuto de repouso, João Fernandes! Partamos já contra os flamengos! É preciso cair sobre eles de improviso, como um raio... Ainda nessa mesma noite, a marchas forçadas, o Exército da Liberdade partiu a caminho da Casa-forte, o engenho de D. Ana Pais. O combate da Casa-Forte É na Casa-Forte 34 . João Blaar e o Coronel Dons, diante de uma botelha de genebra, tracejavam novo plano de ataque. Esporeia-os agora, mais do que nunca, mordente desejoso de vingança. O descalabro das Tabocas lanhara fundo a vaidade dos flamengos. Eis porque, no engenho de D. Ana, os olhos fuzilantes, encharcados de genebra, maquinam os dois homens uma desforra sangrenta. João Blaar vocifera: — Deixe que venha a ajuda da Bahia, meu caro Hous! Hoje, garanto-lhe eu, a tropa rompe aí. Então, com gente fresca, arcabuzaria nova, peças de vinte e duas libras, verá o estrago que faremos nos papistas! Havemos de caçar pernambucano como quem caça bicho. Eu quero ainda eu mesmo, com minhas mãos, ter o gosto de enfiar o pescoço de João Fernandes na corda! Hei de ver ainda esse João Toucinho estrebuchar, língua de fora, dependurado de uma trave. Ah, vai ser uma carnagem. — Vosmecê está enganado, afirmava Hous, gravemente: dentro de dois dias a rebelião está sufocada. E sufocada sem briga, sem correr pinga de sangue, sem se queimar arratel de pólvora... Rindo-se, rindo um riso maldoso, apontou com o dedo, ironicamente, amplo quarto trancado, onde havia sentinela à porta: — Aquelas bichinhas que ali estão, meu general, aquelas, sim, é que vão ganhar a guerra! Os pernambucanos hão de fazer loucuras para as livrar. Vai ser uma debandada! Não fica um só chefe com João Fernandes. Vosmecê verá. Há de vir tudo aqui, de rastros, mendigar pelas mulheres. Ah, essa idéia de D. Ana Pais foi de ouro! Que mulher, João Blaar, que mulher aquela... Engoliu o copo de genebra, ergueu-se, espiou pelo vão da janela. Fora, no pátio da Casa-Forte, ia chocante desordem. Pairava com tudo o ar da derrota. Ar acabrunhante de desânimo. Os soldados haviam fugido em massa das Tabocas, mim corre-corre atropelado, tumultuosíssimo. Descansavam agora, largadamente, daquela canseira bruta. Era dolorosa a cena. Bacamartes amontoados, peças descavalgadas, cucharras e soquetes pelo chão, homens resfolegando forte nas redes, planchadas de chumbo por toda a 34 Mem. Hist. de Pernamb. pág. 202: "Henrique Hous fez alto na Várzea e alojou-se a uma légua de Recife, no Engenho da D. Ana Pais, conhecido por Casa-Forte". 96
www.nead.unama.br parte. O Coronel Hous teve medo. Sentiu, num relance, o perigo daquela barafunda. Virou-se bruscamente para João Blaar. — Venha ver que desmantelo! Aqui é um crime, João Blaar! É necessário pôr em forma esses homens... João Blaar não pôde responder. Surgiu na sala, atarantadamente, a figura pálida de Segismundo Starke. O moço, com o peito encastoado em faixas, vinha acompanhado de Vicente Soler, pastor calvinista. João Blaar, ao vê-los, abriu um riso largo: — Já sei ao que Vosmecês vêm, senhores! Já sei muito bem! Bravos! Uma boda em tempo de guerra é coisa rara. É coisa raríssima! Vamos a ela, senhores. Ríspido, com o seu vozeirão atroante, berrou para a sentinela postada na porta do quarto: — Traga a de nome Carlota, É aquela prisioneira loura, moça... O soldado, escancarando a porta, gritou pela de nome Carlota. Não teve que esperar. A moça apareceu. Vinha descorada e desfeita, olheiras muito grandes e muito roxas. Carlota Haringue, na sua desgraça, estava impressionantemente sedutora. João Blaar, com a sua aspereza, bradou-lhe secamente: — Aproxime-se! A rapariga aproximou-se. Estava espavorida. E João Blaar: — Eis aqui Vicente Soler. É o nosso pastor. Veio ele para o casamento... Carlota sentiu o coração estourar-se-lhe no peito. — Para o casamento? — Sim, tornou Blaar duramente; para o casamento com Segismundo Starke. A moça recuou, fremente. Surda rajada de cólera sacudiu-a. Teve diante do perigo, intrépido assomo de coragem: — Mate-me, João Blaar! Mate-me se quiser; mas casar fique Vosmecê sabendo, não caso! João Blaar enfureceu. Cerrou os punhos, iradíssimo. Sentiu ímpetos de esmurrá-la. Mas Vicente Soler, pacificador e cordato, interveio maneirosamente: — Calma, minha filha, calma! Não se irrite assim. Ora veja um pouco o noivo. É um moço belo. É flamengo honrado e nobre. Não há razão, minha filha, para que Vosmecê não queira casar com um patrício assim. Vamos lá! Pense um pouco... 97
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— Carlota também... Tá tudo lá!<br />
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André Vidal precipitou-se para João Fernan<strong>de</strong>s. Coutou-lhe a notícia brutal.<br />
Numa agitação, a alma aos pedaços, bradou torrencialmente:<br />
— Nem mais um minuto <strong>de</strong> repouso, João Fernan<strong>de</strong>s! Partamos já contra os<br />
flamengos! É preciso cair sobre eles <strong>de</strong> improviso, como um raio...<br />
Ainda nessa mesma noite, a marchas forçadas, o Exército da Liberda<strong>de</strong><br />
partiu a caminho da Casa-forte, o engenho <strong>de</strong> D. Ana Pais.<br />
O combate da Casa-Forte<br />
É na Casa-Forte 34 .<br />
João Blaar e o Coronel Dons, diante <strong>de</strong> uma botelha <strong>de</strong> genebra, tracejavam<br />
novo plano <strong>de</strong> ataque. Esporeia-os agora, mais do que nunca, mor<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sejoso<br />
<strong>de</strong> vingança.<br />
O <strong>de</strong>scalabro das Tabocas lanhara fundo a vaida<strong>de</strong> dos flamengos. Eis<br />
porque, no engenho <strong>de</strong> D. Ana, os olhos fuzilantes, encharcados <strong>de</strong> genebra,<br />
maquinam os dois homens uma <strong>de</strong>sforra sangrenta. João Blaar vocifera:<br />
— Deixe que venha a ajuda da Bahia, meu caro Hous! Hoje, garanto-lhe eu,<br />
a tropa rompe aí. Então, com gente fresca, arcabuzaria nova, peças <strong>de</strong> vinte e duas<br />
libras, verá o estrago que faremos nos papistas! Havemos <strong>de</strong> caçar pernambucano<br />
como quem caça bicho. Eu quero ainda eu mesmo, com minhas mãos, ter o gosto<br />
<strong>de</strong> enfiar o pescoço <strong>de</strong> João Fernan<strong>de</strong>s na corda! Hei <strong>de</strong> ver ainda esse João<br />
Toucinho estrebuchar, língua <strong>de</strong> fora, <strong>de</strong>pendurado <strong>de</strong> uma trave. Ah, vai ser uma<br />
carnagem.<br />
— Vosmecê está enganado, afirmava Hous, gravemente: <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> dois dias<br />
a rebelião está sufocada. E sufocada sem briga, sem correr pinga <strong>de</strong> sangue, sem<br />
se queimar arratel <strong>de</strong> pólvora...<br />
Rindo-se, rindo um riso maldoso, apontou com o <strong>de</strong>do, ironicamente, amplo<br />
quarto trancado, on<strong>de</strong> havia sentinela à porta:<br />
— Aquelas bichinhas que ali estão, meu general, aquelas, sim, é que vão<br />
ganhar a guerra! Os pernambucanos hão <strong>de</strong> fazer loucuras para as livrar. Vai ser<br />
uma <strong>de</strong>bandada! Não fica um só chefe com João Fernan<strong>de</strong>s. Vosmecê verá. Há <strong>de</strong><br />
vir tudo aqui, <strong>de</strong> rastros, mendigar pelas mulheres. Ah, essa idéia <strong>de</strong> D. Ana Pais foi<br />
<strong>de</strong> ouro! Que mulher, João Blaar, que mulher aquela...<br />
Engoliu o copo <strong>de</strong> genebra, ergueu-se, espiou pelo vão da janela. Fora, no<br />
pátio da Casa-Forte, ia chocante <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. Pairava com tudo o ar da <strong>de</strong>rrota. Ar<br />
acabrunhante <strong>de</strong> <strong>de</strong>sânimo. Os soldados haviam fugido em massa das Tabocas,<br />
mim corre-corre atropelado, tumultuosíssimo. Descansavam agora, largadamente,<br />
daquela canseira bruta. Era dolorosa a cena.<br />
Bacamartes amontoados, peças <strong>de</strong>scavalgadas, cucharras e soquetes pelo<br />
chão, homens resfolegando forte nas re<strong>de</strong>s, planchadas <strong>de</strong> chumbo por toda a<br />
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Mem. Hist. <strong>de</strong> Pernamb. pág. 202: "Henrique Hous fez alto na Várzea e alojou-se a uma légua <strong>de</strong> Recife, no<br />
Engenho da D. Ana Pais, conhecido por Casa-Forte".<br />
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