You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Era o Bastião. O escravo virou-se solícito:<br />
www.nead.unama.br<br />
— Sinhô chamô?<br />
— Chamei. Você não viu o Capitão Fagun<strong>de</strong>s?<br />
— Está arranchado na casa da purga, mais o Capitão Souto e o Rabelinho.<br />
— Pois vá chamá-los. Diga que venham a barraca <strong>de</strong> Antônio Cavalcanti.<br />
Que venham já!<br />
Daí a pouco, reunidos, os cabos <strong>de</strong> guerra discutiam com quentura. A<br />
barraca ferveu. Vieram à tona <strong>de</strong>speitos antigos. Bernardino <strong>de</strong> Carvalho tinha<br />
razão! Não havia discordância: o <strong>de</strong>scontentamento era um só. Todos aqueles<br />
homens abominavam a chefia <strong>de</strong> João Fernan<strong>de</strong>s. Todos bradavam uníssonos:<br />
— Eu sou por Vosmecê, Cavalcanti!<br />
A essa mesma hora, diante <strong>de</strong> João Fernan<strong>de</strong>s o Bastião mexericava... O<br />
negro, aquele perigoso leva-e-traz, não perdia vasa <strong>de</strong> mostrar a alma. E dizia<br />
baixinho, entre gran<strong>de</strong>s sigilos:<br />
— Tá tudo lá! O plano <strong>de</strong>les é <strong>de</strong>rrubá Vancê. Querem o Cavalcanti... A<br />
coisa tá pegando fogo!<br />
— E quem é que está lá?<br />
— É o Rabelinho, é o Fagun<strong>de</strong>s, é o Bernardino <strong>de</strong> Carvalho, é o...<br />
— Bem! Vá em paz.<br />
E <strong>de</strong>spediu o negro com um gesto.<br />
João Fernan<strong>de</strong>s ficou só e começou a refletir. Viu claro aquela trama.<br />
Compreen<strong>de</strong>u logo o <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> Cavalcanti. Sentiu aquele velho ódio soturno, que<br />
vinha sempre à tona, insopitável. Mas João Fernan<strong>de</strong>s não se atemorizou. Era um<br />
lutador encarniçado. Nunca fora homem para se abalar atoa. Aquele que principiara<br />
como menino <strong>de</strong> açougue e conseguira impor-se como general em chefe duma<br />
rebelião sabia, por certo, <strong>de</strong>sbravar todos os estorvos do caminho. O ma<strong>de</strong>irense<br />
encarou frente a frente a situação. Pensou muito e fundo. Depois, meneando<br />
dolorosamente a cabeça:<br />
— Cavalcanti! Cavalcanti! Hás <strong>de</strong> pagar caro. Hás <strong>de</strong> pagar caríssimo!<br />
Verás...<br />
já.<br />
E bateu palmas. Surgiu um soldado.<br />
— Você conhece Rodrigo Mendanha?<br />
— Conheço, General.<br />
— Vá procurá-lo. Diga-lhe que venha à minha barraca. Diga-lhe que venha<br />
O soldado ouviu a or<strong>de</strong>m e partiu às carreiras. Dentro em pouco, no tenda,<br />
João Fernan<strong>de</strong>s e Rodrigo Mendanha conversavam em segredo. Que é que disse o<br />
gran<strong>de</strong> chefe? Ninguém ouviu. Unicamente, ao fim da conversa, fitou o rapaz com<br />
um ar astucioso:<br />
83