You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
André Vidal e Rodrigo Mendanha <strong>de</strong>voravam as palavras do fuinha. E ele,<br />
muito melífluo, continuava:<br />
— Vosmecê disse, André Vidal, que quer à Carlota como filha...<br />
— Como filha, afirmou o paraibano. Carlota é a minha loucura, Gaspar Dias!<br />
— Nesse casa, tornou o rábula, uma pequenina coisa, simples concessão <strong>de</strong><br />
sua parte, será o bastante para salvar a menina. E isso, meu amigo, sem custar<br />
dinheiro, sem pesar uma placa ao seu bolso.<br />
— Como: Vosmecê está mofando, Gaspar Dias! Está por acaso, a motejar<br />
<strong>de</strong> nós?<br />
— Não, volveu o trapaceiro com voz firme; eu não motejo, André Vidal! Falo<br />
a sério. Muito a Sério! É só uma concessãozinha <strong>de</strong> sua parte, um quase nada, e<br />
Vosmecê salvará Carlota.<br />
— Mas, <strong>de</strong> que jeito, Gaspar Dias? Esclareça-nos, meu amigo!<br />
— É muito fácil. Escute! Vosmecê, André Vidal, sairá daqui comigo. Iremos,<br />
juntos, até a casa <strong>de</strong> D. Ana Pais...<br />
— De D. Ana Pais?! Bradou o guerreiro erguendo-se, como se o fuinha<br />
houvesse tocado nele com um ferro em brasa; à casa <strong>de</strong> D. Ana Pais?!<br />
— De D. Ana Pais... Tornou Gaspar Dias impassível. Vosmecê a conhece<br />
bem, não conhece? Pois foi ela quem conseguiu dos escabinos a prisão <strong>de</strong> Carlota.<br />
Ora, como e sabido, D. Ana é hoje mulher po<strong>de</strong>rosa. A mais po<strong>de</strong>rosa da Capitania.<br />
É ela, neste instante, quem tem entre as mãos a sorte da moça. Só D. Ana, portanto,<br />
só ela, po<strong>de</strong>rá hoje salvar Carlota...<br />
André Vidal ouviu aquilo, fervendo, os olhes injetados, gran<strong>de</strong> cólera<br />
zunindo-lhe na alma. Mas Gaspar Dias, meloso e inocente, continuou sorrindo:<br />
— Vamos nós dois, portanto, à casa <strong>de</strong> D. Ana, André. Vamos e entramos.<br />
Na sala, mal D. Ana apareça, Vosmecê, André, atira-se aos pés <strong>de</strong>la...<br />
— Que diz Vosmecê? Uivou André, franzindo o cenho, as mãos crispadas;<br />
que diz Vosmecê, Gaspar Dias?<br />
O velho, porém, manhoso e pérfido, continuou na sua inocência:<br />
— Digo que Vosmecê, quando D. Ana entrar, há <strong>de</strong> atirar-se aos pés <strong>de</strong>la...<br />
Atirar-se <strong>de</strong> mãos postas, chorando...<br />
André Vidal não se dominou. O sangue referveu-lhe nas veias. Trêmulo <strong>de</strong><br />
fúria, saltou sobre o velho como um tigre. Esbofeteou-o. E, na sua ira, agarrou-o pelo<br />
pescoço. Espremeu-o. Ia esganá-lo... Rodrigo Mendanha, aterrorizado, precipitou-se<br />
entre ambos aos berros:<br />
— André Vidal! André Vidal! Vosmecê está louco?<br />
Gaspar Dias já tinha o pescoço retinto, a língua <strong>de</strong> fora, olhos esbugalhados.<br />
Rodrigo, metendo-se entre ambos, separou-os brutalmente, com um golpe.<br />
— Vosmecê está louco, André Vidal? Não vê que assim Vosmecê faz a<br />
<strong>de</strong>sgraça sua e a <strong>de</strong>la?<br />
60