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O Príncipe de Nassau - Unama

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Saíram. Tocaram ambos, sombrios e calados a caminho da casa <strong>de</strong> Frei<br />

Manuel. Mas aquela selvajeria assanhara na alma <strong>de</strong> André Vidal ódios ainda mais<br />

ferventes contra os flamengos. Espumejava ele um anseio <strong>de</strong> vingança, vonta<strong>de</strong><br />

rugidora <strong>de</strong> espa<strong>de</strong>irá-los <strong>de</strong> trucidá-los, <strong>de</strong> espostejá-los. Sentia ele então, mais do<br />

que nunca, ânsias aguilhoantes por <strong>de</strong>flagar a rebelião na Capitania. Ah, era preciso<br />

expulsar aqueles hereges! Era preciso, a toda força, repelir esse bando <strong>de</strong> facínoras<br />

e <strong>de</strong> enforcadores!<br />

Em casa <strong>de</strong> Frei Manuel, logo ao entrar, André Vidal topou com Rodrigo<br />

Mendanha. O moço chorava, <strong>de</strong>bruçado soturnamente sobre um papel. Ao avistar o<br />

guerreiro, precipitou-se ao encontro <strong>de</strong>le, modos <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados, a voz fremente:<br />

— Leia!<br />

André leu:<br />

Rodrigo:<br />

Não há palavra que conte a minha dor.<br />

O bilhete <strong>de</strong> você, neste <strong>de</strong>sespero, foi a minha vida. Você, e André, são as<br />

minhas únicas esperanças.<br />

Carlota.<br />

— Sossegue, Rodrigo. Ao meio-dia em ponto estaremos em casa <strong>de</strong> Gaspar<br />

Dias. Hoje aconteça o que acontecer, havemos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slindar esse negocio.<br />

Ambos, azocrinados, com uma irascibilida<strong>de</strong> que lhes mordia os nervos.<br />

ficaram-se ali, cheios <strong>de</strong> pensamentos lúgubres, esperando que corresse, grão por<br />

grão, a areia lerda da ampulheta.<br />

Meio-dia... Gran<strong>de</strong> cópia <strong>de</strong> clientes na antecâmara do homem prestigioso.<br />

Lavradores <strong>de</strong> cana, senhores-<strong>de</strong>-engenho, homens do fisco, compradores <strong>de</strong><br />

papagaios, carregadores <strong>de</strong> pau-brasil, mercantes <strong>de</strong> especiarias, um padre. O<br />

padre chocava pelas pimponices do trajar. Estava luzido e cheiroso, trazia meias <strong>de</strong><br />

preço, escarpins, lobas <strong>de</strong> rendas finas.<br />

Gaspar Dias, que já esperava os dois homens recebeu-os sem mais<br />

<strong>de</strong>longas. Trancou-se com eles na sua sala particular. Logo, muito acolhedor, foi<br />

perguntando com chã cordialida<strong>de</strong>:<br />

— Vosmecê reparou naquele padre que ali está?<br />

— Reparei, volveu André; é um sacerdote mui taful. Quem é?<br />

— Vosmecê não o conhece? Pois é o Padre Ferreira, vigário <strong>de</strong> Ipojuca, um<br />

grandíssimo maroto que anda ai metido na mais perigosa das entaladas. Imagine<br />

que esse malandro é vigário: mas vigário sujeito unicamente à Cida<strong>de</strong> Maurícia, sem<br />

ligação alguma com o Bispo da Bahia. Os flamengos proibiram rigorosamente — e<br />

isto sob pena <strong>de</strong> forca! — que os padres recebam or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> fora. Or<strong>de</strong>ns, aqui, são<br />

só as do Supremo Conselho. Mas esse tonto que Vosmecê ai vê, mandou buscar, ás<br />

escondidas, uma licença do Bispo da Bahia. Olhe para essa! Uma licença para<br />

casar, em oratório particular, as filhas <strong>de</strong> Antônio Cavalcanti com os cunhados <strong>de</strong><br />

João Fernan<strong>de</strong>s. Vosmecê compreen<strong>de</strong> <strong>de</strong>certo a gravida<strong>de</strong> disso! Pois uma<br />

<strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong>ssas, meu amigo, então é lá caçoada?<br />

Nesse ponto, batendo na testa, Gaspar Dias mudou bruscamente <strong>de</strong> assunto:<br />

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