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www.nead.unama.br<br />
Cavalcanti e Bernardino <strong>de</strong> Carvalho aperrearam as alabardas, embrenharam-se<br />
juntos pela mataria, vieram fervilhantes. D. Maria <strong>de</strong> Sonsa, a velha senhorad'engenho,<br />
chamou os dois filhos. Eram meninos; um tinha treze anos, outro,<br />
apenas doze.<br />
— Meus filhos, disse-lhes, o pai <strong>de</strong> vocês odiava os belgas, morreu na<br />
guerra. Todos os seus irmãos, que os odiavam com o mesmo ódio, também<br />
morreram. Agora chegou a vez <strong>de</strong> vocês. João Fernan<strong>de</strong>s atiçou a revolução; vão,<br />
meus filhinhos, vão combater os hereges!<br />
Equipou os dois meninos, municiou-os, meteu nas mãos <strong>de</strong> cada um o<br />
mosquete biscainho, mandou-os morrer ao lado <strong>de</strong> João Fernan<strong>de</strong>s.<br />
Que <strong>de</strong>lírio! Todos os cabos da campanha, fascinados, atropelaram-se em<br />
torno do ma<strong>de</strong>irense. Domingos Fagun<strong>de</strong>s, a cassununga do sertão, trouxe consigo<br />
briosa leva <strong>de</strong> mancebos da Várzea, armados <strong>de</strong> grossos arcabuzes já arrebatados<br />
aos flamengos. Francisco Rabelo, o Rabelinho, apareceu no acampamento, radioso,<br />
com duas cabeças <strong>de</strong> belgas espetadas gloriosamente na ponta dos piques. O<br />
Capitão Souto, guerrilheiro velho, bravíssimo, surgiu em triunfo, sob um atroar <strong>de</strong><br />
aplausos, arrastando em velha carreta uma grossa peça <strong>de</strong> bronze, dois pés-<strong>de</strong>cabra,<br />
várias palanquetas e muitíssimas balas <strong>de</strong> picão.<br />
João Fernan<strong>de</strong>s rompeu a marcha pela brenha a <strong>de</strong>ntro. Ah, estavam<br />
reservadas para aqueles homens consolações e surpresas incontáveis! Em<br />
Maciapé, ao acampar o exercitozinho, entusiasmo fanático explodiu nas gentes<br />
daqueles sítios: uma ondada <strong>de</strong> oitocentos homens veio incorporar-se aos<br />
revoltosos! Daí em diante, em cada pouso, sem cessar, chegavam bandos e mais<br />
bandos. Escravos, índios, mamelucos, moedores <strong>de</strong> cana, roçadores, gente <strong>de</strong><br />
todas as Capitanias, <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> todas as condições. Por fim, no<br />
Engenho das Covas vasta partida <strong>de</strong> soldados, ao man<strong>de</strong> <strong>de</strong> Amador <strong>de</strong> Araújo,<br />
engrossou <strong>de</strong>finitivamente o exército rebelado.<br />
Foi ai, em Covas, que João Fernan<strong>de</strong>s estacou. Era necessário<br />
arregimentar, compor, instruir aqueles mil e quinhentos homens <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados e<br />
heterogêneos. Principiou, então, no acampamento tremenda lufa-lufa <strong>de</strong> aprestos.<br />
É noite. Barracas, fogueiras acesas, re<strong>de</strong>s armadas em troncos <strong>de</strong> árvores,<br />
soldados dormindo sobre couros <strong>de</strong> boi, cal<strong>de</strong>irões suspensos em correntes <strong>de</strong> ferro.<br />
Esparsos pelo chão, aos montes, bacamartes <strong>de</strong> vários jeitos, sacatrapos e<br />
ban<strong>de</strong>irolas, alviões e pás, ceiras <strong>de</strong> esparto, toda a mescla tumultuosa <strong>de</strong> um<br />
exército em campanha.<br />
Numa das barracas, on<strong>de</strong> há luz dois homens conversavam sombriamente.<br />
Um é Antônio Cavalcanti; outro é Bernardino <strong>de</strong> Carvalho. Ambos, o aspecto irado,<br />
fervem.<br />
Bernardino, o irmão <strong>de</strong> Sebastião <strong>de</strong> Carvalho, aquele que o <strong>de</strong>lator infame,<br />
brada:<br />
— E dizer que tudo isto, Antônio Cavalcanti, que estes mil e quinhentos<br />
homens obe<strong>de</strong>cem às or<strong>de</strong>ns do filho da Benfeitinha!<br />
— É verda<strong>de</strong>, tornava o outro sinistramente; tudo isto obe<strong>de</strong>ce a João<br />
Fernan<strong>de</strong>s! Ao filho da Benfeitinha! Ao mulato! Ao menino <strong>de</strong> açougue! Ora veja o<br />
mundo, Bernardino <strong>de</strong> Carvalho...<br />
— E Vosmecê, Antônio Cavalcanti clamava Bernardino asperamente,<br />
Vosmecê aqui às or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong>sse homem? Como é que Vosmecê po<strong>de</strong> suportar a<br />
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