You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
D. Ana entrou. Vinha pálida, ofegante, um ansiado <strong>de</strong>sespero pintado no rosto.<br />
— Sabem, senhores, o que aconteceu?<br />
— Rodrigo Mendanha fugiu!<br />
Ambos, o <strong>Príncipe</strong> e Gaspar Dias prorromperam num só grito:<br />
— Quê? Fugiu?<br />
— Como? Bradou o <strong>Príncipe</strong> espantadíssimo, fugiu como?<br />
— Não sei! Pergunte Vossa Alteza a Carlos Tourlon, o encarregado <strong>de</strong> vigiá-lo...<br />
— Carlos Tourlon?<br />
— Sim, <strong>Príncipe</strong>. Rodrigo Mendanha foi conduzido à Fortaleza Ernesto.<br />
Carlos Tourlon fechou-o na prisão, com o carcereiro à porta, esperando que Vossa<br />
Alteza <strong>de</strong>cidisse o caso. Eis que agora, com assombro <strong>de</strong> toda gente, o preso e o<br />
carcereiro fogem! Fogem juntos, como amigos, mesmo nas barbas <strong>de</strong> Carlos Tourlon!<br />
— Mas é um traidor esse Tourlon, exclamou o <strong>Príncipe</strong> num rompante; é um<br />
miserável!<br />
— É um canalha! Bradou Gaspar Dias, fuzilando.<br />
— É um canalha, reafirmou Maurício, numa exaltação; ainda agora, D. Ana<br />
Pais, por carta secreta <strong>de</strong> Holanda, acabo <strong>de</strong> saber coisas terríveis. Imagine isto:<br />
uma <strong>de</strong>núncia contra mim, D. Ana! E uma <strong>de</strong>núncia por causa <strong>de</strong> Vosmecê...<br />
— Por minha causa?<br />
— Por causa <strong>de</strong> Vosmecê. Leia!<br />
E mostrou a carta.<br />
A pernambucana correu olhos ansiosos pelo papel confi<strong>de</strong>ncial. Leu. E abriu<br />
a boca, estatelada! Não queria acreditar no que via. Bradou indignada:<br />
— Foi Tourlon, insistiu Gaspar Dias; isso é claro como a luz do sol. Foi o<br />
biltre!Ali, não é a toa que o abandalhado vive aos abraços e aos beijos com João<br />
Fernan<strong>de</strong>s! Tudo para ele é João Fernan<strong>de</strong>s! Só João Fernan<strong>de</strong>s! E agora, vejam,<br />
para bajular a esse cão <strong>de</strong> João Fernan<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ixa Rodrigues Mendanha escapar!<br />
— Que tratante, vociferou Maurício; é um bandido!<br />
E bateu palmas Estrembon entrou.<br />
— Faça vir aqui o Capitão Carlos Tourlon.<br />
O pagem partiu às pressas à cata do Capitão da Guarda.<br />
A história que acontecera a Rodrigo fora simples. Carlos Tourlon, mal o<br />
conduzira à Fortaleza, or<strong>de</strong>nara ao Bastião que se postasse às gra<strong>de</strong>s do cárcere<br />
para vigiar <strong>de</strong> perto o recolhido. Viu bem o Capitão que o rapaz estava <strong>de</strong>sgraçado.<br />
A sorte <strong>de</strong>le era forca. Forca, nada mais! D. Ana saberia, mais do que nunca, tirar<br />
uma vingança cruel.<br />
Então, diante daquela fatalida<strong>de</strong>. Tourlon incendiou-se da coragem mais<br />
louca. Enveredou-se num ímpeto pela prisão a <strong>de</strong>ntro. Chamou o preso. Bateu-lhe<br />
forte no ombro:<br />
— Você quer fugir?<br />
75