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Conselho dos Dezenove, uma carta secreta do próprio Stathouter da Holanda, primo<br />
<strong>de</strong> Maurício.<br />
O <strong>Príncipe</strong> ainda tinha festa no Palácio <strong>de</strong> Friburgo. Sua Alteza oferecia aos<br />
torneadores, <strong>de</strong>pois das cavalhadas, grandiosa representação <strong>de</strong> cômicos. Pela<br />
primeira vez, no Brasil, ia ser levada à cena uma comédia. Comédia francesa, dita<br />
em língua francesa, por cômicos franceses: foi aí, como se vê, nesse alvorecer<br />
bruxoleante da nacionalida<strong>de</strong>, que primeiro se injetou na alma brasileira o vírus do<br />
francesismo...<br />
Antes <strong>de</strong> receber os convidados, ao tornar do pátio dos jogos, Maurício <strong>de</strong><br />
<strong>Nassau</strong> correu ansiosamente os olhos por aquelas letras.<br />
O oficio do Conselho dos Dezenove era longo e grave. <strong>Nassau</strong> leu-o. Leu-o<br />
e empali<strong>de</strong>ceu. Referveu-lhe no coração surda ira.<br />
Com mor<strong>de</strong>nte irascibilida<strong>de</strong>, agarrando na carta secreta que recebera do<br />
primo, Stathouter dos Estados, <strong>de</strong>vorou-a dum fôlego.<br />
Nunca imaginara o <strong>Príncipe</strong>, na sua vida, receber as notícias que recebera!<br />
Sim, era <strong>de</strong> assombrar! Sombrio, com os nervos revirados, o gran<strong>de</strong> flamengo<br />
remoía-se. Ódio fundo espumejava nele...<br />
Súbito, varando pelos aposentos <strong>de</strong> Sua Alteza, Estrebon, o pagem e<br />
camareiro, avisou que Gaspar Dias era já chegado ao Palácio.<br />
— Gaspar Dias? Diga que entre para aqui. E que entre já!<br />
Gaspar Dias entrou. O <strong>Príncipe</strong>, ao vê-lo, foi bradando com agitação:<br />
— Sabe que há <strong>de</strong>spachos <strong>de</strong> Holanda, Gaspar Dias?<br />
— Sei, <strong>Príncipe</strong>. Contou-me o capitão do veleiro. Chegaram letras importantes?<br />
— Importantíssimas! Bradou <strong>Nassau</strong> fremindo; há uma, sobretudo, que é <strong>de</strong><br />
espantar!<br />
— Ouça, Gaspar Dias, ouça e pasme: acabo <strong>de</strong> ser dispensado <strong>de</strong><br />
governador do Brasil!<br />
— Vossa Alteza?!<br />
— Eu!<br />
— É incrível, prorrompeu Gaspar Dias, abrindo os braços, revolucionado; é<br />
um absurdo!<br />
— Leia!<br />
E o <strong>Príncipe</strong> passou a Gaspar Dias o <strong>de</strong>spacho dos Estados. O fuinha leu.<br />
Não havia dúvida! Maurício fora chamado para a Holanda.<br />
— Diabo, exclamava o rábula aturdido; que ato estranho! É inconcebível...<br />
E coçando a barba, zonzo:<br />
— Diabo! Qual seria a razão <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>spacho. <strong>Príncipe</strong>? Que <strong>de</strong>liberação<br />
<strong>de</strong>scabida!<br />
Maurício não comentou. Tomou da carta secreta e entregou-a secamente a<br />
Gaspar Dias:<br />
— Leia!<br />
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