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— Ah, meu senhor, fique sossegado! Enquanto houver coração aqui <strong>de</strong>ntro,<br />
há <strong>de</strong> ser para odiar <strong>de</strong> morte essa raça <strong>de</strong> heréticos! Vosmecê verá...<br />
André Vidal, diante daquele assomo, lisonjeou-se. Simão Borralho, sem<br />
arredar pé, continuou firme:<br />
— Não me man<strong>de</strong> embora, André Vidal! Eu quero ficar com Vosmecê o resto<br />
da vida. Quero ser um seu escravo. Quero seguir a Vosmecê por toda a parte como<br />
um cão <strong>de</strong> fila.<br />
André ouviu aquele oferecimento resoluto. Ficou embaraçado. Não sabia<br />
como <strong>de</strong>cidir. O soldado prosseguia suplicando:<br />
— Não me man<strong>de</strong> embora, André Vidal! Deixe-me ao seu lado! Deixe que eu<br />
acompanhe a Vosmecê pelo mundo!<br />
A idéia <strong>de</strong> que havia <strong>de</strong> carecer, <strong>de</strong>ntro em breve, <strong>de</strong> todas as ajudas, fez<br />
André pensar no caso. Fitou o moço <strong>de</strong> frente. Viu aquele rosto, aqueles modos<br />
<strong>de</strong>cididos e francos, aquela espontaneida<strong>de</strong> que brotava <strong>de</strong> todo ele:<br />
— Pois bem, exclamou, fique comigo, Eu levarei você para a Bahia.<br />
Forte júbilo iluminou a fisionomia do soldado:<br />
— Vosmecê não se há <strong>de</strong> arrepen<strong>de</strong>r!<br />
— Pois está resolvido, afirmou Vidal. Fique! E se quiser, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, venha daí<br />
comigo. Vamos ver o enforcamento dos seus companheiros...<br />
Saíram. Rumaram os dois para a casa <strong>de</strong> Luís Hintz. O holandês, velhote<br />
mercante <strong>de</strong> pimenta, recebeu-os com muito bom semblante:<br />
— Vosmecê quer ver o suplício? Ah, meu nobre senhor André Vidal, bem se<br />
vê que Vosmecê não é homem da terra. Isso é acontecimento aqui tão repetido, que<br />
já ninguém se abala <strong>de</strong> casa por tão pouco. É coisa <strong>de</strong> todo o dia! Mas já que assim<br />
Vosmecê o <strong>de</strong>seja, nada mais fácil: ali estão as janelas que dão para a Fortaleza. É<br />
só olhar por elas.<br />
André Vidal e Simão Borralho aproximaram-se das janelas. Diante <strong>de</strong>les, no<br />
pátio, que quadro chocante! A forca, armada no centro, acabava <strong>de</strong> funcionar:<br />
trepidava nela, ainda estrebuchando, o corpo <strong>de</strong> um homem. Era um dos<br />
con<strong>de</strong>nados da véspera. O infeliz, suspenso no ar, tinha os olhos escancarados,<br />
imensa língua <strong>de</strong> fora, mãos crispadas, pernas baloiçantes. Era lúgubre!<br />
Os soldados, a uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> João Blaar, acercaram-se <strong>de</strong>le, apalparam-no,<br />
verificaram se estava bem morto. Desataram <strong>de</strong>pois o laço da corda, meteram-no<br />
<strong>de</strong>ntro da re<strong>de</strong>. João Blaar, feito isso, gritou para o magote <strong>de</strong> mosqueteiros ao lado:<br />
— O outro!<br />
Os mosqueteiros empurraram o outro.<br />
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