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www.nead.unama.br<br />
Caiu fundo silêncio. Os convidados olhavam, sem compreen<strong>de</strong>r, aquela<br />
encenação. Que é que iria acontecer? André Vidal levantou-se. Do topo da mesa,<br />
pausado e solene, começou:<br />
— Meus amigos! Esta ceia, que João Fernan<strong>de</strong>s nos oferece teve como<br />
pretexto o festejar a minha chegada nesta Capitania. Esse pretexto, como Vosmecês<br />
bem vêem, é tudo quanto há <strong>de</strong> mais frágil; não passa dum embuste para <strong>de</strong>sviar<br />
<strong>de</strong>sta reunião as <strong>de</strong>sconfianças dos flamengos. O fim que nos coliga nesta noite, cm<br />
torno <strong>de</strong>sta ceia, é muito mais alto, profundamente mais grave. Trata-se da nossa<br />
vida e da nossa honra. Trata-se, numa palavra, da sorte <strong>de</strong> Pernambuco!<br />
Esse começo, dito sentenciosamente, palavra por palavra, fez gelar o riso na<br />
boca dos convivas. Todos cravaram olhos ávidos no paraibano.<br />
— Vosmecês, um por um, já abriram o peito para comigo. Eu sei que no<br />
fundo <strong>de</strong> Vosmecês todos, escondido, ar<strong>de</strong> ódio tremendo contra os hereges. Eu sei<br />
que cada um bem recalcado no peito, guarda rancor feroz contra essa raça <strong>de</strong><br />
excomungados, profanadores <strong>de</strong> igrejas, cães que andam por aí a espa<strong>de</strong>irar as<br />
nossas imagens. a beber vinho <strong>de</strong> Holanda pelos cálices sagrados. Não se<br />
assustem, meus senhores, que eu fale assim <strong>de</strong>sassombrado e claro. Ninguém tem<br />
a temer um do outro. Todos nós — atentem-no bem! — somos conjurados na<br />
mesma trama. Estamos todos já envolvidos na rebelião. Por isso brado aqui a<br />
Vosmecês: amigos, chegou a hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembainharmos as espadas! Chegou o<br />
momento <strong>de</strong> varrermos o belga <strong>de</strong> Pernambuco! Chegou, enfim, a hora <strong>de</strong><br />
salvarmos a Pátria!<br />
Os comensais ouviram aquilo suspensos, os cabelos no ar. Todos sentiam<br />
nitidamente a gravida<strong>de</strong> brutal <strong>de</strong> tais palavras. André Vida!, De pé, solene e<br />
pausado, continuou assustador:<br />
— Eu ajuntei a Vosmecês aqui, senhores, para lançarmos o grito <strong>de</strong><br />
liberda<strong>de</strong>. Eu os ajuntei aqui para uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> peso. Ei-la: aqueles, <strong>de</strong>ntre<br />
Vosmecês, que estiverem resolvidos a <strong>de</strong>ixar a família e os teres, a largar<br />
mercancias e lavouras, a sair a combater os hereges sem <strong>de</strong>scanso, dia e noite, até<br />
a ultima gota do sangue, que se levantem! De pé, amigos! É a hora <strong>de</strong> firmarmos,<br />
como homens <strong>de</strong> honra, um pacto <strong>de</strong> morte!<br />
Foi um choque! Mas os convivas, sem vacilar, como tocados por secreta<br />
mola, ergueram-se <strong>de</strong> pronto. Nem um só ficou sentado! André Vidal, com ru<strong>de</strong><br />
gesto, arrancou então da espada:<br />
— Pois bem, senhores! Juremos todos, sobre a cruz <strong>de</strong>sta espada, que<br />
estamos unidos para a vida e para a morte!<br />
Os pernambucanos, com o mesmo ímpeto, a uma só voz, bradaram firmes,<br />
esten<strong>de</strong>ndo a mão:<br />
— Juro!<br />
André Vidal, sacando do bolso larga folha <strong>de</strong> papel, exibiu-a aos conjurados:<br />
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