Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
www.nead.unama.br<br />
Era um sujeitinho escaveirado, todo ossos, a cabeleira suja e gru<strong>de</strong>nta, sem<br />
camisa, as pantalonas rotas e empoeiradas.<br />
— Foi este que roubou a rês <strong>de</strong> Ippo Ceulen, não foi?<br />
— Parece que foi, respon<strong>de</strong>ram os soldados. Dizem que é este o ladrão...<br />
— Nesse caso, tornou João Blaar, nesse caso, antes da forca, vamos<br />
ensinar um pouco a este magriça.<br />
Fechando o sobrolho, com o seu forte vozeirão, o sanguinário flamengo<br />
gritou para o con<strong>de</strong>nado:<br />
— Estenda o braço!<br />
O rapazote esten<strong>de</strong>u o braço. João Blaar, ergueu a espada, <strong>de</strong>sferiu um<br />
golpe rápido, violentíssimo. O <strong>de</strong>sgraçado soltou um uivo: a mão saltara-lhe fora! O<br />
sangue, aos jorros, espirrava longe.<br />
Mas, João Blaar era um monstro; não se contentou com aquilo:<br />
— A outra mão!<br />
O pobre diabo, transido e bestificado, um pavor indizível arregalando-lhe os<br />
olhos, esten<strong>de</strong>u a outra mão, timidamente.<br />
João Blaar, com uma calma cínica, berrou furioso:<br />
— Estenda direito! Que medo é esse?<br />
O coitadinho espichou o braço um pouco mais. O flamengo brandiu novo<br />
golpe, fulminante: a outra mão saltou fora! O miserável urrou, alucinado <strong>de</strong> dor. João<br />
Blaar or<strong>de</strong>nou secamente aos mosqueteiros:<br />
— Enforquem agora!<br />
Com os tocos dos braços gotejando, vermelhos da sangueira, o con<strong>de</strong>nado<br />
caminhou às tontas para a forca. Subiu o estrado. A corda <strong>de</strong> cânhamo, com a<br />
laçada feita, tombou-lhe ao pescoço. Girou a roldana. O estrado fugiu-lhe<br />
bruscamente dos pés. Rangeram forte as traves do ma<strong>de</strong>irame. O corpo <strong>de</strong>sabou,<br />
pesado e solto...<br />
André Vidal arrepiou-se. Aquela cena bárbara causou-lhe engulhos. Não<br />
teve ânimo <strong>de</strong> assistir ao do último con<strong>de</strong>nado. Tocou <strong>de</strong> leve no ombro <strong>de</strong> Simão<br />
Borralho:<br />
— Vamos!<br />
Simão Borralho contemplava aquilo, estatelado, um suor <strong>de</strong> morte<br />
borbulhando-lhe na testa.<br />
— Que bandido, bradou com os <strong>de</strong>ntes rilhados, numa fúria. Mas <strong>de</strong>ixa<br />
estar, João Blaar! Deixa estar! Nós havemos ainda <strong>de</strong> nos encontrar na vida...<br />
57